4 | psicanálise

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Estar "confortável" ou "habituada" seriam palavras fortes demais para o estado atual de Marinette Dupain-Cheng quanto ao sumiço de Chat Noir. Ela diria que está lidando com a situação, o que não significa que esteja lidando bem.

O que estava tornando essa tarefa mais difícil era o nervoso que lhe consumia e não havia com quem compartilhar. Já era Setembro e suas aulas estavam prestes a começar. Uma escola nova, onde não conhecia ninguém. Era sobre isso o que estava falando com o pai, no momento.

— Mas você vai conhecer alguém, sim. O filho do Gabriel, me esqueci o nome dele... — Disse Tom, enquanto amaciava uma massa em cima do balcão.

— Ele não vai estar lá ainda, Tom. Parece que esse mês o menino está com a agenda muito apertada e vai demorar um pouco pra aparecer. — Respondeu Sabine, descendo as escadas com a mochila que a filha havia esquecido no andar de cima. — Aqui, querida. Tente não esquecer sua cabeça, sim?

Marinette sorriu, sem graça, aceitando a mochila rosa.

— Obrigado mãe... — Deitou a cabeça numa mão, enquanto mordia um pedaço do croissant na outra. — E se for um desastre? — Perguntou, de boca cheia.

— Não, não comece pensando desse jeito. Lugar novo, vida nova, experiências novas. — Tom pronunciou de forma categórica, mas ainda suave.

— Espero que sim.

— Além disso, Marinette, se for um desastre... você pode tentar de novo no outro dia, com uma caixa de macarons. — Sabine sorriu, exibindo os biscoitos na vitrine.

A senhora Cheng ergueu as duas sobrancelhas e suspendeu o dedo indicador no ar, como quem teve uma ideia.

— Por que não começar com um pouco de sorte do seu lado? — Questionou e alcançou uma caixa para entrega de confeitos, pegando alguns macarons logo em seguida.

Marinette sorriu com a possibilidade, mas sorriu mais ainda ao perceber o quanto seus pais estavam dispostos a animá-la e tornar o dia mais leve e fácil. Ela sempre soube que eram incríveis, mas por se virar sozinha na maior parte das vezes — com a ajuda de Chat Noir —, nunca teve a oportunidade de ter o apoio deles em momentos como esses. E eles pareciam tão felizes quanto ela pela oportunidade.

Sem muita demora estava com os pés sobre o asfalto, caminhando o mais rápido que podia rumo ao que poderia ser mais um dia ruim na sua conta ou, quem sabe, um dos bons. A caixa em suas mãos era cor de gelo e tinha alguns detalhes rosados, outros roxinhos e todos muito delicados com a marca da padaria da sua mãe. Passou por um sinal de trânsito e pôde ouvir, não muito ao longe, o som do sinal da escola.

"Atrasada. De novo." Ela cerrou os dentes e apertou o passo.

Marinette respirou fundo, encarando a porta fechada do que seria sua sala de aula pelos próximos meses. Ensaiou um sorriso e se preparou para pedir desculpas pelo atraso quando a porta se abriu inesperadamente.

— MEU PAI VAI SABER DISSO! — Uma garota loira indignada deixou o interior da sala aos gritos e prantos.

Se Marinette não tivesse saído do caminho, com certeza teria sido atropelada. Mas isso não a livrou da fúria gratuita.

— TÁ OLHANDO O QUÊ? — Disse a loira, ao parar por um instante e continuar andando com passos pesados logo depois.

— Eu sinto muito — Uma menina ruiva, que Marinette só reparou quando o furacão passou, lhe disse rápido antes de sair correndo atrás da outra.

 Marinette chegou a imaginar se não teria entendido errado.

A Voz da Consciência | adrinette;Onde histórias criam vida. Descubra agora