2.

1.2K 79 3
                                    

Ana Luísa Machado

Minha cabeça girava e eu sentia que mais uma vez tudo que eu havia comido iria sair pra fora do meu corpo. Eu não estava bem, já vinha me sentindo assim a quase duas semanas o que estava me deixando preocupada.

- Analu, Filippo está subindo. - meu irmão gritou da sala.

Não respondi. Queria que ele pensasse que eu estava dormindo, não gostaria de ver ninguém, muito menos Filippo estando nesse estado.

Ouço uma batida leve na porta e logo a porta se abrir. Filippo me olha deitada na cama e franze a testa. Eu já não o via direito a alguns dias, nossa relação havia esfriado um pouco depois daquela noite, não conversavamos com tanta frequência, ele parecia mais ocupado e culpava o trabalho por isso.

- Diego me falou que não está bem. - ele se aproximou.

- Estou um pouco enjoada e tonta, mas nada demais.

- A quanto tempo?

- A uns dias já. - ele arregalou os olhos e eu fiquei sem entender. - Você já teve aquilo esse mês?

- Aquilo?

- Aquilo que toda mulher tem.

- Ah, não, não tive.

Os olhos de Filippo foram tomados por uma preocupação e ele passou a mão pelo rosto. Demorei um tempo pra entender o que se passava na cabeça dele, mas quando entendi fiquei assustada só de pensar nessa possibilidade.

- Você acha que eu posso estar grávida? - minha pergunta sai em um sussuro.

- Pelo que você falou, sim.

- Filippo, eu não posso. Não, não, sem chance.

Eu só tinha 19 anos, nem havia iniciado uma faculdade e feito nenhum dos planos que eu tinha como meta antes de formar uma família.

- Não mesmo, Ana Luísa isso atrapalharia minha vida.

Fiquei quieta, um nó havia parado em minha garganta e uma angústia havia tomado meu peito, principalmente após a fala dele.

- Olha, eu espero que não seja isso que a gente tá pensando. - ele me olhou. - Mas se for...eu não quero esse filho. Eu só tenho 22 anos, comecei agora na empresa que eu sempre sonhei, to prosperando ainda, entende?

Meus olhos marejaram de raiva e decepção por sua fala. Como ele podia somente pensar em si e ser tão covarde?

- Vai embora. - peço em um fio de voz, não queria mais vê-lo na minha frente, muito menos ouvir o que ele tinha pra falar.

Filippo me olhou por um tempo e fez o que eu pedi.

Nas semanas seguintes continuei tendo alguns episódios de enjoos, mas não era com tanta frequência, então eu achava que estava tudo bem e seguia com minha vida. Talvez parte de mim quisesse acreditar nisso.

Depois daquele dia, eu e Filippo não nos encontramos mais, ele havia me decepcionado muito com suas palavras, mesmo eu não estando grávida. Eu realmente não o conhecia direito e tudo isso havia me feito questionar sobre nossa relação e ver que não deveríamos mais ter o que tínhamos, se ele não era homem para assumir suas responsabilidades, então não era homem pra mim.

[•••]

Depois de terminar mais um expediente, fui para casa e me deparei com Diego andando pra lá e pra cá na sala.

- Está tudo bem? - questiono e ele me olha.

- Que bom que você chegou, quero conversar com você e sua opinião é muito importante pra mim. Senta aqui. - ele apontou pro sofá e eu me sentei.

Meu deus, será que Filippo havia falado algo com ele? Espero que não.

- Pode falar.

- Eu recebi uma proposta pra trabalhar em uma filial da empresa, mas estou indeciso e um pouco inseguro. - ele coça a cabeça como sempre fazia quando estava agoniado.

- Isso é ótimo, Di. - sorri pra ele. - Mas por que da insegurança?

- Sei lá, é uma cidade nova, não vou conhecer ninguém. Também não quero te deixar sozinha aqui, por isso quero saber o que você acha.

- Se o problema for eu, fica tranquilo, sei que tudo que você quer é crescer nessa empresa e essa proposta é ótima pra isso, eu nunca iria te impedir. Mesmo sabendo que vou sentir sua falta, te dou o maior apoio.

Eu e Diego morávamos em um apartamento na capital do estado desde que nossos pais haviam decidido se mudar para o interior buscando uma vida mais tranquila, depois de tantos anos trabalhando na cidade grande. Claro que eu me sentiria sozinha, ainda mais por não ter nenhum amigo, mas eu não podia prendê-lo aqui por minha causa.

- Jura que vai ficar bem? - me olhou com preocupação.

- Juro! Mas você tem que me ligar sempre, hein. - me levanto e vou até ele.

- Combinado. - nós nos abraçamos. - E sobre as despesas do ap, vou continuar ajudando.

- Não, Di, não é certo. - digo, mesmo sabendo que as despesas que tínhamos eram altas por conta de morarmos em um bom bairro e talvez eu não conseguisse continuar nesse apartamento.

- Analu, eu não vou deixar você ficar passando aperto, não.

- Eu posso me mudar pra um lugar mais barato.

- E quando eu voltar vou pra onde?

- Pro meu apêzinho menor? - sugeri.

- Tá encerrado o assunto, vou continuar ajudando e ponto. - bufo, mas não falo mais nada.

Diego tinha esse jeito protetor e não iria a hesitar em cuidar de mim.

- Quando você vai?

- Daqui a duas semanas.


Perfeito AcidenteOnde histórias criam vida. Descubra agora