02 - Regresso a Nurmengard

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Podiam passar 10, 20, 30 ou até talvez 100 anos que a atmosfera de Nurmengard n ia mudar. Resistente à evolução humana o edifício piramidal continuava exatamente igual à última vez que Dumbledore tinha lá entrado. E imagine-se só. Passaram-se quase 45 anos. Em 45 anos muita coisa mudou, as trevas passaram para as mãos de outro bruxo e certamente a comunidade bruxa evoluiu e se reconstruiu. No entanto no coração de Dumbledore tudo continuava igual. Tudo podia ter mudado, mas nada mudou.

Na chegada a Nurmengard Dumbledore foi recebido pelo guarda do portão. O pobre coitado n estava pronto para receber o diretor e ninguém sabia o que o homem do século fazia naquela prisão antiga e imunda.  Mesmo assim guiou o velho pelos corredores frios e quando ele mencionou o nome do prisioneiro que desejava visitar o homem não demorou mais de 2 segundos a esconder a sua expressão de surpresa.
A cela de Gelert Grindelwald era afastada de todas as outras. Mesmo que depois de tantos anos preso o bruxo já não tivesse sequer forças para se manter em pé os rumores sobre o que ele podia tentar fazer para escapar circulavam entre guardas e prisioneiros. Ninguém gostava daquela ala da prisão e todos a evitavam. O próprio guarda responsável por Dumbledore praticamente correu do portão de metal e deixou o diretor sozinho.
Dumbledore olhou exitante para a grande passagem de metal. Será que mesmo depois de todos estes anos Grindelwald ainda se lembraria dele? Será que Grindelwald estaria chateado por o diretor nunca o ter visitado todos estes anos?
Dumbledore era um homem racional e com uma mente bem organizada, pelo menos do lado lógico porque aquilo a que os trouxas chamam inteligência emocional não era um dos seus grandes talentos. Sempre sentira dificuldades em entender as suas próprias emoções e muitas vezes via-se perdido nos motivos que levavam o ser humano a tomar certas decisões.
Mas neste dia e nesta hora tinha decidido deixar que o seu lado racional o guiasse. Pelo menos até abrir a porta, depois quem sabe o que aconteceria.
O ranger do pedaço de metal foi ensurdecedor como se em 50 anos nunca ninguém se tivesse dado ao trabalho de abrir a velha porta. E foi mais ou menos isso que aconteceu.
A primeira impressão do cubículo que Dumbledore teve foi que era um sítio péssimo para ler. A única luz existente era uma frecha pela qual o ar circulava. De resto toda a construção estava mergulhada num breu sem fim. Tanto que até os seus olhos se adaptarem à escuridão Dumbledore não tinha reparado no olhar do prisioneiro cravado em si.
A pessoa que Dumbledore viu encolhida no canto da sala estava longe de ser qualquer um dos Grindelwald que Dumbledore conhecera na sua longa vida. A figura pálida, os olhos vagos e encovados e o cabelo ralo constratavam em tudo com o homem saudável, de olhar penetrante e cabelos brancos como a neve que Dumbledore um dia conhecera. N pode deixar de sentir culpa. Fora Dumbledore de uma maneira ou outra que assassinara essa versão de Gelert.
O homem ficou-se pelo olhar mesmo e não dirigiu uma palavra ao diretor. Dumbledore estava certo. Grindelwald estava chateado, realmente chateado por nunca ter sido visitado.
Durante os primeiros tempos mantera-se lúcido, não só porque precisava fugir dali como também porque recordava Albus todos os dias. Como as recordações que tinha do seu amado não eram propriamente felizes os dementors nunca conseguiram tirar de si as recordações do diretor. Uma triste realidade.
Por mais que Grindelwald amasse Dumbledore não via os seus tempos juntos como felizes.
Mas depois foi cedendo cada vez mais à escuridão de Askaban e deixou de se preocupar em tentar fugir. As recordações de Albus apresentavam o seu rosto como algo difuso e envelhecido mas a essência do sentimento sempre permanecera lá e naquele momento, quando o homem entrou na sala Grindelwald foi arrebatado com lembranças. É verdade que o homem envelhecera e muito mas os olhos azuis curiosos e os óculos meia lua permaneciam os mesmos. Esperou até que ele notasse a sua presença mas quando a notou não disse uma palavra. Se esperava que Grindelwald tomasse a redia da situação bem que podia apodrecer ali na cela. Gelert Grindelwald não cedia duas vezes. Cedera uma vez em batalha mas não cederia de novo.
Desconfortável com o silêncio Albus decidiu tomar as rédeas da situação. Tinha ido ali com o objetivo de tentar falar com o homem uma última vez. Tempos escuros viriam e Dumbledore não sabia se aguentaria mais uma batalha.
- Grindelwald eu...
- Dumbledore se veio aqui me falar coisas lamechas porque pensa que não sobreviverá ao renascimento de Voldemort melhor nem começar.
- Perdoe um pobre velho por tentar consertar o passado mesmo sabendo que isso não é possível.

Grindelwald não respondeu. Não estava nas suas intenções ficar sentido ou algo do gênero. Já não tinha lucidez mental sentir emoções tão fortes mas Dumbledore, com aquelas simples e bonitas palavras provocara algum pequeno sentimento na sua mente destruída.

- Eu realmente peço desculpa. Devia ter vindo antes mas você sabe como eu sou. Um cobarde.

Grindelwald nada falou novamente. Dumbledore era realmente um cobarde. Por mais conhecimentos que ele tenha as atitudes dele pendiam sempre para o lado racional e mais fácil. Mesmo que negando até a morte Grindelwald se apaixonara em tempos por esse Dumbledore indiferente às pequenas coisas.
De certo que os anos de existência trouxeram aos dois homens sabedoria de espírito para saberem como lidar com o passado mas o rancor não desaparecera.

- Nada mudou como posso ver. O mesmo Albus de sempre, arrependido das decisões que toma. - ver o seu nome saindo daquela maneira da boca de Grindelwald era estranho e familiar ao mesmo tempo. Trazia uma mistura de sensações que o diretor não saberia interpretar. - O tempo pode mudar muita coisa mas não muda a forma de pensar de algumas pessoas.

Durante os próximos minutos ninguém disse uma palavra. O olho branco de Grindelwald era agora visível graças a pequena frecha de luz mas até o seu olho parecia mais apagado. Sem vida e cansado.
Dumbledore estava desconfortavelmente em pé enquanto o companheiro permanecia aninhado num canto do cubículo. O ambiente estava mais leve que anteriormente mas ainda muito diferente do ambiente que custumava rondar Grindelwald e Dumbledore.

- Mesmo que todo o mundo ache que não, Voldemort me dá medo. Ele não conhece nem respeita a natureza e ordem natural das coisas. Ele não dominará uma nação inteira pelas palavras e sim pelas ações.

Grindelwald ficou refletindo sobre as palavras repentinas de Dumbledore. Era verdade, Grindelwald construira todo um império de seguidores com base na sua capaciade de orador e de manipulação. Voldemort não, tudo o que ele via era poder e talvez seria por isso que o seu império tremia tanto. As pessoas não seguiam Voldemort por acreditarem nas suas ideias mas sim por medo das suas ações. Certamente na primeira oportunidade de algo melhor os seus comensais desertariam.

- A ordem natural da vida vive e evoluiu com uma sociedade. Se Voldemort chegar ao poder e quiser que todos os mestiços e nascidos trouxas sejam assassinados ao nascimento assim será.

Dumbledore acenou em concordância. Grindelwald tinha razão. Na verdade Grindelwald sempre tinha razão e Dumbledore ficava um pouco mais descansado a perceber que o prisioneiro tomara de novo a posição de conselheiro de Dumbledore para si.

Ao longo das restantes duas horas de visita Dumbledore e Grindelwald falaram e trocaram olhares. Nunca se aproximando o suficiente da vida amorosa para que algo pudesse mudar nos seus subconscientes se ligasse.

Knock knock

- Senhor Dumbledore precisam de si em hogwarts - a voz do mesmo guarda que o levara até ali soava do outro lado da porta.

Dumbledore quis poder ficar mais e cancelar todos os compromissos mas as coisas não funcionavam bem assim. Não podia simplesmente largar tudo. Nao agora, não no meio da guerra quando o menino Harry precisava de si.

Grindelwald se sentia confuso. Algo estava despertando em si. A sensação era tão antiga que nem a reconhecia, seria desejo? Saudade? Tristeza?

Dumbledore se apressou para a saída, não sem antes lançar um último olhar para o homem no canto do cubículo e apesar de tudo tentar gravar as suas feições trágicas na sua mente. Para depois talvez as colocar na penseira. 

Mas inesperadamente e talvez o primeiro movimento impensado que Grindelwald fazia em muito tempo este o puxou pelo braço. Dumbledore não teve nem tempo para reagir. O seu rosto estava próximo do de Grindelwald como se fossem adolescentes ingénuos e cheios de ideais de novo.

Dumbledore não fez nada. Apenas premaneceu onde estava e olhou nos olhos de Grindelwald pela última vez. Antes de se afastarem Grindelwald tomou coragem e permitiu que a sensação desconhecida o tomasse. Deixou um longo selar nos lábios de Albus e agora sabia, a sensação que sentira na verdade fora paixão. Doce e jovem paixão.

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Aqui está. A conclusão desta história perfeita.
Tenho orgulho em mostrar a evolução que ocorreu entre o primeiro capítulo e este.
Este é o final que eu penso que os dois merecem.

Ps: por favor façam uma releitura no primeiro capítulo. Eu reescrevi o capítulo 1 tbm.

O fim da paixão[grindeldore]Onde histórias criam vida. Descubra agora