Capítulo 4

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Exatamente como Meredith vivia temendo, Nathaniel entrou em casa às pressas e seguiu direto para o quarto. Ela ouviu seus passos e foi correndo ver o que acontecia. Ele parou em frente ao armário e arrancou as roupas da parte de cima. Ela o viu jogar o paletó, o colete e a camisa no chão. Sua pele era clara e, além de algumas cicatrizes antigas, havia hematomas recentes nas costas e outros já desaparecendo nos braços.

No que ele estava envolvido agora para estar se machucando assim?

— Troque-se, Meredith. Coloque um dos seus vestidos mais simples. Você tem uma nova missão essa noite — disse ele, enquanto colocava uma camisa limpa.

Ela havia mandado uma costureira local lhe fazer alguns vestidos de cambraia, que usava para acompanhá-lo nas caminhadas e em outras saídas que lhe exigiam fisicamente. O tecido, além de barato, era mais fácil de lavar, e ela não ficava com pena de estragá-lo.

— No que você se envolveu agora?

— Um jantar. Vou encontrar um informante.

— E eu vou como sua esposa? Então por que tenho de ir mal vestida se você está colocando roupas boas?

— Não, esse informante não faz parte dessa história. Mas as coisas acabaram se cruzando.

Ela abriu a porta do armário; um móvel alto, antigo e escuro. Começou a tirar sua roupa de dentro dele.

— E o que eu vou fazer?

— Vai ser a criada de confiança. Vai ter de fingir ser muito mais humilde.

— Só preciso servir e manter a boca fechada?

Ele terminou de se vestir e apareceu ao lado dela. Meredith se sobressaltou e cobriu-se com os braços, mas ainda usava a anágua de corpo inteiro.

— Não. Preste atenção em tudo. Se vir algo estranho, avise-me. Enquanto eu estiver na sala, você pode sair e olhar pelas janelas. Veja se nota alguém vigiando a casa. Se vir algo suspeito? Faça um sinal.

Ele remexeu nos vestidos dela e escolheu um verde que ela achava particularmente feio, mas que servia ao propósito. Meredith assentiu e o pegou, vestindo-o pelos braços. Havia cordões atrás e fechos na frente que a impediam de se aprontar tão rápido, então ele mesmo a ajudou. Não havia tempo para o pudor.

— Vamos para longe, pegue uma maleta de mão.

Meredith não estranhou quando ele trouxe os cavalos. Eles montaram e partiram a trote, passando para galope assim que chegaram à estrada. Quando morava em Londres, ela quase não montava, mas, desde que chegou ali, ele a fez andar a cavalo tantas vezes que agora se sentia segura e seguia junto a ele numa velocidade que jamais teria tentado. Em algum ponto do caminho, eles pararam numa estalagem, e a carruagem os esperava. Só quando estavam lá dentro conseguiram conversar novamente.

— Vou chamá-la de Ilma, não demore a atender. É um nome curto e fácil.

— E do que eu o chamo?

— Senhor. Não perca tempo com nomes. Mas essa noite não sou Hugh Spencer, sou apenas Nelson. Haverá outro homem lá. Não confio nele. Evite-o, mas não demonstre saber qualquer coisa sobre ele. Apenas sirva e seja sagaz; ele pode tentar assediá-la.

Meredith assentiu. Não seria sua primeira vez escapando das mãos de um assediador. Seu tio descuidado levava homens para o ambiente onde ela morava; ela já recebera propostas, e homens já tocaram suas saias para dar a entender que estavam interessados. Ela só guardava seus nomes e informava tudo em troca do seu pagamento. Achava-os tão desprezíveis quanto o tio.

A Desilusão do EspiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora