Seis meses de espera

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01 de Janeiro, de 2014

Piers permaneceu sendo monitorado 24h por dia na base clínica da B.S.A.A. Soldados, armados o vigiavam, e médicos especialistas em C-Virus foram designados para o trabalho. Chris foi visitá-lo todos os dias, mesmo tendo sido liberado e voltando às atividades como capitão, realizando missões curtas.

Não foi nada fácil para Piers. Nos primeiros meses de tratamento, o vírus se mostrou ser super resistente à vacina. O que fazia com que o soldado sofresse noites e noites agonizantes, lutando contra a manifestação do vírus novamente em seu corpo. O braço direito estava quase completamente livre da mutação. Assim como Chris havia suposto antes, Piers passou por diversas sessões para reconstruir partes de seu braço que foram perdidas totalmente, sem falar dos ossos. O olho, infelizmente não foi possível recuperar.

Depois disso, ele passou por sessões de Fisioterapia para recuperar parcialmente o movimento do braço. O que também não foi fácil. O corpo de Piers reagiu com estranheza aos novos tecidos, o que causava muita dor. Aquilo se tornou uma tarefa árdua para todos. Continuaram aplicando doses cada vez mais poderosas da vacina. E assim que notaram melhoras significativas no organismo de Piers, sem mais a resistência do vírus, decidiram que era hora de mandá-lo de volta à sociedade.

Piers estava de pé olhando pela janela do quarto. Era uma manhã linda, ensolarada, porém o clima era frio. Os raios de Sol batiam levemente em seu rosto pálido, onde um curativo fazia uma volta em sua cabeça, tapando a parte direita da visão.
Estava novamente vestido com seu novo traje de soldado, mesmo não podendo exercer nada por agora, Chris insistiu que levassem uma nova farda para ele, pois o queria apresentar formalmente à alguns novatos. Piers gostou da ideia, só que ainda sentia falta de uma coisa no uniforme.

Ficou por mais algum tempo observando o mundo lá fora, quando ouviu a porta sendo aberta. Olhou para trás e se deparou com a visão de Chris. Com seu traje de capitão, sorrindo docemente, carregando algo atrás de si. Seu corpo ainda se mantinha saudável, músculos saltavam de sua roupa, que possuía inúmeros apetrechos, o fazendo parecer maior do que já era.

- Capitão! - Piers soltou a palavra como se nunca a tivesse dito antes. Estava fervendo por dentro, mas não sabia dizer o porquê.

- Piers. - Chris caminhou calmamente em direção ao mais novo, e com o braço livre, o envolveu num abraço forte, mas carinhoso ao mesmo tempo.

Piers ficou sem reação àquilo. Seu rosto ficou vermelho e não conseguia abraçá-lo de volta, pois seu corpo inteiro paralisou.

- Não sabe o quanto me orgulho de você. - Chris falou, parando de abraçá-lo, dessa vez olhando em seu rosto já sem marca alguma de mutação. - Sabia que sairia dessa. Tive muita esperança quanto a isso.

- Chris... - O rapaz retribuía o olhar. - Estou feliz por você ter depositado tanta fé em mim. Foi tão difícil... Muitas vezes achei que fosse morrer, mas você ficou comigo... Não me abandonou em nenhum momento nesses seis meses...

Chris observou com mais atenção o rosto do rapaz a sua frente, tocou a parte onde lhe faltava um olho, depois falou.

- Está tão pálido...

- É... - Piers respondeu, sem jeito. - Comida de hospital nem sempre faz bem de verdade. - Meu corpo, como pode ver, também perdeu um pouco de peso... O que eu daria por um bom bife! - Deu uma risada discreta.

Os dois continuaram se olhando, quando Piers se voltou para o que seu capitão estava escondendo.

- O que tem aí? - Perguntou ele, dando um leve sorriso maroto.

- Ah! Isso. - Chris tinha esquecido de entregá-lo, pois se distraiu com alguma coisa que Piers havia dito. Ele então revelou o que tinha na mão.

- Meu cachecol! - Piers exclamou. - Estava com você esse tempo todo?

- Por aí. - Chris pôs a mão na nuca, ficando um pouco sem graça. - Eu pedi que me dessem antes de ser liberado. Acho que queria te entregar pessoalmente... Se importa? - Ele fez um gesto de que queria colocá-lo no pescoço de Piers.

- Por favor... - Respondeu o jovem sorrindo, sem tirar os olhos do capitão.

- Sei o quanto essa peça é importante pra você. - Disse por fim, terminando de arrumar o cachecol em seu parceiro.

- Sim... Muito, Chris... Obrigado. - Piers ficou olhando para o cachecol, o segurando forte com a mão esquerda. Agora seu traje estava completo.

Aquilo teria sido um presente de seu falecido pai, que também fora soldado. Após a notícia de sua morte em combate, aquele cachecol ficou sendo o único item que os ligava, e Piers sempre quis seguir os caminhos de seu pai, que também seguiu os do pai dele anteriormente.

Sobre Chris, ele claramente estava confuso com tudo aquilo. Seu capitão estava muito diferente, mas no bom sentido. Em sua última missão na China, quando Chris finalmente recuperou a memória, ele ficou tão distante, agia tão rudemente, e começou a tratá-lo como um simples soldado, ignorando todas as advertências que ele lhe dava, os expondo em risco constante, mas agora... Piers se sentia a pessoa mais importante do mundo quando estava perto dele. E lá no fundo, ele gostava disso. Seu corpo incendiava por dentro, só pelo fato de ser o Chris, mas ao mesmo tempo isso o assustava. Ele não sabia se o capitão agia assim por um amor incondicional de irmãos, companheiros de guerra, ou se havia algo a mais. Ele mesmo não sabia dizer o que estava realmente sentindo.

O fato era que Chris havia mudado.

- O que foi? Algum problema? - O mais velho perguntou.

- Não. Está tudo bem, capitão. - Piers voltou a sorrir. - Só não vejo a hora de sair daqui e me encontrar novamente com a galera antiga da BSSA. Ao mesmo tempo... fico me perguntando qual será o meu futuro lá.

- Seu futuro na BSAA com certeza será magnífico. Você é um dos melhores soldados que já existiu aqui. Sabe o quanto te admiramos e respeitamos, não sabe? Quanto a questão do posto de franco-atirador, falaremos sobre isso mais tarde.

- Você realmente desistiu de se aposentar, não é? - Piers o encarava com atenção. - Descobriu que somente você pode exercer esse papel de capitão.

- Sim... Durante todo esse tempo eu tentei desistir. Tentei passar meu legado adiante, tendo você como principal substituto. Mas eu percebi que isso ainda pertence a mim. Minha hora ainda não chegou.

- Você é muito bom no que faz, Chris. Não tenha dúvida disso. - Piers respondeu, não somente como soldado, mas como alguém próximo.

- E eu devo tudo isso a você... Sem você, eu não teria enxergado nada disso... - Chris fez uma pausa. - Escuta, - Ele olhou pra baixo por um momento, depois voltou a olhar pro mais novo. - Hoje a noite estou livre. Que tal um jantar pra comemorarmos o Ano Novo, hein? Um Champanhe... Na minha casa... Sei que o momento de comemorar já passou, mas...

- N-na sua casa, capitão? - Piers elevou um pouco a voz.

- Isso! E olha que até já sei o que teremos de menu. - Chris fez uma cara que provavelmente era pra ser maliciosa.

- O que vai ser?

- Bife. - O capitão fechou os olhos, sorrindo, como quem está satisfeito.

- Hmmm... Que delícia! - Piers teve seu rosto iluminado. - Eu não como bife desde... sei lá! - Começou a rir.

- Ótimo. Você vem ou não?

- Claro, capitão! - O rapaz respondeu imediatamente.

- Está bem, mas primeiro, vou te levar de volta. - Chris pousou a mão no ombro esquerdo do mais novo. - Todo mundo está esperando. - Sorriu.

Juntos outra vez (NIVANFIELD)Onde histórias criam vida. Descubra agora