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Ana Luísa Machado

   Paro em frente ao espelho e encaro meu reflexo com os olhos focados em minha barriga, notando o pequeno volume existente ali. Eu estava de 10 semanas, mas quem me visse com as roupas largas não diria que eu estava grávida.

  Levo minhas mãos até a barriga ainda sem acreditar que seria mãe. Não havia me acostumado com essa ideia. Se isso estivesse acontecendo em 6, 10 anos pra frente eu sei que estaria feliz e animada com tudo que envolvesse maternidade, mas agora, com 19, não era assim que eu me sentia.

  Coloco meu moletom largo, cobrindo minha barriga, pego minha bolsa e saio de casa a caminho de mais uma consulta.
Estava enjoada pela manhã, porém já havia melhorado. Não aguentava mais vomitar, mas o Dr. Théo disse que isso passaria em breve e eu esperava ansiosamente por esse momento.

  Chegando ao hospital, sigo direto ao consultório e prontamente o Doutor me atende.

— Boa tarde, Ana Luísa, como vai? — Indaga me olhando com um sorriso no rosto. Como sempre, ele me recebia animado e simpático.

Das outras vezes de tão nervosa que estava não havia sequer reparado no quando Théo era bonito. Os cabelos negros, os olhos azuis, os músculos e o corpo alto lhe davam um ar viril, certeza que muitas mulheres devem se jogar aos seus pés.

— Boa tarde, doutor. Estou bem. — tento responder no mesmo tom animado dele, mas falho.

— Preparada para o ultrassom? — assinto.

   Théo me pede para que eu deite e levante a blusa e assim eu faço. Ele mexe no aparelho, coloca um gel na minha barriga e começa a passar o equipamento sob meu abdômen, enquanto olha para o monitor em seu lado. Pra mim aquilo era só um borrão, não sei como conseguiu identificar qualquer coisa, ainda mais sendo tão pequeno. Mas conforme ele foi mexendo o aparelho a imagem foi melhorando e arrisco a dizer que até conseguia ver algo ali.

— Ele está aqui, veja. — aponta para o monitor e eu vejo meu bebê.

— É tão pequeno. — falo impressionada.

— Sim, mas ele está no tamanho normal para o tempo de gestação. Está tudo bem. — fala me tranquilizando e sorri pra mim. — Gostaria de ouvir o coraçãozinho dele?

— Já dá pra ouvir? — pergunto curiosa, pensava que precisava de mais tempo de gravidez para isso.

— Sim. Espere um pouco.

    Ele mexe em algo e pouco tempo depois ouço os batimentos cardíacos do pequeno que crescia dentro de mim.

— É muito forte. — digo e meus olhos marejam por algum motivo.

— Mais um sinal de que está muito bem. — Théo sorri e pela primeira vez eu retribuo de forma sincera.

   Olho para o monitor e vejo o feto se mexendo, mas eu não sentia nada.

— Por que eu não sinto ele se mexendo?

— Porque ainda é muito pequeno, mas daqui a algumas semanas sentirá, fique tranquila.

  Balanço a cabeça compreendendo.

  Théo me entrega um papel para que eu possa limpar minha barriga e desliga o aparelho.

— E quando será a próxima ultrassom? — pergunto já ansiosa para ver e ouvir meu filho novamente.

— Daqui a 10 semanas.

Ele era tão forte, se mexia tanto, parecia ter tanta vontade de viver que me senti mal por não estar feliz com sua vinda.

Perfeito AcidenteOnde histórias criam vida. Descubra agora