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01 de Janeiro, de 2014

- Bem, preciso resolver algumas coisas na base antes de ser dispensado. É rápido - Chris respondeu dando toda atenção a Piers. - Eu deixei um lugar reservado pra você no dormitório. Lá estarão o restante dos instrutores da base, provavelmente você irá aprender bastante com eles também.

Não era possível. Até isso Chris havia preparado.

- Lá já tem tudo de que você precisa. - Ele continuou. - Assim que eu terminar, podemos ir.

- Quanto a isso, capitão... - Piers logo se adiantou. - Vou ficar mais um tempo por aqui. Quero procurar amigos e companheiros antigos que fiz antes do incidente... Espero que todos estejam bem...

Chris assentiu. Ele sabia exatamente como era aquele sentimento de preocupação com os seus. Os dois possuíam um caráter muito único, e ao mesmo tempo tão iguais. Chris percebeu isso nas primeiras vezes em que trabalhou com o rapaz. No início, quando o via de longe, apreciava suas habilidades, mas quando o conheceu, falou com ele, e viu o ar profissional que aquele garoto carregava, passou a admirá-lo por completo.

- Então vou na frente. - Respondeu Chris. - Vou preparar tudo, mais tarde eu volto aqui pra te buscar, o que acha?

- Por mim, tudo bem. - Piers sorriu.

Os dois se separaram. Piers começou sua caminhada pela BSAA. Aquilo lhe parecia um sonho. Estar ali novamente, ainda fazendo parte de uma equipe, o lugar lhe trazia muitas lembranças. Sua época de treinamento como novato, as amizades que construiu, as missões iniciais das quais foi designado. Saber do respeito e a honra que conseguiu transmitir aos seus companheiros o deixava muito feliz, pois para ele, aqueles soldados não eram apenas homens a serviço, eram seus irmãos, sua família.

Logo os encontrou. Parceiros antigos que o apoiaram no início de sua jornada, hoje exercendo funções importantíssimas dentro da base. Muitos deles, infelizmente não estavam mais presentes, o que deixou Piers um pouco abalado, mas o que se podia esperar? Esse era o destino deles. Se ele pudesse, traria todos seus companheiros de volta, mesmo que isso significasse morrer.

Depois de mais um tempo, se dirigiu ao dormitório, onde encontrou alguns dos instrutores dos mais diversos setores. Tiveram uma conversa breve sobre sua estadia alí, e sobre a nova função que exerceria. Alguns deles o observavam mais que o normal, mas Piers preferiu achar que era somente curiosidade ou até mesmo receio. A notícia de sua possível recuperação e do seu retorno à base, pode não ter agradado muito.

Enfim, entrou em seu quarto, ficando em privacidade. Tirou o uniforme completo, as botas e o cachecol. Havia um banheiro logo ao lado, onde ele decidiu tomar um banho rápido. Quando terminou, buscou vestir algo mais casual. Uma camisa clara de mangas curtas, por cima uma jaqueta de couro verde escuro, uma calça jeans larga, e um par de botas marrons, que se assemelhavam a um tênis. Colocou o cachicól de volta. O tempo continuava frio.

Ao cair da tarde, voltou para o lugar onde se separou de Chris antes, e ficou lá esperando por ele com as mãos dentro dos bolsos da jaqueta. Reparou o homem se aproximando. Vestia uma jaqueta de couro preta, por baixo uma camisa de tecido grosso e escuro, uma calça larga acinzentada, e botas marrons. Também havia pendurado em seu pescoço um colar de ouro. Piers não sabia exatamente qual o significado daquele símbolo arredondado no colar, só sabia que Chris estava particularmente bonito.

- Preparado? - perguntou ele quando finalmente chegou.

- Sim, capitão. - Piers respondeu, como que por força do hábito, logo notando o erro. - Desculpe... - Deu um riso contido.

Chris já se acostumara tanto com aquele rapaz o chamando assim, que nem se importou. Na verdade, ele até gostava... Estranhamente aquilo mexia com ele, e não era algo recente. Ele sentia isso desde a última vez em que trabalharam juntos. Também reparou no quanto Piers parecia adorável naquele momento. O vento frio batendo em seu cabelo castanho, sempre bem arrumado.

- Não se desculpe. - o capitão sorriu em resposta. - Vamos.

Os dois se encaminharam até o carro estacionado logo atrás. Entrando nele, se acomodaram e logo partiram. A temperatura dentro do veículo era bem mais aconchegante que do lado de fora, então Piers pôde tirar as mãos de dentro dos bolsos.

- Como vai o braço? - Chris deu uma olhada rápida em seu parceiro, logo em seguida voltou sua atenção à estrada.

- Vai bem. Já consigo tomar banho e me vestir sem muitas dificuldades. Acho que com o resto das coisas vou conseguir me virar.

- Ótimo. - Chris respondeu virando com o volante pra esquerda, em uma rua movimentada.

Por um tempo fizeram silêncio. Piers gostaria de entender o que estava acontecendo. Se sentia tão nervoso e ao mesmo tempo tão protegido ao lado de Chris. Era como se estivesse ao lado de um irmão mais velho, mas uma pessoa que o fazia sentir coisas inexplicáveis dentro de si.

- Está quieto... - Falou Chris, olhando para ele.

- Mesmo? - Piers devolveu o olhar. - Acho que só devo estar um pouco tenso...

- Por quê? - Chris sorriu. - É só um jantar, não é?

- Eu sei, é que... - Balançou a cabeça em negativa. - Deixa pra lá. - O rapaz se virou pro outro lado, observando pela janela.

No fundo, Chris também se sentia nervoso, afinal, aquela era a primeira vez que ele levava Piers até sua casa, pra ficarem somente os dois. Todas as vezes em que marcavam de se encontrar, eram com outros membros da equipe, em bares ou restaurantes medianos da cidade, onde pelo menos em alguns poucos, (segundo Piers), o bife que serviam era de ótima qualidade.

Chris tentou melhorar a atmosfera, comentando.

- Sabe, esse mês também faço aniversário.

- Eu me lembro muito bem. - Piers deu uma risada leve. - Quarenta anos já! Não deve tá sendo fácil, hein, tio?

- Ah, cala essa boca. - Chris também riu. - Ou vou ter que colocar uma chupeta em você pra calar?

- Que maldoso! - Piers exclamou, desta vez, sem conter a risada. - Não acho que vinte sete anos seja uma idade tão imatura.

- São apenas números. Só isso. - Disse o mais velho, por fim. - Nós é quem decidimos o que fazemos com eles.

Ambos continuaram conversando e tirando sarro um com o outro. Chris adorava conversar com aquele jovem, não só coisas mais sérias, como também baboseiras. Piers era do tipo de pessoa que dava pra falar sobre tudo. Por muito tempo ele enxergou o mais novo como um irmão que nunca teve. Mesmo tendo Claire, e a amando muito, Chris desejava ter alguém mais próximo do seu tipo, com o qual ele pudesse compartilhar seus interesses mutuamente. E a chegada de Piers na BSAA, foi algo especial e decisivo.

Aos poucos, voltaram a se sentir mais confortáveis, e a trajetória até a casa de Chris se tornou muito mais curta. Não demorariam a chegar, e logo teriam um ótimo jantar de comemoração.

Juntos outra vez (NIVANFIELD)Onde histórias criam vida. Descubra agora