#MIKAELA#
Mikaela caminhou pelo estacionamento da escola pública sem olhar para os lados, perguntando para si mesma porque continuava voltando. Era uma vampira, não precisava estar entre os adolescentes cheios de hormônios e arrogância, mas gostava do desafio e de se manter ocupada entre um trabalho e outro.
Sentindo o sol fraco de janeiro na pele deixou que o pensamento vagasse até o Clã Northson e Nicholai, graças a ele não iria queimar até virar pó se saísse ao sol. O vampiro que a tinha transformado décadas atrás era como um pai, e havia ensinado tudo que ela sabia, a ter controle da sede; a lutar; a caçar; até mesmo a usar uma espada, depois de muita insistência dela, depois da primeira década havia ficado muito boa mas sempre perdia pra ele.
Passava alguns meses longe do clã de vez em quando mas sempre acabava voltando, era o seu lar, onde passara as últimas décadas. O velho vampiro era sábio, já devia ter mais de 200 anos pela forma que se portava, que falava, Mikaela não sabia tudo sobre ele mas ainda guardava com ternura as memórias do vampiro usando kilt e da crise de risos que a imagem lhe causara, mesmo depois disso ele havia lhe ensinado quando ter piedade e quando ser implacável.
Sentiu pesar por ele, quando foi transformada e Nicholai levou-a pra casa com ele, foi acolhida pela esposa dele também, Mikaela se lembrava claramente da mãe postiça, ela erradiava bondade e Nick não se sentia sozinho com ela ao lado.
Agatha era uma bruxa, uma das mais poderosas que já existira, que tendo se apaixonado pelo vampiro o fez capaz de andar sob o sol, fez dele um caminhante.
O segredo permaneceu escondido de todos os clãs até muitos anos depois. Mikaela ajudara Nicholai e Agatha a começar o clã e a fazê-lo crescer. Porém não havia como impedir que o tempo passasse e décadas mais tarde a morte levou a bruxa. Mas o sangue de Nicholai nas veias de Mikaela a fizeram imune ao sol.
Entrando pelas portas duplas e passando pelo corredor repleto de humanos, a vampira bloqueou todos os cheiros e sons que vinham em ondas irritantes, era um dos motivos pra repetir o último ano em cidades diferentes toda vez que se encontrava entediada, para treinar o autocontrole, havia cheiros ali que poderiam reviver um morto sem esforço, abafou o riso ao imaginar um lobisomem sentindo tudo aquilo. Estava em Bend-Oregon desta vez, depois das férias, faltava poucos meses pra tudo aquilo acabar.
Era um ano diferente, já havia interpretado muitos papéis por muitos anos mas agora escolhera ser uma nerd, do tipo que ninguém olha uma segunda vez e completou o pacote com roupas largas que a faziam parecer ter alguns quilos a mais, fez o possivel para não se destacar e estava sempre olhando pra baixo.
Ouviu risadas quando parou em frente ao armário 72, era um erro imenso sequer imaginar que o ambiente não era apropriado pra treinar o controle, era um inferno pra algumas pessoas e o paraíso pra outras._ Nossa, a aberração voltou. Achei que teria vergonha o bastante pra nunca mais sair de casa._ ouviu alguem falar mas não se preocupou em identificar a fonte.
_ Você repara demais nela. Tem certeza que não está atraído pela esquisita?_ outro desconhecido disse logo depois.
_ Nem morto._ disse um deles.
…Fechou o armário e caminhou, sorriu discretamente com o vislumbre do pescoço de um jovem encostado contra a fileira oposta de armários, ouviu o batimento cardíaco e som do sangue se espalhando por todas as veias, salivou com a lembrança da caça, o sangue ainda quente, descendo pela garganta, o frenesi subito dele se espalhando pelo corpo e a força furiosa que tomava conta.
Recuperou o foco ao emaranhado de vozes irritantes antes que perdesse a razão, era complicado estar em um self-service de sangue mas não tomava mais direto dos humanos se não fosse extremamente necessário e se orgulhava do auto controle que desenvolvera com o passar dos anos.
Entrou na classe de biologia e se sentou onde não chamaria atenção pensando pela milésima vez nas semanas anteriores e nas férias em Florença. A professora, senhora Mills conversava com Sylvia, a secretaria do diretor, trocaram mais algumas frases e a mulher saiu da sala, arrancando Mikaela dos devaneios com o enigmático e quente homem com quem tinha estado nos seu tempo na Itália.
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O Clã Northson- MIKAELA
VampireJá haviam se passado 70 anos de uma existência solitária. Estava alí, no lugar que amava, vagando por todas as lembranças, a infância, a família que perdeu para a ignorância humana, a família que ganhou sem merecer. A essa altura não sentia mais c...