Marinette não sabia bem o que fazer. Já faziam duas semanas desde que Chat Noir falara com ela pela última vez e ela não podia chorar como se tivesse doze anos de novo – não que isso a impedisse de chorar todas as noites ou durante o banho, enquanto chamava pela sua Consciência.
Mas algum tempo depois, quando Agosto já estava mais no meio do que no início, os pais de Marinette não deixaram de notar o quanto a filha parecia abatida. Estava pálida, com os olhos escuros por falta de sono e seus sorrisos definitivamente não se comparavam em nada com o primeiro dia.
— Filha? Pode me ajudar com a louça? — Sabine chamou, ao fim do almoço.
— Claro, mãe.
Tom entendeu a deixa e arranjou uma desculpa para sair da cozinha.
A casa agora estava quase toda mobiliada e estavam esperando por alguns itens da Padaria – que abriria justamente no início das aulas, ao início do mês seguinte.
A mestiça estava ensaboando enquanto a mãe passava água nos pratos e panelas.
— Quer me contar o que tem te deixado tão pra baixo? Não está gostando daqui? O quarto é ruim?
Marinette ergueu as sobrancelhas e negou com veemência.
— Mãe, não! Tá tudo perfeito, eu juro. Paris é perfeita, a padaria é perfeita, a casa é perfeita, meu quarto é perfeito.
— Mas alguma coisa não está perfeita...
A garota não conseguia mentir para a própria mãe. Não falar nada enquanto não era perguntada era uma coisa, mas agora?
— É... A senhora lembra... da minha voz da consciência?
Marinette se sentiu imediatamente constrangida. Ela sabia que a família achava que era uma coisa de criança, talvez algum amigo imaginário e fazer alarde por isso agora parecia muito bobo. A única pessoa com quem ela realmente queria falar sobre isso...
— Querida! — A voz de Tom ecoou pela cozinha. Ele tampou a boca e falou mais baixo: — Me desculpe. Não queria atrapalhar. É que... temos nosso primeiro cliente.
Sabine abriu a boca em um círculo, limpou as mãos molhadas no avental e saiu em disparada para a Padaria. Marinette a seguiu, aliviada e ao mesmo tempo ansiosa.
No andar de baixo, um homem alto estava de costas encarando o lado de fora da Padaria enquanto a família Dupain-Cheng descia as escadas.
— Seja bem-vindo! — Sabine cumprimentou, sorrindo gentilmente.
O homem se virou. Estava aprumado em um terno branco, os cabelos da mesma cor cuidadosamente penteados. Ele tinha uma postura impecável e um semblante sério, que Marinette não pôde negar, lhe fazia sentir um pouco de medo. Um dos cantos da boca foi erguido em um sorriso discreto, e parecia ser o máximo que conseguia.
— A padaria ainda não está aberta... — Tom comentou em tom cordial, mas simpático.
— Ah... — A voz do visitante era grave e polida, no momento em que soou, foi como se todos os outros sentidos além da audição e da visão entrassem em "pause" para que a mestiça absorvesse aquele momento por completo. Marinette sentiu que era alguém... importante. — Eu não preciso esperar que ela esteja, não é?
Por um breve instante fez-se silêncio. A jovem Cheng se sentiu tensa.
— Não pra vir parabenizá-los pela conquista e poder dizer que finalmente somos vizinhos... não exatamente próximos, mas mais próximos do que estivemos em algum tempo.— Ele completou, sem alterar o tom de voz ou a postura, mas o seu sorriso dobrou de tamanho.
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A Voz da Consciência | adrinette;
RomanceMarinette cresceu seguindo os conselhos da sua voz da consciência, mas uma mudança recente em sua vida faz com que ela deixe de ouví-la.