Dia 33

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Em um primeiro momento, não lembro de nada. Por um milésimo de segundo antes de abrir os olhos, não lembro onde estou, o que eu fiz e como fiz. Por um milésimo segundo, minha memória some e encontro a paz.

- Bruna? – Meu advogado chama e a realidade cai em cima de mim.

- Oi. – Respondo.

- Como você está? – Ele pergunta.

- Doutor... – Digo baixinho- Eu cometi aqueles assassinatos...

O advogado não parece se abalar com a informação.

- Tudo bem, vamos com calma. Primeiro eu preciso que me conte tudo o que puder lembrar.

- Eu lembro de estar na festa, lembro de ter conversado com elas, lembro de oferecer minha casa pra elas retocarem a maquiagem ou irem ao banheiro, mas só porque eu moro perto dali... – Ele toma notas enquanto falo.

- Você lembra de ter saído da festa com elas? – William pergunta.

- Não, só de ter oferecido minha casa. – Respondo.

- O que mais você lembra daquela noite, Bruna?

- Eu... – Respiro fundo antes de continuar- Eu lembro de estar na casa abandonada com as três...

- Leve o tempo que precisar.

- Elas estavam amarradas com cordas...eu tinha uma faca e uma cadeira... – As lágrimas começam a descer antes que eu possa controlar.

William fica em silêncio esperando a continuação. Não sei dizer se ele sente ódio por eu estar confessando o crime ou pena por pensar que sou inocente.

- Primeiro foi a Rúbia...ela estava tão bêbada que não conseguiu se defender...parecia que a parte animal do meu cérebro tomou controle...foi cruel demais... – Paro pra enxugar as lágrimas.

- Podemos continuar uma outra hora, se quiser. – O advogado diz.

- Não...eu preciso falar agora...senão perco a coragem...Depois foi a Esther...eu lembro de estar incomodada com a falação dela...como se ela fosse um tipo de mosca chata que irrita a gente com os zumbidos...eu...eu usei a mesma faca...fui mais cruel com ela...

- Tudo bem, você não precisa falar mais nada por hoje. Descansa, eu volto outra hora, tudo bem?

- Tudo bem. – Respondo.

Antes de sair, ele hesita por um instante.

- Bruna?

- Sim?

- Eu não acho que fez isso. – Ele diz e sai do quarto.

Fico novamente com o silêncio e com a minha consciência. Não importa o que ele diz, eu lembro de todos os detalhes. Eu fiz isso. Eu fiz isso e nunca vou me perdoar. Eu fiz isso. A única saída que vejo aqui é dar fim a minha vida pra compensar a vida delas. Ninguém se importaria se uma assassina de mulheres morresse na cadeia

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⏰ Última atualização: Feb 24, 2022 ⏰

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