Capítulo 2

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O capítulo será retirado dia 20 de dezembro

Respiro fundo antes de abrir a porta do apartamento e enfrentar a mesma situação de sempre. Pelo horário, sei que meu pai não está em casa, já é bem tarde e o trabalho na caldeiraria começa cedo, mas isso não impedirá minha mãe de atormentar meu juízo.

Giro a maçaneta com o máximo de cuidado, evito qualquer barulho para que talvez consiga passar despercebida pelo curto caminho até meu quarto. Tiro a bota e penduro o casaco no bengaleiro, cautelosa vou sentido o quarto, entretanto, a sorte não me acompanha hoje e topo com minha mãe na sala.

— Isso são horas, Katrina Kolyavna? — Sua atenção ainda está voltada para as roupas que dobra em pilhas sobre o sofá.

Ela não move um músculo sequer para me encarar, mas o timbre da sua voz denota toda a irritação por eu ter passado mais uma noite fora de casa. Não conversamos sobre minhas saídas, ela não pergunta aonde fui, com quem estive, só faz o mesmo discurso de sempre, que já decorei, pois o repete desde que completei dezoito anos e passei a comandar minha vida.

— Só saí para me divertir um pouco, mãe. Nada de mais. — Continuo rumo ao quarto.

— Não sei por que Deus me castiga com uma filha tão... tão...

— Tão o que, mãe? — Viro meu corpo em sua direção e ela se levanta, agora atenta a mim. — Viva? Independente? Liberta da mentalidade pequena que você foi criada?

— Desregrada! Isso, sim! — Ela aponta o dedo para mim e rolo os olhos, pronta para ouvir a mesma reprimenda. — Seu comportamento não é normal, Katrina. Chega bêbada, sai quase todos os dias à noite, age como se fosse uma qualquer.

— Mãe, por favor. Sou adulta e tenho uma vida normal. Já cansei de dizer que trabalho à noite, como recepcionista em festas. Sacha também trabalha e a senhora não fala tudo isso dela.

— É diferente e sabe disso. Sacha se desdobra para livrar a família da dívida com aquele agiota, sustenta a casa e tem que lidar com meu irmão, que parece estar cada vez mais perdido no vício.

— Graças a Deus que o pai não é assim e posso trabalhar para meu sustento somente.

— Seu pai sentiria vergonha de você se a visse chegar assim. Age como se fosse uma blyadischa!

— Bom... talvez eu seja uma. — Sorrio de lado, com deboche.

Ela fecha a distância entre nós e acerta meu rosto com um tapa que chega a virar meu pescoço. Levo as mãos de imediato ao lugar, as lágrimas inundam minha visão, o que me faz lutar para não as derramar.

— Filha... eu... — Recuo um passo quando tenta me tocar.

A raiva invade meu estado, somado à indignação de apanhar depois de adulta, encaro seu olhar arrependido, entretanto, já é tarde. Ações e palavras são como vento, não voltam jamais, só passam por você como brisa leve ou vendaval destruidor.

Infelizmente, no meu caso, o vendaval costuma ser muito mais frequente.

Indignada, volto a caminhar para o quarto e bato a porta assim que estou segura dentro dele. As lágrimas caem quando estou sozinha, os soluços acompanham minha queda ao chão e solto tudo que contive em sua frente.

Jamais demonstraria fraqueza, não espero nem ser compreendida, minhas escolhas dizem respeito a mim e não sou obrigada a enquadrar minha vida no modelo de perfeição que sempre me impôs.

Desde pequena ouço que sou impetuosa demais, a família, assim como amigos próximos mencionavam que daria trabalho quando crescesse e, na ânsia de provar o contrário para os outros, era obrigada a frequentar a igreja, ficar trancada em casa a maior parte do tempo e manter uma disciplina rígida na conduta.

[Degustação] Destinada ao CEO ImoralOnde histórias criam vida. Descubra agora