Poema Sem Título

21 5 1
                                    

Escrito por Dinho Braz
User: Dinho_Braz

A data trazia consigo o frio proeminente, que honestamente dificultava ainda mais as madrugadas em sua condição indecente

Contudo o menino estava preenchido de alegria, algo relacionado a beleza da neve e ao povo festejando a véspera, em total e completa harmonia

De todos que caminhavam nas sujas calçadas de cimento de lá pra cá, a pequena alma geralmente estacionada na viela, era a única que desconhecia o calor de um lar

"Em breve será o aniversário de Cristo", iluminado repetia, pro seu fiel escudeiro, o vira-latas magricelo que o acompanhava saltitante dia após dia

Famintos e cientes do risco, como velhos companheiros caçavam no anoitecer as sobras que os lojistas do bairro chamavam de lixo

No revirar sonoro do enferrujado latão, dançaram ouvindo a música que anunciavam a fatura numa linda canção

"Veja, peludo. Este ano deixaram para nós até mesmo frango assado", balançando a calda a reposta foi data pelo animal, especialmente agitado

"Saiam daqui, trombadinhas nojentos", senhor Wall berrou lançando a vassoura que os afugentou de volta ao relento

No mundo injusto e por vezes também cruel, abraçado ao amigo, antecedendo o adormecer o pedido foi feito a alguém importante que vivia no céu

Nada de luxos e tão pouco soberba, tudo que seu coração desejava era ter uma família, e três refeições postas sobre a mesa

O sono conturbado por variados e indescritíveis odores ocasionou nos estômagos vazios e cansados as comuns e rotineiras dores

Com o raiar do sol a energia se renovou, ansioso em seguir atrás de esmolas, o rapazinho se levantou

"Vamos, rapaz." Animado, se virando para o canto fazia a chamado, pra qual o gemido enfraquecido deixou seu coração despedaçado

Abraçando o cãozinho, não demorou e percebeu, dobrando os joelhos o olhar outrora feliz, naquele momento entristeceu

Em questão de minutos, logo estaria de fato sozinho, quando a voz carinhosa de algum jeito lhe ofertou outro caminho

"Qual o seu nome?", uma doce freira perguntou, distante no momento, ao lamentar a recente partida, o garoto apenas se calou

A promessa feita por ela realmente foi concretizada, no orfanato passou o natal cercado por gente gentil que enfim o amava

E nas noites em oração, diferente das demais crianças, não rezava por adoção, embaixo do travesseiro guardava o que queria, o pingente da coleira que ao menos nos sonhos os melhores amigos unia.

Concurso Poemas de Natal | FECHADOOnde histórias criam vida. Descubra agora