Quarenta dias para o Natal
Era mais um dia comum para mim. Andava pela rua com medo de tudo e de todos. Incrível como em menos de um ano tudo havia mudado entre as pessoas.
Antes era comum nos deparamos com cenas de afetos. Pessoas reencontrando amigos trocando beijos e abraços. Hoje, isso não é mais aconselhável e quando nos deparamos com cenas do tipo, olhamos com certo estranhamento, já que uma das recomendações é manter o distanciamento social.
Às dezenove horas, eu cheguei em casa. Eu trabalho em uma loja de roupas em um shopping da cidade. Mesmo com tudo estando um caos, eu não podia me dar o luxo de não trabalhar. Pois ou trabalhava e corria riscos ou teria que voltar para a casa de meus pais no interior deixando de lado o meu sonho de ter independência para viver sem ninguém a minha volta achando que tem o direito de se meter em minha vida. Não estou me referindo aos meus pais, esses sabem da minha sexualidade e aceitam. Mas sim, dos parentes que acham que podem ditar regras para os outros.
Fazia dois anos que eu morava em Vitória da Conquista. Sempre foi um sonho morar em uma cidade maior, onde eu poderia ser quem eu era sem a perturbação dos parentes.
Cursava licenciatura em Matemática no turno da noite. Agora estávamos estudando à distância, isso reduziu e muito as minhas noites de sono.
Passei pela porta de meu apartamento. Coloquei os meus tênis ao lado da porta e minha mochila também.
Em seguida, corri imediatamente para o banheiro.
Quando já usava uma roupa confortável, sentei-me no sofá e encarei o porta-retratos que tinha sobre o rack. Seria a primeira vez que iria passar o Natal e o Ano Novo afastada dos meus pais.
Peguei o objeto e fiquem encarando a imagem. Eu amava muito painho e mainha. Sentia-me sortuda por ter pais compreensivos como eles.
De repente, o meu celular começou a tocar anunciando uma nova mensagem.
— Droga, eu ainda não o higienizei – disse já pensando no quanto estava sendo chata toda essa rotina.
Após fazer a tarefa, eu me sentei no sofá com o aparelho na mão. Entre as notificações tinha uma mensagem do meu melhor amigo, Caio.
"Carol, os outros e eu estamos pensando em jogar umas partidas de Among às 20 horas. Você está disponível hoje?"
Para quem não sabe, Among Us é um jogo online em que há as salas com no máximo 10 jogadores. Entre eles há os tripulantes e os impostores. O objetivo dos tripulantes é terminar as Tasks, que são as tarefas na nave, ou identificar os impostores, que são os que sabotam a nave e matam os tripulantes ao longo do jogo.
Após ler a mensagem, eu olhei para a bateria do meu celular. Estava em 20%.
"Caio, eu não vou poder. Meu celular tá em 20% a bateria e tenho uma lista de exercícios para entregar hoje"
"Ah... Que pena, Carol. Você é sempre a nossa melhor tripulante."
"Mande o código da sala depois. Quando eu terminar aqui, eu tento entrar. Vocês deve jogar até tarde hoje, já que é sexta."
"Passo sim. Espero que dê para você aparecer. Vou aguardar. Bom trabalho aí."
Despedi de Caio e fui direto colocar o celular na tomada. Queria poder estar de boa como meus amigos, porém, entre a turma, eu era a que mais estava sofrendo com a vida de universitária.
Após jantar as coisas nada saudáveis de sempre, eu fui fazer o meu trabalho de Cálculo. Terminei já bem tarde, mas deu para entregar no horário marcado.
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Meu melhor presente de natal - CONCLUÍDA
RomanceUma garota começou a fazer parte do grupo dos amigos de Carol no Whatsapp. Mesmo o seu melhor amigo elogiando a nova integrante, Carol não fez questão de conhecê-la por causa de uma discussão em um jogo. Porém um encontro no prédio e outras discussõ...