Capítulo 1

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O horário do evento se aproximava, e como sempre, eu estava alguns minutos atrasada. Meus amigos já estavam acostumados, a brasileira que sempre chegava depois de todos, mas que fazia questão de ficar até o final, para compensar o atraso. E para esses jantares, eu nunca fazia questão de me apressar, já que o único motivo de ir era pra fazer média. Mesmo sendo parte da minha profissão de modelo, eu nunca tive paciência para esses eventos, cheio de pessoas que só se preocupavam com si próprios. 

No caminho até a porta, senti meu telefone tocar, e já imaginava quem poderia ser.

-Oi amore - atendi o celular, ao mesmo tempo em que pegava a chave de meu apartamento do balcão.

-Você já está a caminho, Dayane? - do outro lado da linha, a voz de minha amiga Selvaggia, que por ser modelo também, sempre acabava me acompanhando nesses eventos chatos.

-Sim, já estou no Uber - disse, enquanto trancava a porta. 

-Hm, tá bom, até daqui a pouco - ela disse desconfiada, pois sabia que eu ainda nem tinha saído do prédio.

-Beijos. - desliguei o celular e me dirigi a portaria para esperar o motorista. 

***

Ao chegar no evento, depois de tirar algumas fotos na entrada, fui direto à mesa reservada para mim e alguns outros modelos da mesma agencia. Cumprimentei todos com um beijo no rosto, e me sentei ao lado de Selvaggia, que já estava com uma taça de vinha pronta para me receber. 

Ter ela nesses eventos era sempre garantia que o tempo passaria mais rápido, e ela também sempre acabava me segurando para não brigar com algum empresário machista, que sempre estavam presentes em todos os lugares.

Após algumas taças de vinho, Selva levantou para conversar com outras pessoas presentes no local, e eu aproveitei para ir ao banheiro novamente.  

Ao sair do banheiro, ouvi uma voz masculina um tanto quanto agitada vindo do canto do salão, quando olhei pra ver o que era, avistei uma cena de um homem, que aparentava ter uns 30 anos, falando alto e apontando o dedo para uma mulher, que chorando, parecia estar desesperada para sair daquele canto. Esperei na frente do banheiro para que, o que me parecia um casal, terminasse a discussão. Queria ter certeza que se os ânimos de um ou outro se exaltassem mais, teria alguém por perto para acalmar a situação. 

Fiquei por lá aproximadamente uns 5 minutos, até que eles pararam de falar, e avistei o rapaz saindo de perto. Ao me aproximar da mulher, consegui reparar nos traços de seu rosto, que pareciam terem sido desenhados nos mínimos detalhes. Do nariz à boca, as curvas de suas feições eram perfeitas. E quando cheguei perto o suficiente, ela me olhou, e pude reparar que por trás daquelas lágrimas, havia um dos olhares mais puros e bonitos que já tinha visto. 

-Oi, tá tudo bem? - perguntei com um sorriso leve no rosto.

-Que? Ah, sim. - Disse a mulher, limpando suas lágrimas com as mãos.

-Toma, use isto. - Ofereci a ela um papel que havia pegado no banheiro enquanto eles discutiam.

-Obrigada. - ela continuava enxugando as lágrimas.

-É seu namorado?

-Sim...ele está indo viajar amanhã. Foi só uma discussão boba, sempre acontece. - Ela suspirou. 

-Mais tarde vocês se resolvem né? - Tentei ser positiva.

-Mais tarde daqui 3 meses, ele acabou de ir embora.

-3 meses? - A olhei confusa.

-Sim, ele vai viajar o mundo, passar por todos os continentes. - Ela não parecia muito feliz com isso.

-E você não quis ir junto? - Não era minha intenção ser invasiva na vida de uma pessoa que nem conhecia, mas eu realmente estava curiosa sobre a situação.

-Não tive essa opção. - Ela soltou uma risada sem graça. - Ele está indo apenas com amigos.

-Entendi...E vocês não vão mais se ver hoje?

-Não. Ele não mora em Milão, e está ficando na casa de um amigo, e vai direto pro aeroporto logo cedo amanhã.

-Certo...Bom, mas assim que ele chegar no primeiro destino vocês se falam né. - Sorri em sua direção.

-Sim. - Ela me respondeu, ainda visivelmente chateada com a situação.

-Bom, não vou te alugar mais. Se você quiser, eu e alguns amigos estamos naquela mesa no canto, será bem vinda. - Sorri novamente.

-Obrigada, mas acho que já vou indo embora também.

-Ok. Vai ficar bem né?

-Sim, obrigada.

E antes que eu pudesse me apresentar oficialmente, ela sorriu e se virou para ir embora.

A imagem daquele homem gritando e gesticulando, e a mulher tão frágil, acuada, ficou repetindo em minha cabeça o resto da noite. E também suas palavras, normalizando o fato deles terem brigado feio uma noite antes de uma viagem longa, e nem sequer iriam se resolver antes dele partir. 

Eu realmente estava preocupada, e torcendo para que ela chegasse bem em sua casa, mas como saberia, se nem seu nome consegui perguntar. 

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