É onde você pertence

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01 de Janeiro, de 2014

Depois da conversa que tiveram na clínica, os dois se encaminharam rapidamente à base de treinamento. Chegando próximo de lá, pôde-se ver uma quantidade considerável de soldados a postos em filas em um campo aberto, totalizando trinta homens. Enquanto andava ao lado de Chris, Piers ficou um pouco apreensivo, pois não sabia como seria sua recepção depois de ter passado pouco mais de um ano fora, além de que todos sabiam o que ocorrera a ele. A mutação que sofreu, e o monstro terrível que matou. A arma biológica definitiva que poria em risco a vida no planeta. Ele sabia que por cima disso, havia um título de herói, mas no fundo também sabia que o medo e o preconceito de alguns poderia ser despertado. Piers não queria pôr a segurança de nenhum de seus novos companheiros em perigo, muito menos ser hostilizado. O C-Vírus foi totalmente aniquilado de seu organismo, os médicos disseram. Piers só queria acreditar nisso.

- Ei. - Chris invadiu seus pensamentos. - Tudo vai ficar bem. Confio em você. - Ele apenas olhava para frente enquanto caminhava.

- Certo, capitão. - Piers respondeu, decidido, olhando para seu companheiro, abandonando a tensão.

Assim que chegaram lá. Os soldados mantiveram suas posições, mostrando respeito. Chris foi o primeiro a falar.

- Recrutas! Trago a vocês, Piers Nivans. Um dos soldados mais exemplares, o franco-atirador mais habilidoso e o melhor condutor que a BSAA já teve. - Chris fez uma pausa. - Todos aqui sabem do que aconteceu há seis meses, e até antes disso, o caos em que o mundo se encontrava, e poucos sabem o que este homem suportou para estar aqui diante de vocês hoje. Piers Nivans possui um conhecimento extraordinário, assim como uma facilidade enorme em lhe dar com adversidades em meio a batalha. Mesmo tão jovem, possui muitas qualidades aqui dentro. Fomos parceiros de equipe por um bom tempo. Juntos sobrevivemos a coisas que nenhum aqui chegou a sequer ver de longe.

Piers observava calado, enquanto seu capitão o apresentava ao novatos. Da parte dele, ele mesmo se apresentaria, mas Chris insistiu que o fizesse, pelo fato de que os soldados já o conheciam. Seria mais fácil conseguir a atenção deles, até porque, Piers esse tempo todo que passou longe, não saberia exatamente o que dizer, e o rapaz assentiu, afinal, ele achava que seria apenas uma apresentação aos novos membros da BSAA, só isso.

Chris continuou com o discurso.

- As armas biológicas criadas ao redor do mundo, vêm diminuindo a cada dia graças a vacina criada. A este jovem, depositei toda minha confiança naqueles tempos sombrios, e espero que todos aqui possam confiar nele também agora. Não é a toa que todos vocês foram selecionados a serem franco-atiradores da BSAA. Porque vocês são os melhores! E devem aprender com o melhor!

- Espera, o quê? - Piers falou baixinho para Chris, que se virou pra ele e disse, não só para o rapaz, mas para que os novatos também ouvissem.

- Piers, quero lhe apresentar aos seus alunos. A eles você irá ensinar tudo que aprendeu nesses anos em que serviu como franco-atirador. Nosso companheiro, Terry, irá se aposentar daqui três dias, e queremos que você assuma o seu lugar na base. Acreditamos em seu futuro aqui na BSAA como um instrutor.

Piers naquele momento ficou sem palavras. Ele tentou não transparecer suas surpresa diante de tantos rostos, que se voltaram imediatamente para ele, esperando uma posição de seu novo instrutor.

Era inacreditável o poder que Chris possuía sobre as palavras. Era inspirador ouvi-lo discursar. Não só porque falava dele naquele instante, mas principalmente pela segurança que ele transmitia. Mesmo estando tudo um caos ao redor, se ele dissesse que iria ficar tudo bem, que nenhum mal aconteceria com um soldado sequer sob seu comando, eles acreditariam nisso veementemente. Foi quando Piers se lembrou de Finn e Marco... Muitas vezes, só acreditar não adianta. Nada pode contra o destino.

Até mesmo Piers não se sentia tão vigoroso quanto ao que Chris divulgava aos novatos. Estava magro, sem um olho, e com o braço direito sem os movimentos totais, mas o olhar de admiração que recebia... Aquilo significava que eles acreditavam, e Piers queria mostrar do que era capaz.

O jovem caminhou lentamente na direção deles. Observando com atenção cada uma das faces novas, quando parou ao lado de uma pessoa específica. Uma mulher. A única do grupo. Era mais ou menos da altura dele, com cabelos pretos e a pele não muito branca.

Chris logo se adiantou.

- Esta se chama Nádia Haley. - Disse, cruzando os braços. - Os resultados dela foram impressionantes para uma novata.

Piers, que olhava para o capitão, voltou sua atenção à mulher à frente.

- Nádia, certo? - Perguntou ele, de uma maneira profissional.

- Sim, senhor! - Ela respondeu igualmente séria.

- Saiba que não irei pegar leve com você. - Disse ele, desta vez se dirigindo ao grupo, elevando sua voz. - Saibam que não pegarei leve com nenhum de vocês! Entendido?

- Entendido, senhor! - Eles gritaram.

Piers sorriu discretamente, lançando um olhar para o capitão que, ainda de braços cruzados, sorriu, assentindo com aprovação.

Assim que concluíram as apresentações. Os recrutas se afastaram, voltando para sua rotina de treinamento. Piers ficou parado, com um olhar distante. Parecia incrédulo quanto aquilo. Chris se aproximou dele com passos largos.

- Quem decidiu isso, Chris? - O rapaz perguntou, finalmente olhando para o rosto do mais velho.

Por fim, Chris percebeu o quanto ele estava satisfeito. A expressão em seu rosto o entregava.

- Acha que passei os seis meses simplesmente parado? Digamos que eu destaquei muito bem o seu currículo pro chefão. - Ele deu uma risadinha provocativa. - Também usei das minhas habilidades persuasivas. - Continuou, brincando.

- Sabia o quanto eu estava com medo... - Piers o encarou com seriedade. - Sabia que eu morreria caso não fosse mais aceito na BSAA, mesmo não exercendo minha real função... Você fez tudo isso por mim...

A vontade de Piers naquele momento, era de pular nos braços de Chris, e apertá-lo com todas suas forças, agradecendo profundamente o que ele havia feito, mas no mesmo instante, sua mente o reprovou. O que era aquele tipo de pensamento? O quão estranho seria se o fizesse assim, em meio a tantas pessoas nos arredores.

- Fiz. - O capitão deixou o sorriso de lado, o encarando por igual. - Esta é a sua casa, Piers. É onde você pertence. Não deixaria que fosse pra nenhum outro lugar. Suas atividades começarão em uma semana. Até que tudo se acerte com o Terry. Creio que até lá, você vai estar mais preparado física e psicologicamente também.

O corpo de Piers o denunciava. Estava muito inquieto com a presença daquele homem parado à sua frente. Ele não sabia como reagir àquelas palavras tão sinceras, que só serviram para deixá-lo mais confuso sobre seus sentimentos. Ele apenas conseguiu responder.

- Muito obrigado... De verdade, Capitão.

Juntos outra vez (NIVANFIELD)Onde histórias criam vida. Descubra agora