Eu me amo!

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— Eu me amo. — As palavras queimaram meus lábios.

Pedro fixou os olhos nos meus. Eu estava apoiada no balcão da cozinha e tinha acabado de encher outra taça.

— É mesmo? Eu posso ter me enganado — ele respondeu, irreverente.

— Você acha que me conhece? Depois de apenas alguns dias? — Franzi as sobrancelhas.

Ele virou a cabeça e olhou para mim. Aquele olhar dizia tudo. Frustração, teimosia e algo mais.

— Acho que a conheço melhor do que você mesma ou, pelo menos, mais do que você admitiria para si mesma. — Ele se aproximou e segurou meu rosto.

Afastei suas mãos.

— Ah, é? Só porque é um “artista”, você acha que tem algum tipo de habilidade especial para ler as pessoas? Se for esse o caso, a sua magia não está com nada, francês, porque a última pessoa que eu quero por perto agora é você! — Bati minha taça no balcão e o vinho espirrou para todos os lados. — Merda! — Manquei até as toalhas de papel e puxei o rolo, pegando uma quantidade absurda para o tantinho de vinho derramado.

— Deixe que eu faço isso. — Pedro tentou pegar o papel toalha. Mais uma vez, eu o empurrei para longe.

— Pode deixar. Eu limpei a minha bagunça e a de todos os outros a minha vida toda. Posso lidar com um pouco de vinho derramado. — Funguei, segurando as malditas emoções que estavam a ponto de transbordar. Eu não me permitiria desabar agora.

Pedro se afastou.

— Tudo bem, tudo bem. Je suis désolé. Desculpe — ele repetiu.

Eu sabia que estava sendo uma cretina. Não era culpa dele. Pedro não fizera nada que justificasse tratá-lo mal. Assim que limpei a sujeira, ele me entregou uma garrafa que havia acabado de abrir. Servi mais em minha taça.

— Fale comigo, ma jolie. Estou aqui. Quero ouvir você — ele disse com suavidade.

Observei seus olhos atentamente e pude ver que ele estava sendo sincero.

— Pedro, me desculpe. É só que, durante a sessão de hoje, quando você me pediu para pensar em um momento feliz, eu me lembrei de uma situação incrível. Mas essa lembrança foi esmagada por outra, muito dolorosa. Um momento da minha vida que eu ainda não consegui superar. É só isso. Não é com você. — Inclinei-me para a frente e envolvi meus braços ao redor de seu corpo, descansando a cabeça em seu peito.

Eu me aninhei ali, sentindo seu aroma fresco e amadeirado. Ele me abraçou apertado. Uma mão deslizava para cima e para baixo em minha coluna, me confortando.

— Tenho a sensação de que você passou boa parte da vida cuidando dos outros, oui?

Em vez de responder, só assenti com a cabeça em seu peito. Ele respirou fundo e me apertou.

— Então agora, ma jolie, é hora de cuidar de si mesma, oui?

Mais uma vez eu assenti.

— Vou ajudar você. Esse projeto, Amor a óleo, vai ser uma válvula de escape. Nós dois, perante os olhos do espectador, vamos encontrar a paz para você. E eu vou lhe mostrar, através da arte, quão perfeita você é. — Ele segurou meus ombros e me afastou. Enxuguei as lágrimas com uma mão. Nem percebi que estava chorando, até que olhei em seus belos olhos. Eles estavam muito serenos, eu não conseguia desviar o olhar, e também não queria. — Esse vai ser o meu melhor trabalho, e com ele você vai encontrar a peça que está faltando para seguir em frente. — Pedro abriu um grande sorriso e se inclinou em minha direção.

Exquisite Acompanhantes de Luxo (LUTTEO)Onde histórias criam vida. Descubra agora