Dia 46

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Novamente sou obrigada a sair de casa, mas dessa vez foi minha própria consciência que obrigou. Ando de cabeça baixa e evito encarar as pessoas durante todo o caminho para a casa abandonada, ou melhor, a cena do crime que eu aparentemente cometi.

Paro em frente à casa esperando alguma lembrança me atingir de novo, nada acontece. A casa é relativamente grande, de fora consegue-se ver os cômodos vazios, contei 6 até agora. O portão principal está coberto com tábuas de madeira e o lateral...aproximo para checar se o portão está aberto...está.

Antes de entrar, olho para os dois lados, só para me certificar de que não há ninguém na rua além de mim. Logo depois de fechar o portão vejo um rastro de sangue. Adentro na casa. Não há portas nos cômodos, então tenho visão ampla de toda a casa. Vou passando por o que parece ser um quarto, uma sala, uma cozinha, outro quarto...


Camila e Esther estavam amarradas e Rúbia estava comigo. Eu ajudava-a ficar em pé, ela estava completamente bêbada. Perdi a paciência e coloquei-a no chão junto com as outras. Saí do quarto a procura de algo...uma cadeira? Uma faca? Não consigo me lembrar. Voltei para onde elas estavam depois de achar uma faca (ou uma cadeira? Não consigo me lembrar). Novamente, ajudo Rúbia ficar em pé.

- Você se acha tão melhor que os outros por ter um sobrenome complicado de escrever, né, Rúbia? – Eu digo, mais divagando à toa do que esperando uma resposta.

Acho que ouço ela tentar responder algo, mas só saem grunhidos. Minha pele formiga de raiva, quero acabar com tudo logo. Deixo-a cair no chão, ela nem mesmo protesta. Sento no chão (ou na cadeira? Não consigo me lembrar) de frente para ela, brincando com a faca, tentando decidir qual seria o melhor ângulo para a facada final. Rúbia parece entender o que está acontecendo, seu rosto angelical agora expressa desespero. Uma parte de mim sente-se vitoriosa, esperei aquele momento por anos a fio.

- Rúbia? – Chamo suavemente. A forma como ela parece consciente de que algo terrível vai acontecer é assustadora, não, sinto-me feliz até, era o momento de vingança que tanto esperara.

Olho no fundo dos olhos dela. Respiro. Seguro a faca com mais força e, antes mesmo de pensar no que estava fazendo, sinto meu braço ir em direção ao estômago dela, permanecer ali por um instante e cair ao lado do corpo. Pareço um pinscher de tanto tremor, respiro fundo novamente. Rúbia está caída no chão, seu olhar é de súplica. Há muito sangue saindo do corte, a respiração dela parece a de um fumante. Outra vez, sinto meu braço ir em direção ao estômago dela. E outra vez. Mais uma. E outra. Parece que meu lado racional desistiu de comandar meu cérebro e o lado animal assumiu por ele. Meu braço agora está indo em direção ao coração dela, ele já parou de bater há algum tempo, mas, mesmo assim, meu lado animal precisa atingir o coração. A faca atinge o coração, deixando vários cortes superficiais na pele e um mais profundo, no centro do coração.

- Pronto. – Levanto-me- Serviço terminado.


- Bruna de Souza, você está presa pelo assassinato de Rúbia Meneghesso, Camila Alves e Esther Silva. – Ouço um policial dizer atrás de mim, fazendo-me voltar ao presente. – Tudo o que disser pode e irá ser utilizado contra você no tribunal. Você tem direito a um advogado, se não puder pagar, o Estado irá te fornecer um.

O Que Você Fez Ontem?Onde histórias criam vida. Descubra agora