apostas na madrugada

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— Juro por tudo que se você não parar de passar essa colher na panela, eu mato você, Mccoy. – Encarei Luke com um olhar fulminante conseguindo apenas um longo e duradouro barulho irritante e um sorriso cínico. – Eu vou matar seu irmão. – Avisei para minha amiga ao meu lado que deu de ombros sem tirar a atenção do filme.

— Ok, ok. Eu parei. – Assim que levantei para ir em direção a sua poltrona, ele largou a colher e levantou as mãos se rendendo.

O filme não havia marcado sequer 15 minutos completos e aquela já tinha sido a terceira ameaça de morte que eu tinha dito para ele. A primeira foi quando ele decidiu se jogar no sofá ao meu lado, enquanto Bailey estava na cozinha terminando a pipoca. Não parou de me encarar com um sorriso idiota até que eu ameaçasse acabar com todos os seus dentes. 

Não passaram nem 5 minutos, ele já estava mandando áudio para Logan falando sobre alguma festa, mais uma ameaça que ele ficaria sem suas cordas vocais se não calasse a boca. E aquela havia sido a última, ele sabia que eu odiava o barulho da colher arrastando no fundo da panela e não cansou até que, mais uma vez, eu gritasse com ele. 

Bailey, por outro lado, sequer olhou para o seu irmão. Segundo ela, o ideal era não dar atenção, mas sinceramente, eu tinha pouquíssimos pontos fracos. Meu pai sempre falava como eu tinha a frieza, provavelmente vinda do lado da família da mamãe, mas Luke conseguia me irritar ao ponto de eu querer quebrar seu carro com um taco de golfe. Obrigada, Taylor Swift, pela mais brilhante ideia que eu colocaria em prática assim que conseguisse um taco, sem que alguém questionasse o motivo. 

— Por que você não matou seu irmão quando estavam no útero da sua mãe? – Perguntei me jogando na poltrona do lado direito do sofá. Luke já tinha decidido que treze minutos já tinha sido o suficiente para ele ficar na mesma sala que nós duas.

— Impossibilidades biológicas de gêmeos bivitelinos. – Respondeu sem nenhuma emoção ainda prestando atenção na televisão. – Agora esquece isso e assiste o filme. – Disse, pela primeira vez, levando seu olhar até mim.

Quando decidi voltar para minha cidade natal para concluir o Ensino Médio, tive que me instalar no quarto da bagunça de Luke. Meus pais não podiam voltar por causa de seus respectivos empregos, e apesar de eles confiarem em mim o suficiente para saber que iria me cuidar bem sem eles ao redor, eu tive que vir morar na casa da minha amiga de infância. O que nunca pareceu uma ideia tão ruim até acordar todas as manhãs e ter que gritar para poder usar o banheiro.

Um ano foi necessário para que eu conseguisse um emprego de meio período como professora de dança na primeira academia que frequentei. As notas altas eram o combinado para que eu não tivesse que voltar para o interior de Nova Jersey. Eu estava me saindo bem no meu plano. Aquele seria meu último ano do Ensino Médio e tudo que eu precisava era manter as notas altas e ganhar créditos para conseguir minha bolsa na Universidade de Dança em Nova Iorque. Não podia mentir para ninguém que já tinha, pelo menos, dez contatos de pequenos apartamentos para alugar circulados no jornal. 

Tudo estava perfeitamente planejado e por mais que Bailey achasse que as vezes eu exagerava com tanto planejamento ou Mary achava enlouquecedor minha agenda de compromissos programados para daqui alguns meses, eu não poderia ser alguém diferente daquilo. Nada podia dar errado e não daria. Festas, amor, namoro, garotos ou qualquer coisa desse tipo ficaria para depois. Pelo menos, a convivência com Luke me ensinou que minha paciência é muito mais curta com meninos da minha idade. Para ser bem sincera, eu já tinha me esquecido de como era conversar com alguém do sexo oposto sem querer revirar meus olhos ou bocejar de impaciência. E Luke Mccoy tinha uma grande parcela de culpa nisso.

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