Spaces - R.L

O Passado Não Pode Ser Apagado

Se eu consigo descrever o que rolou na minha festa de boas vindas? Não. Queria me lembrar? Muito!
Acordei com uma dor de cabeça horrível, a música ainda ecoava nos meus ouvidos, realmente a Inglaterra me deixou mal acostumada com a alegria dos brasileiros. Levantei da cama e fui até a cozinha, encontrando meu irmão na frente da cafeteira.
- Bom dia Irmãozinho.
- Que susto! De onde você veio, capeta? - ele berrou e colocou a mão no coração.
- Geralmente a gente vem do inferno, mas dessa vez eu vim do quarto de hóspedes, até porque foi você que me botou lá né. - usei a ironia pra esconder o mau humor causado pela enxaqueca. - Cadê a Mah?
- Dormindo, Maethe fica destruída depois de qualquer festa. - ele serviu duas xícaras com café e me estendeu uma. - Tem leite na geladeira, que gosta de tomar misturado.
Sorri com carinho pela atenciosidade do meu irmão de lembrar disso, mesmo depois de tanto tempo separados. Depois que misturei o leite no café, fui até o sofá e me sentei ao lado dele.
-Então... Queria te pedir desculpa por ontem. Eu realmente não imaginei que a situação de vocês estava tão ruim e vi que você ficou bem chateada quando encontrou com ele. - Alan coçou a nuca e me encarou.
-Tá tudo bem, sei que não fez por mal, mas não quero falar do Rafael, por favor. - suspirei forte e pousei a xícara no joelho. - Bem que a gente podia sair hoje, né? Ir no Outback e depois pegar um cinema, só eu, você e a Mah, igual a gente fazia antes.
-Eu tenho que fazer live hoje e a Maethe também, mas que tal no sábado?
-Por mim fica ótimo, não quero atrapalhar vocês mais do que já tô. - respondi sem graça e brinquei com a ponta dosa cabelos.
-Não importa quanto tempo passe, sua insegurança nunca muda né? Para de palhaçada, você pode ficar aqui o quanto precisar, não nos atrapalha em nada. - Alan franziu o cenho e me puxou pra um abraço.
-Bom, mesmo assim, vou sair hoje. - levantei e fui em direção ao banheiro. - Boa live, amo você.
Tomei um banho demorado, deixando o vapor relaxar meus músculos. Me enrolei numa toalha e fui para o quarto de hóspedes, vesti minhas roupas e deitei na cama, pegando meu celular e mandando uma mensagem. Arrumei meu cabelo em um rabo de cavalo alto e fui para a porta.
-Tô saindo! Até mais tarde, amo vocês! - gritei e ouvi um "Também te amamos" como resposta e fui em direção do shopping.
Quando cheguei no shopping, fui em direção ao cinema, onde tinha combinado o ponto de encontro. Como tinha chegado meio cedo, resolvi sentar em um dos bancos e ver minhas redes sociais. Entrei no Twitter e vi que Maethe tinha me marcado numa foto, estávamos eu, ela e Alan, os dois abraçados e eu no meio deles erguendo uma garrafa de cerveja e dando meu melhor sorriso. Quem diria que depois de tanto tempo as pessoas ainda lembravam de mim.
- Que palhaçada. - falei rindo pro celular.
-Realmente. - uma voz concordou do meu lado.
Tomei um susto e olhei pro estanho, retraindo uma careta quando percebi quem era.
-Você não me dá uma folga? - resmunguei e levantei do banco.
-Não é como se eu tivesse planejado te encontrar aqui. - ele me seguiu e segurou meu braço. - Da pra gente conversar?
Encarei sua mão até que ele a tirou do meu braço e ajeitou a postura.
-O que você quer Rafael? Reviver o passado? Não temos nada pra conversar. - esbravejei.
-Bom, pelo jeito temos, já que você tá pirada aí e eu nem sei o porquê.
-Olha Rafael, a gente não tem nada pra conversar, seguimos nossos rumos, vivemos nossas vidas e é isso. - respirei fundo e troquei o peso de uma perna pra outra. - Eu não tô afim de falar sobre o que fizemos ou deixamos de fazer, nem de nada disso, não tem porque falar do passado. - enxerguei atrás dele uma silhueta e sorri. - Foi mal, mas eu tenho mais o que fazer.
Dei a volta nele e fui recebida de braços abertos em um abraço de urso.
-Meu Deus isso tudo é saudade? - ri um pouco sem ar pela força do abraço e me afastei um pouco, ajeitando o cabelo.
-Soph, eu passei anos sem te ver, não me culpe por não querer te largar.
-Matheus, eu não te culparia por isso nem em outras vidas. - o abracei mais uma vez e sorri quando senti seu hálito na minha orelha. - O que foi?
-Passam-se anos, mas ele não esquece você né? - ele perguntou, se referindo à Rafael. - Pelo jeito o passado não pode ser apagado tão facilmente né?