Jungkook havia completado vinte anos recentemente e não se lembrava de ter grandes aspirações durante sua vida.
Quando era pequeno, gostava de dizer que, ao se tornar adulto, seria professor, porque adorava as tias da escola e queria ficar na companhia delas para sempre, mas mudou de ideia assim que uma delas começou a lhe dar beliscões toda vez que se recusava a fazer os deveres de sala. Ele mudou de escola e de profissão, decidindo que queria ser veterinário após ganhar um cachorrinho dos pais. Jungkook era mais apegado ao cão do que a própria irmã mais velha, levava o animal para cima e para baixo e dormia com ele, o que fez a dor da perda ser maior que a do próprio garoto. Anos depois, quis ser médico e, ao assistir uma série investigativa com a mãe, desejou ser um policial por muito tempo. No meio do ensino médio, descobriu que, embora o trabalho da polícia fosse nobre e respeitoso, não era assim que a maioria das pessoas que carregavam o distintivo agiam, então descartou a ideia, mesmo ainda sendo um espectador assíduo de romances policiais.
O último ano passou rastejando para o Jeon, que alternava seu tempo entre encontros, jogos e testes de aptidão, os quais prometiam ser a Luz no fim do túnel para quem os fazia. Era besteira e Jungkook sabia que não deveria ficar chateado ao não se ver seguindo nenhuma das profissões apontadas, mas ele não conseguia se conter, porque, de repente, todos sabiam o que fazer, já tinham planos e os futuros traçados e Jungkook não queria ficar para trás.
Por sorte, o garoto tinha uma mãe compreensiva e que alegara ter passado o mesmo que o filho, não pressionando-o a fazer nada que ele não quisesse e afirmando quantas vezes fosse preciso que sim, estava tudo bem e que cada um possuía seu tempo de descoberta.
Então, no seu aniversário de dezenove anos, ganhou uma câmera Polaroid. Jungkook gostava de fazer de Taehyung e Jiwoo, sua irmã, seus modelos, tirando fotos dos mesmos sorrindo distraídos, de costas e perfil; de flores, do nascer do Sol e pássaros em cima de muros pichados. O problema era que o filme da câmera acabava rápido, além de ser caro demais e o dinheirinho que juntava fazendo pulseiras com Hoseok não chegava nem perto do valor necessário. Daí, o Jeon decidiu tirar fotos apenas com o celular e aprendeu a editar. Assistia tutoriais, vídeos de edições e tentava fazer igual até ficar satisfeito, o que rendia horas de sono perdidas e broncas da mãe, porém, a sensação de euforia ao assistir o vídeo pronto era incrível demais para o Jeon se importar.
Ele não postava os vídeos em lugar nenhum por vergonha e por serem muito pessoais, como o que gravara da irmã cozinhando, ou o de Hoseok fumando tranquilamente nos fundos de casa à noite... o máximo que fazia era mostrar aos amigos, que sempre o enchiam de elogios e diziam que ele deveria trabalhar com isso. E talvez, só talvez, Jungkook estivesse se achando um completo bobo por considerar a ideia apenas agora, depois de tanto tempo.
Ele suspirou e passou a mão no rosto cansado enquanto terminava de editar um vídeo que fizera de Namjoon tatuando uma aranha muito realista no ombro de uma moça, a carcaça do animal tendo toda uma aparência felpuda e aveludada na pele leitosa.
Amava, de verdade, ver os amigos tatuando, concentrados nos traços mínimos e delicácios que saiam da máquina junto daquele seu som tão característico do estúdio, que até já virara costumeiro para si. Vivia indo lá, e era engraçado porque, quando chegava no balcão, ninguém lhe perguntava o porquê estava ali, apenas colocavam uma música de seu gosto e conversavam sobre qualquer coisa, desde a série com temática lgbt nova até Taehyung ter sei lá, sujado todo o piso com tinta cara.
Ver e ter gravado o Kim pintando a pele alheia com tanto esmero trazia-lhe tranquilidão, mesmo que naquele instante o calor estivesse quase o exasperando, os olhos viajando ao relógio minimalista da recepção a todo momento pois, tendo Hoseok tido que iria sair por um segundo apenas comprar uns doces na vendinha em frente ao estúdio, Jungkook ficara como responsável pelo lugar. E fazia cerca de vinte minutos que o moreno sumira pela porta e não entrara mais, deixando o Jeon prestes a entrar em pânico como crianças que esperam os pais pegarem o último e quase esquecido ítem do supermercado, e alguns minutos se passam e passam, até que o atendente do local de repente já está perguntando qual será a forma de pagamento, e o mundo todo parece derreter igual sorvete enquanto um sorriso sem graça é dado. O atendente seria, com toda a certeza, os talvez clientes que passavam pela porta de vidro e indicavam que iriam entrar no estabelecimento e pedir alguma informação à Jeon que ele não saberia dar.
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jewels
FanfictionJeon Jungkook tem apenas vinte anos, mas é dono de uma extensa lista de desilusões amorosas - ou de pés na bunda, como os amigos preferem chamar. O garoto não entende sua má sorte no amor, afinal, ele dá tudo de si sempre que se relaciona com alguém...