Dia 43

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Acordo em uma cama dura, tomando consciência de dores em partes do corpo que eu nem sabia que existiam. O quarto onde estou é branco, como os que vi em hospitais psiquiátricos, não há nenhum outro paciente além de mim.

Tento tirar a remela dos olhos, mas minhas mãos estão algemadas. Sou tão perigosa assim?

- Doutora – Ouço alguém dizer- Ela acordou.

Segundos depois, uma médica aparece:

- Boa tarde, Bruna. Eu sou a doutora Vivian e vou acompanhar você no processo de recuperação, tudo bem?

Minha garganta parece feita de cimento, então não consigo responder direito.

- Não tente falar, sua traqueia ainda está muito danificada. Só acene com cabeça e entenderei. – A doutora explica.

Aceno com a cabeça em concordância.

- Nós vamos te manter em observação pelas próximas 24 horas, por conta do ajuste da medicação para seus outros ferimentos, tudo bem?

Fico confusa. Que outros ferimentos?

- Além da traqueia danificada, você teve uma hemorragia interna no fígado e uma costela quebrada por conta dos chutes desferidos, um corte superficial na cabeça causado pelo impacto da pancada e teve uma parada cardíaca enquanto era socorrida, estamos aguardando os resultados para alguma doença prévia no coração. – Ela responde minha pergunta como se tivesse adivinhado.

Uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto. Como cheguei a esse ponto?

- Você vai ficar bem, Bruna. A maioria dos ferimentos estão respondendo bem ao tratamento, é uma questão de tempo até a recuperação total e completa. Agora vou deixar você descansar, se precisar de algo, aperte o botão que está ao lado da cama e uma enfermeira virá te atender, tudo bem?

Aceno com a cabeça em concordância e ela sai, deixando-me outra vez sozinha, olhando para as paredes brancas e sentindo o peso do silêncio esmagar minha consciência.

De repente, é como se eu tivesse me desconectado do meu corpo e estou observando tudo acontecer: O eu que está algemado na cama começa a se contorcer, uma espuma branca parece cair do canto da boca.

Duas enfermeiras chegam acompanhadas da médica para me socorrer:

- Ela está convulsionando, Doutora. – A enfermeira informa.

- Segure os braços dela, por favor. – A médica pede para a enfermeira.

- Aplicando Midazolam. – Diz a segunda enfermeira.

O medicamento parece fazer efeito, pois paro de me debater na cama.

- Verificando as pupilas. – Diz a médica enquanto abre cada um dos meus olhos e aponta uma lanterna para eles.

- Pupilas reagindo normalmente. – Ela respira fundo- Quero uma tomografia, apenas para descartar a probabilidade de algum dano cerebral.

Enquanto as duas enfermeiras desafixam minha cama do lugar, posso perceber uma respirada profunda da médica, provavelmente para liberar o estresse.

Antes de retornar para o meu eu algemado, uma outra lembrança me atinge em cheio: Na festa, acho que um pouco antes de falar com a Rúbia, vejo Esther de longe e abaixo a cabeça para não ser reconhecida. Não adianta porque ela vem me cumprimentar do mesmo jeito.

- Bruna, né? – Ela diz.

- Sim. – Sorrio falsamente.

- Te vi no facebook esses dias, cê tá famosa. – Ela tenta puxar papo.

- Estou? – Pergunto.

- De verdade, melhor aluna da escola premiada em concurso e tal. – Ela responde.

- Ah, isso. – Fico sem graça- Não é nada.

- Modesta. – Ela ri- Bem, vou indo. A gente se tromba lá dentro.

Ela se afasta e me deixa com uma vergonha absurda por ter sido babaca por motivo nenhum.

Tento forçar a mente para lembrar do depois, mas tudo o que consigo é o nada. Então quer dizer que eu vi e falei com as três no dia da festa? Meu deus, não posso falar isso pra ninguém, caso contrário, vai ser difícil me manter inocente nessa história.

O Que Você Fez Ontem?Onde histórias criam vida. Descubra agora