Ser mãe nunca foi meu foco de vida. Eu tinha um bom trabalho, a faculdade e minha família. Para mim, isso sempre bastou. Tanto que não conseguia me ver dividindo a vida com alguém e sendo casada.Até que conheci Conrado. Foi uma paixão tão avassaladora que chegou em um ponto que eu já não me via mais sem ele. Passei a olhar para minha vida toda de um modo diferente.
Posso dizer que Conrado (re)significou todos meus ideais. Foi assim que vi que me fechava para tudo ao meu redor. Minha ideia de ser sozinha, diferente do modo da relação de submissão que meus pais tinham, era muito tentadora. Até que percebi que nem todo relacionamento é tóxico, que na verdade, existem pessoas que querem seu bem.
Com isso, quando eu descobri que estava grávida de gêmeos, percebi que eu estava em um processo de conhecer diferentes amores e que havia encontrado, finalmente, o incondicional.
Quando Diego e Tomás nasceram, eu nunca havia sentido tamanha felicidade. Eles nasceram prematuros, com isso, não pude vê-los muito bem ao saírem do meu ventre, mas assim que meus olhos se encontraram com os deles, sabia que eu os protegeria sem hesitar de qualquer mal do mundo.
Entretanto, apesar de ter achado que eu já havia conhecido todos os tipos de amores, eu conheci um diferente. Mais um vez a vida me mostrou que meu modo de olhar para o mundo era equivocado.
Assim como aconteceu com Dig e Tom, assim que eu a olhei, eu sabia que ela era tão minha filha quanto os que saíram do meu útero.
Nina era uma menina retraída e tímida quando eu a vi. Naquela altura, eu estava devastada por não poder ter mais filhos, ou melhor, a menina que eu queria quando vi meus gêmeos crescendo e amadurecendo.
Eu não queria sair de casa aquele dia, mas Conrado já havia confirmado nossa presença em uma inauguração de um orfanato há tempos atrás, por isso, eu não tinha escolha.
Coloquei um vestido mais simples, nada espalhafatoso, que combinava com meu humor.
— Está tudo bem, meu amor? — meu marido perguntou quando estávamos a caminho.
— Vai passar, meu bem. Não se preocupe.
Encostei minha cabeça no banco do carro e quando me dei conta, já havíamos chegado ao destino.
Conrado cumprimentou diversas pessoas, enquanto para mim tudo não passava de um borrão. Meu marido ficou ao meu lado o tempo todo, segurando minha mão. Ele sabia o quanto eu estava chateada.
Foi quando eu me separei dele para ir ao banheiro que eu a vi.
Nina estava sentada no canto com outras crianças, contudo, ela estava brincando com um laço vermelho. Parecia ter no máximo dois anos de idade. Eu me aproximei e uma monitora apareceu para falar comigo.
— Boa noite, senhora Ferraz.
Sorri, simpática.
— Boa noite. Quem são essas crianças?
— São elas que irão morar aqui a partir de hoje, graças a empresa de seu marido.
— Entendo. — olhei para a menininha. — Como ela se chama?
— Ela é a Nina.
— Eu posso conversar com ela?
A moça hesitou.
— Não vou tira-la daqui. Eu prometo que não farei mal a ela. — disse, rapidamente.
— Tudo bem, ficarei aqui olhando.
Sorri, grata. Caminhei até onde está Nina e me sentei na sua frente. Ela me olhou com seus olhinhos curiosos.
— Oi, pequena.
— Oi. — disse com uma voz fina de criança.
— Eu achei linda sua boneca. Como ela se chama?
— Nini.
Passei a mão em seu cabelo crespo e escuro.
— Parece com seu nome.
Ela assentiu a cabecinha.
— Nina e Nini.
Aquele encontro foi o mais simples possível, mas eu senti como se meu coração tivesse recebendo-a em um abraço apertado. Era uma sensação diferente de quando vi meus filhos pela primeira vez, eu estava encontrando uma filha que veio por meio de outra mulher.
Eu deixei Nina onde estava e fui correndo atrás de Conrado.
— Conrado.
Ele me olhou e vi seu rosto ficar branco ao ver meus olhos marejados. Puxando-me para o canto, ele me olhou preocupado.
— Angélica, o que aconteceu?
— Eu encontrei nossa filha.
Meu marido me olhou ainda mais preocupado.
— Como assim?
— Vem comigo.
Eu o puxei até onde estava a pouco tempo atrás. A monitora me deixou mais uma vez me aproximar da menina, contudo, sempre com sua supervisão. Conrado conversou um pouco com Nina, brincou com ela e quando se levantou para se afastar, estava com os olhos cheios de lágrimas e encantado.
— É a nossa filha. — disse me abraçando forte.
Naquela mesma noite, começamos o processo de adoção e a visitamos com frequência até que nos foi dado o presente de poder nos chamar de seus pais.
Foi Nina que me ensinou que o amor está nas pequenas e inesperadas coisas. O amor extrapola os limites do coração. Ele transborda.
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Resenha Paixões | Livro de contos
RomanceUm livro de contos que traz história hilárias e fofas de personagens secundários que também merecem que sua história seja contada. Resenha Paixões traz contos de dores e amores.