Ame a si mesmo!

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No dia seguinte, o estúdio estava silencioso mais uma vez. Comecei a perceber um padrão ali: Pedro tirava fotos em um dia, e no outro, quando pintava, liberava a equipe para poder trabalhar sozinho. Enquanto eu entrava no estúdio, ouvi uma música maravilhosa. A voz suave e feminina e as notas intensas do piano ecoavam pelo ambiente. Era de uma beleza perturbadora. Fechei os olhos, deixando os sons invadirem meu coração e
minha alma. Clique. Eu me assustei quando abri os olhos e vi Pedro parado à minha frente, com a câmera na mão.

— Não consegui me segurar. Você estava preciosa, imersa na luz da beleza. Eu tive que capturar esse momento.

Inclinei a cabeça e sorri.

— Conseguiu o que queria? — perguntei, com um toque de sarcasmo.

— Você conseguiu? — Sua sobrancelha se arqueou. O meu francês, sempre
tentando me ensinar alguma coisa.

Respirei fundo e examinei o chão, optando por baixar a guarda.

— Venha. Temos muito trabalho pela frente. — Pedro se virou e caminhou até o nosso espaço no estúdio.

Mancando, tomei o meu lugar. Ofeguei enquanto olhava mais uma vez para minha imagem. Desta vez ela estava na tela mais larga. Metade tinha uma foto minha impressa, e a outra metade era pintada. Ele devia ter vindo para cá no meio da noite, quando eu desmaiei depois do segundo round de “fazer amor”.

— Como...? — Fiquei sem palavras enquanto olhava para mim mesma na tela.

Era eu, encarando a imagem que ele havia fotografado no dia anterior. Minha testa estava perto da fotografia, e ele pintou minha mão tocando o coração da imagem fotografada. A maneira tão singular como ele misturava as mídias era diferente de tudo que eu já tinha visto. Era esse o motivo pelo qual Pedro tinha tanto prestígio como artista e as pessoas pagavam quantias obscenas por sua arte. E eu era parte disso. Uma parte importante. Eu era a sua musa.

— Eu não preciso de muitas horas de sono. Já que o seu corpo me inspirou, eu tive que pintar você.

— Quer dizer que você ficou tão arrebatado com a experiência da nossa transa que veio até aqui e pintou isto?

— Oui. O seu corpo nu. Fazer amor com você me deu a energia de que eu precisava para criar esta bela imagem, que o mundo vai ver.

Olhei para a pintura em preto e branco. Apenas uma sugestão dos meus seios nus era mostrada. Dava para ver a felicidade em minha forma enquanto minha imagem tocava o coração triste da foto do dia anterior. Era como se o meu lado feliz estivesse consolando o lado triste. Mais uma vez, Pedro encheu um pires com tinta pegajosa e se aproximou de mim com um pincel na mão. Começou a pintar meus lábios enquanto eu admirava, calmamente, a tela à minha frente. Eu não conseguia parar de olhar para ela. Pedro apertou minha mão, me puxou para seus braços e me carregou até a tela.

— Beije aqui. — Ele apontou para a mão sobre o coração na segunda imagem. Eu me inclinei e beijei a tela.

Pedro aplicou mais tinta em meus lábios. Apontou para o meu cotovelo e eu o beijei. Mais tinta. O ombro, o meio das costas na imagem. Mais tinta. Durante um bom tempo, ele aplicou a tinta e me fez beijar várias partes do meu corpo na pintura. Fizemos isso até que houvesse marcas de beijo sobre toda a tela que ele havia pintado. Ficou estranho. Não estragou a arte, mas acrescentou um elemento diferente. As marcas eram brilhantes, contrastando com o preto e branco da tela e do desenho. Quando acabamos, ele me ajudou a voltar para a cadeira. Limpou meus lábios com lenços umedecidos. Então me entregou um pouco de água e um protetor labial. O homem pensava em tudo. Ele atravessou a sala e me deixou com a música e a tela. Fiquei olhando fixamente para tudo aquilo. O que eu tinha feito no primeiro dia estava pendurado à esquerda, os lábios vermelhos e as lágrimas escorrendo pelo rosto. A foto da direita era a mesma, mas ele havia adicionado minha imagem na frente dela, a mão sobre o coração, e havia marcas de beijo a cada cinco centímetros.

Exquisite Acompanhantes de Luxo (LUTTEO)Onde histórias criam vida. Descubra agora