Para todo fim, um recomeço.

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Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte. Sigmund Freud.

22 de novembro de 2019. O dia que mudou o resto da minha vida.

Frank iero point of view:

    Já estava ficando tarde e ele não estava atendendo o telefone. O que me parece estupidez se você marca a porra de um jantar com o seu namorado, não? Porém ficar puto não mudaria os fatos: duas horas de atraso e ele não atende o telefone.

    Já estava inquieto e podia perceber o quanto estava deixando transparecer toda a minha insatisfação com os quatro copos vazios de wisky na minha frente. Porque eu estava bebendo? Esse é um dos milhares de questionamentos que pairavam em minha mente conturbada. Eu não bebo. Eu não gosto de beber. Não gosto de nada que me faça não ter o controle das coisas que faço, e talvez, deixar sair de dentro de mim uma versão  desagradável que tento não transparecer há basicamente 28 anos. Pensei enquanto dava mais um gole no meu whiskey on the rocks. - Se você vai beber, pelo menos que beba direito. - Falei murmurando entre os dentes, em mais uma reclamação inaudível para os seres humanos. E claro, minha mente já não estava funcionando como devia. Mas quem caralhos bebe whiskey com água de côco? Pensei enquanto olhava ao meu redor, no restaurante favorito dele. Italiano, claro. Havia algo irritantemente agradável naquele paladar infantil acompanhado de uma grande pré disposição à fazer merda. Não, espera. O que há de agradável em fazer merda? Porra, Frank. Você não está fazendo nenhum sentido nem nas coisas que você está pensando. 

    E sim, eu estou debatendo comigo mesmo mentalmente, esse sou eu. Eu faço isso. Todas as minhas atitudes ou ausência delas são regadas à diversas horas de contemplação ou minutos de silêncio. Tenho uma tendência à impulsividade quando não penso no que devo fazer. Além do mais, qual o lugar do mundo em que o ansioso perde a maior parte do seu tempo se não em sua própria cabeça?

    Percebi o garçom se aproximar com um sorriso forçado no rosto e as sobrancelhas quase encostando, ele estava com pena de mim, que maravilha. Peguei conta do restaurante de suas mãos, agradecendo com a cabeça enquanto retirava a minha carteira do bolso. "Três horas de atraso. Ele deve estar brincando comigo. O Ronald sabe o quanto eu não suporto atrasos." Pensei enquanto aguardava a palavra "aprovado" no visor da maquineta do cartão, que apareceu exatamente um segundo após o termino da minha frase mental. Agradeci o garçom e finalizei o meu drink, virando todo o restante do copo de uma só vez, sentindo queimar em minha garganta e na boca do estômago o álcool que eu estava ingerido.

    Peguei a porra da jaqueta que estava repousando no apoio da cadeira, vesti e saí do restaurante acendendo um cigarro, ignorando todas as palavras de reclamação e olhares de reprovação. Eu lhe falei, tenho tendência à impulsividade quando não penso no que estou fazendo. O Frank Anthony Iero em sua sobriedade saberia que é no mínimo rude acender um cigarro em um restaurante, mas foda-se, não é? Eu não tinha mais controle de minhas ações. - Eu odeio beber. Resmunguei baixinho enquanto caminhava pelas ruas da cidade. Sexta feira à noite, todas as pessoas estão nas para celebrar a chegada do fim de semana. Solteiros à procura de uma boca para beijar e uma cama macia para foder insanamente um desconhecido sem nenhuma espécie de arrependimento. Comprometidos, estão imersos em romance, absorvidos pelo costume do relacionamento ou sendo traídos, como eu estava.

    Sim. É óbvio que meu parceiro era infiel à mim, eu já sabia disso no mínimo ha quatro meses e me recusei a fazer algo a respeito. Como disse, você pode ficar absorvido pelo costume do relacionamento. Pela rotina de jantar fora uma vez por semana, pelo boquete depois do jantar, feito exatamente sempre da mesma forma pela falta de paciência ou pré disposição para inovar e ao sexo semanal meia boca que terminava sempre antes do que deveria. E aos milhares de filmes que assistem juntos quando não tem mais assunto entre vocês.

    Falando assim parece que eu estava vivendo um relacionamento merda, e talvez eu estivesse. Mas não era dessa forma que eu esperava que ele terminasse, pensei enquanto ouvia atentamente ao que uma voz estranha dizia do outro lado do telefone. "Sr. Iero, nós fizemos tudo o que pudemos, mas os ferimentos eram severos demais. E o Sr. Garcia não resistiu. Sr Iero? O Sr está me ouvindo?" Pude sentir um afago da voz que me dava a notícia de que o meu namorado, provavelmente depois de foder outra pessoa, havia falecido após um acidente de carro. Ele estava indo rápido demais, aparentemente. Ou mexendo no celular, não se sabe. O que a polícia soube me dizer é que ele havia passado no sinal vermelho e assim foi atingido em cheio por uma caminhonete 4x4 cinza fosco. Não sei porque me atentei ao fato de que o carro que ceifara a vida do meu namorado era cinza fosco, mas essa cor estava ecoando em minha mente. E continuaria nos próximos dias.

    Porra. Eu odeio beber. Pensei enquanto dava mais um gole na garrafa de whiskey Jack Daniels, porém o fato de não gostar não anulava o fato de que, lidar com o luto era extremamente mais fácil quando eu estava loucamente embriagado. Deitava na cama e tinha um sono limpo, sem sonhos com o rosto dele ou pesadelos com ele me culpando pela morte dele. Porque caralhos meu subconsciente acha que eu tenho culpa na morte dele eu jamais entenderei. Só sei que já tinha mais de três meses que eu havia enterrado o meu namorado, e a rotina era a mesma.

     De casa pro trabalho, do trabalho para casa, e beber até desmaiar alcoolizado no sofá e acordar com ressaca no outro dia, precisando tomar três xícaras de café preto puro e uma aspirina para conseguir defender um bando de criminoso filho da puta no tribunal. Eu sei. Eu estou falando muito palavrão e não estou fazendo sentido. E não. Essa história não é sobre luto e alcoolismo. E sobre amor. Fica ai que eu te conto mais sobre ele. Pequeno spoiler: 1,78 de altura, olhos castanhos esverdeados indefinidos e cabelos negros. De nome que mais parece uma melodia: Gerard Way. Foi ele quem me trouxe de volta à vida.

When you're gone...(EM HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora