— Mamãe, você tem uma voz na sua cabeça?
A jovem Cheng estava sentada entre as pernas da mãe, tendo os cabelos delicadamente penteados e separados ao meio para serem trançados.
— Claro, querida. Todo mundo tem. Se chama voz da consciência.
Seus pequenos lábios rosados fizeram um bico involuntário enquanto ela se punha a pensar, mordendo a parte interna das bochechas.
— Pra quê ela serve?
— Ah, ela te ajuda a pensar... a tomar as decisões certas...
Mari torceu as mãozinhas sobre o próprio colo, por cima do tecido suave do vestido listrado que usava – o seu preferido – e suas sobrancelhas se ergueram em compreensão. Ela deixou de fazer bico, mas outra dúvida surgiu.
— E qual é o nome da sua?
— O nome? — A senhora Cheng sorriu. — Bom, eu nunca pensei em um nome.
— A minha tem um nome.
A garota não se lembrava com clareza quando sua consciência lhe disse como se chamava, mas sabia que em algum momento havia falado.
— Ah, é? E qual é?
— Eidi.
— Uau, é um belo nome.
— É mesmo.
Seis anos depois.
—...mas eu acho que deve ser 28, a conta deu 28! E daí que não tem nas alternativas? É só colocar uma observação, o professor deve ter errado.
Marinette estava com a ponta do lápis pousada no bico que estava fazendo enquanto pensava. O livro descansava aberto em cima da mesinha branca, no canto do seu quarto, com alguns rabiscos e contas de matemática.
— Tá, tá. Prudente, prudente, você e essa sua prudência o tempo inteiro. Vou colocar o número mais perto de 28. É 25. Deve ser isso.
— Marinette, o que eu te disse sobre usar o telefone enquanto está fazendo lição? — O senhor Dupain apareceu na porta do quarto da garota, dando alguns toques na porta antes de entrar.
— Pai, a gente não conversou que o senhor tem que bater e depois falar e entrar e não ao contrário? — A menina apontou o lápis para o pai, de forma inquisidora. — E eu não estou falando no telefone. Eu tô falando com a minha consciência.
Tom segurou a respiração por um instante, mas não conseguiu impedir um sorriso de se formar. Mesmo aos 12 anos, Marinette ainda era sua menininha. Desde sempre citava a tal voz da consciência com quem conversava e isso lhe dava uma sensação – falsa e momentânea, ele sabia – de que ela ainda demoraria muito para crescer e sair de baixo das suas asas. Suspirou e se desculpou por ter quebrado o acordo outra vez, afinal, há algumas semanas Marinette declarou que precisava de respeito a sua privacidade e depois de uma longa conversa, o senhor e a senhora Dupain Cheng chegaram à um combinado: bater antes de abrir a porta e respeitar os momentos da filha, por hora, era suficiente.
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A Voz da Consciência | adrinette;
RomanceMarinette cresceu seguindo os conselhos da sua voz da consciência, mas uma mudança recente em sua vida faz com que ela deixe de ouví-la.