Valen e Agatha arrumam a cozinha, enquanto verifico junto com Elena e Chris os quartos de hospedes, para vermos se não falta nada. Dou uma passada no quarto de cada um e confiro se eles também deixaram suas coisas arrumadas. Chris corre para o seu quarto e arruma o travesseiro, enfiando o controle do vídeo game embaixo dele.
— Se a mamãe ver que você trouxe o jogo para cá, ela vai ficar furiosa, sabe disso, não sabe? – Aviso, colocando a mão direita sobre o seu ombro.
Observo o rapaz tirar o controle que tinha escondido, o arruma em cima do aparelho, logo abaixo da televisão e volta para colocar o travesseiro no lugar novamente.
— Muito bem, filho. Sabemos que a mamãe gosta das coisas em seu devido lugar, então porque já não deixarmos tudo certinho, não é mesmo? Ela está lá embaixo em uma baita correria, para deixar tudo pronto para a nossa ceia, nada mais justo que mimá-la um pouco, certo?
Os dois assentem e abraçam-me pela cintura.
— Desejo ter alguém um dia como o senhor, papai. – Elena diz, erguendo os olhos negros para mim, brilhantes e emocionados.
— E eu desejo ser assim para alguém um dia, papai. – Chris puxa a barra da minha camisa e eu os envolvo em um abraço forte e carinhoso.
As vezes nós não temos noção do quanto somos espelho para os nossos filhos, nem o quanto eles buscam de forma contínua o caminho em que devem seguir. Através dos nossos gestos e atitudes.
— Tenho certeza de que vocês serão maravilhosos para os seus futuros parceiros, meus filhos. A mamãe e eu estamos preparando-os para esse momento.
— Chegueeeeeei! – Ouvimos Breen cantarolar no andar debaixo.
Os dois descem apressados, para verem a tia.
Sigo logo atrás e contemplo o momento em que ela os envolve em um abraço saudoso, segurando várias sacolas, Trevor tenta tirar as sacolas da mão da mãe, mas ela o agarra, para um abraço também.
Breen recebeu a notícia de que não poderia ser mãe, algum tempo antes de se casar com Symon, o médico que cuidou dela e da Valen após todo aquele acontecimento fatídico, levando-os a uma busca constante por adotarem uma criança.
Trevor foi encontrado vagando todo sujo e ferido, em frente ao hospital em que o casal trabalha, ele havia sido abandonado, após ter apanhado do padrasto, até desmaiar, Symon e ela o levaram para casa e cuidaram dele, chamaram a assistente social e disseram que queriam adotar o menino.
Por ter mais de onze anos, ele não era um potencial para adoção espontânea, se fosse levado ao orfanato, por isso, a tal assistente permitiu que ele ficasse, após o casal assinar todos os papeis para a adoção definitiva.
Foi amor à primeira vista.
Como ela sempre faz questão de contar.
Assim como, não há ninguém nesse mundo que diga que Trevor não é seu filho. E vice-versa. Os três possuem uma ligação de amor e cuidado que é lindo de se ver.
Hoje aos 21 anos, ele é o orgulho do Symon e da Breen, cursando medicina, ele diz que quer seguir o exemplo dos pais e ajudar como puder as crianças que necessitam de cuidados.
Não é à toa que o garoto trabalha em seus dias de folga, em uma ONG, que ajuda famílias carentes e de baixa renda, prestando serviços básicos a comunidade. Ele tem influenciado os meus filhos e até ao Thom, para frequentarem o lugar onde ele ajuda, nos finais de semana.
Se eu fosse escolher o meu futuro genro, diria que Trevor seria mais do que bem-vindo.
Além de ser um exemplo de filho e ser humano, ele é um exemplo de cristão e adorador.
O pacote completo.
— Tio Chris! – Trevor desvencilha-se da mãe e vem até mim, puxando-me para um abraço camarada, com direito a tapinhas nas costas.
— Como você está, filho? – Encaro os seus olhos verdes como esmeralda e segura sua nuca, vendo ele sorrir.
— Bem, graças a Deus. A minha mãe não sabe a hora de parar, não é mesmo?
Nego, rindo.
— Os dois adoram a tia. Não se preocupe.
Vejo de soslaio Valen cumprimentar o Symon e tirar a tia que ainda sufocava os sobrinhos em seu abraço.
— Como está indo na ONG?
— Muito bem, com a graça de Deus e com a sua ajuda, tio. Obrigado por sua doação, vai ajudar milhares de pessoas. – Trevor coloca a mão sobre o meu ombro e constato que o garoto franzino de antes, agora está da minha altura, com um porte atlético e sarado.
— Olhando para você assim de perto, acho que poderia me apaixonar, seu eu fosse uma garota, é claro. – Brinco, vendo seu rosto bronzeado corar.
— Tio! Que horror! O senhor cheio de músculos e barba, ai credo!
— O que foi? Eu disse, se fosse uma garota. – Indago como quem não quer nada, e vejo seus olhos irem de encontro a Ellie, por uma breve fração de segundos.
O que me faz alargar o sorriso.
Como eu já previa.
Coração de pai não engana, nem o de futuro sogro.
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O Natal da Fera [CONCLUÍDA]
Short StoryConto concluído ✔ Valen e Christian estão de volta, após 18 anos de casados, com os gêmeos entrando na fase adulta, prontos para contarem um pouco mais sobre o Natal da nossa Fera. INÍCIO DAS POSTAGENS: 20/12/20