5.

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Ana Luísa Machado

  Eu me sentia angustiada com a possibilidade de estar grávida e no quanto minha vida poderia mudar.

   Mesmo podendo ter o resultado no mesmo dia, optei por pegar no dia seguinte, pois estava cansada e ficaria tarde para voltar pra casa. Também não faria diferença ficar sabendo antes ou depois.

   No dia seguinte, trabalhei normalmente e sem acidentes ou imprevistos como no dia anterior. Quando deu o fim do expediente, chamei um táxi e segui para o hospital.
Tive que aguardar por alguns minutos quando cheguei, pois o Dr. Théo estava ocupado. Minutos que me fizeram ficar nervosa e preocupada.

Quando a porta do consultório se abriu, o Dr. saiu acompanhado de outro médico. Eles se despediram com um aperto de mão. Os olhos de Théo percorreram o corredor e ele sorriu quando me viu ali.

— Boa tarde, Ana Luísa. Pode entrar, por favor. — tento retribuir o sorriso e me levanto.

Entramos e ele fecha a porta.

— Como está se sentindo? — me avalia. — Teve mais algum episódio de náusea de ontem pra hoje?

— Não. Estou me sentindo enjoada, mas acredito que seja o nervosismo.

Ele assente.
Nos sentamos e o doutor pega um envelope branco em cima de sua mesa, abre e avalia o que está escrito.

— O que deu? — pergunto ansiosa e ele sorri como se fosse contar uma boa notícia.

— Parabéns! Você está grávida de algumas semanas.

Me sinto tonta e fraca com a notícia.

Como grávida? Meu Deus. Isso não podia estar acontecendo agora.

Eu estava gerando uma vida dentro de mim com apenas 19 anos. O que será de mim e desse bebê?

Minha vista começa a escurecer, meu corpo amolece e eu apago.

Acordo sentindo meu corpo deitado em algo macio. Abro os olhos e vejo que estou em uma lugar todo branco. Lembro dos últimos acontecimentos e constato que ainda estou no hospital.

— Que bom que despertou. — uma senhora diz e dá um sorriso. — Vou chamar o Doutor.

Ela sai e segundos depois o Dr. Théo entra.

— Ana Luísa, como está se sentindo?

— Bem... eu acho. O que aconteceu?

— Você desmaiou depois da notícia, teve uma queda de pressão, mas já está estável.

— Então já posso ir embora?

— Pode sim, mas antes vou solicitar mais exames, precisamos iniciar o seu pré-natal. — assinto sem rebater. — Tem alguém que possa vir te buscar? Após seu desmaio seria bom um acompanhante. — sugere.

— Não, não tenho ninguém. — me sento sob o olhar atento de Théo sobre mim.

Ele escreve em vários papéis e me entrega alguns deles, logo me liberando.

Saio do hospital tonta e perdida com o tanto de exames que eu teria que fazer para cuidar da vida que agora crescia dentro de mim. Como eu lidaria com essa gravidez sozinha? E se acontecesse algo comigo, quem vai me socorrer? E Filippo? Eu tinha que contar sobre a gravidez mesmo sabendo que ele não queria esse bebê.

Distraída e em meio a tantas dúvidas nem percebi que Thiago estava em minha frente.

— Analu, quanto tempo. — comprimenta e me abraça, meio sem reação, retribuo. Talvez fosse o que eu precisava no momento. — Está tudo bem?

— Ahn... Eu... — como eu estava, afinal?

— Caramba, Analu, me desculpa perguntar isso logo agora, foi o hábito. — balança a cabeça e leva a mão a testa. — Imagino que não deve estar bem com o que aconteceu. — ele faz uma cara triste como se lamentasse por mim.

Do que ele estava falando? Da gravidez? Não, impossível! Eu acabará de saber.

— Você não foi no enterro, por quê? Sei que não estavam mais juntos, mas mesmo assim pensei que iria. — indaga com curiosidade.

— O que? — pergunto o olhando completamente confusa. — Do que você está falando, Thiago?

— Você não ficou sabendo sobre Filippo? — nego. — Merda. — resmunga baixinho e me olha sem graça. — Me desculpa, eu pensei que soubesse.

Como assim, enterro? Filippo? O que houve?

— Ele sofreu um acidente de moto há uma semana e infelizmente não resistiu.

Abro minha boca em surpresa. Como assim Filippo tinha morrido e ninguém havia me avisado? Tudo bem que estávamos separados e não nos falávamos mais, mas eu gostaria de pelo menos me despedir.

— Ninguém me falou. — murmuro ainda chocada com a notícia.

Nem um pai meu filho tinha agora.

— Você ta muito nervosa, Analu. Vou te deixar em casa. — Thiago fala após um longo silêncio da minha parte.

O agradeço e vamos até seu carro. Fomos o caminho inteiro quietos, eu tentava processar e não surtar com as duas novas informações que tive e Thiago pareceu notar que o que eu mais precisava agora era de silêncio.

— Você ta bem pra ficar sozinha? — indaga me avaliando e balanço a cabeça afirmativamente. — Tem certeza?

— Tenho, Thi. Obrigado por me trazer.

— Certo. Se precisar de qualquer coisa me liga.

Concordo e saio do carro, entro no condomínio e sigo para o meu apartamento.
Faço as coisas no automático e por fim me deito. Sem nem perceber as lágrimas começam a correr pelo meu rosto. Lágrimas de desespero, medo e dor.

Perfeito AcidenteOnde histórias criam vida. Descubra agora