Parte Dois

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Estou plenamente ciente de que as pessoas nos olham agora.

E também percebo que a conversa animada dos velhinhos que ainda estavam acordados e se reuniam comigo na mesa parou totalmente, restando apenas o silêncio. Até mesmo aqueles que jogavam cartas ou tricotavam em um outro canto da área de lazer interna pararam de fazer o que estavam fazendo.

Dou uma boa olhada ao redor, inclinando o corpo para trás e ignorando, a princípio, a existência do menino parado à minha frente com uma expressão nada além de confusa.

Park Chan Wook e eu estudamos na mesma universidade, mas em cursos diferentes. Enquanto eu tomei o caminho das artes visuais – o mesmo que pretendia seguir no Brasil –, ele estuda atuação. Dizem que um dia será um ótimo ator, inclusive.

Além de estudarmos no mesmo local e, bom, eu – assim como metade da população feminina naquele local (e masculina também, não duvido) – ter uma grande queda por ele, não temos nenhum tipo de relação.

Ah, não sei se isso agrega algo mais ao meu status de fã/aluna que não é notada pelo prodígio, mas lembrei que também tenho seu número. Curiosamente, tenho seu número. Na verdade, propositalmente o tenho. Consegui essa preciosa informação com uma das minhas colegas de classe, uma pessoa tão excêntrica e maluca quanto possa imaginar, que simplesmente não pôde aceitar o fato de que eu estou nutrindo muito bem essa paixonite platônica e mantendo uma boa distância do garoto responsável por me fazer suspirar sem quaisquer avisos prévios.

Chan Wook é encantador, bom em tudo que faz e famoso por simplesmente ser a pessoa mais doce e gentil do mundo.

Por isso os suspiros. Acho que dá para compreender.

Eu também sou boa no que faço e, diga-se de passagem, sou muito simpática. Não estou tentando me diminuir perante sua existência. Eu apenas não consigo me aproximar e não sei por que diabos a Na Ri achou mesmo que me dar seu telefone sem que ele sequer soubesse iria adiantar de alguma coisa.

Aliás, eu estava quase cedendo às suas insistências e ligando hoje para o Chan Wook para me declarar. Em um surto eu pensei: vai que esse primeiro passo seja o início do mais novo plot de um dorama de sucesso, não é? Mas meu celular descarregou e contra esse fato nem mesmo a Na Ri pode protestar. Escapei das suas mensagens irritantes pelo resto da noite e da possibilidade de ligar ou mandar mensagem apenas para ela deixar de encher o saco.

O que eu diria, afinal? Provavelmente, começaria lhe desejando um bom dia. Gosto de pensar que essas duas palavras podem mudar o ânimo das pessoas. Não importa se é manhã, tarde ou noite, desejar um "bom dia" para as pessoas sempre é a alternativa que eu escolho. Mas, após isso, não faço a menor ideia do que faria. Eu deveria ser afobada? Apressada? Determinada? A resposta é: não sei.

Park Chan Wook é quase o que eu almejava encontrar aqui quando saí do aeroporto, tirando o fato de que ele não é o Lee Min Ho. Mas posso conviver com essa realidade.

De qualquer forma, não sei por que estou pensando nisso como se realmente considerasse a possibilidade.

Pisco os olhos, puxando-me – contra a vontade – de volta à realidade e constatando que ainda estou parecendo uma maluca histérica que acabou de encontrar um idol famoso.

Park Chan Wook não a conhece, Aline. Cale a boca e saia daí.

— D-Desculpa, eu... Eu vou limpar isso — me abaixo para catar os cacos do chão. Ele fica sem reação por alguns segundos, ainda com seus olhos grandes queimando, agora, minha nuca de uma forma que posso sentir mesmo sem estar lhe observando diretamente.

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