Como de costume, acordei antes do meu despertador, mesmo sendo 5:20 da manhã, já estava acostumada com os horários. Tomei um café da manhã leve e logo pedi meu Uber. Os ensaios de hoje seriam todos em um estúdio no centro da cidade, e como meu apartamento era mais pro norte, levariam aproximadamente 20 minutos para chegar ao destino, e num horário onde o transito era bem leve, não precisei sair correndo de casa. No caminho, mandei mensagens de bom dia para a avó da Sofia, que sempre repassava minhas mensagens para minha filha, já que ela era muito nova para ter o próprio celular.
O primeiro ensaio começou pontualmente as 6:30 da manhã, do lado externo do estúdio, para aproveitar a bela luz do nascer do sol. Eram quase 11, quando encerramos o trabalho, já de volta na parte interna do local. Nos avisaram que teríamos 1 hora de pausa para o almoço, e que o próximo ensaio começaria as 12:30. As outras meninas preferiram ficar no estúdio e comer a comida oferecida por eles, mas como conhecia bem o centro de Milão, e não tinha muita fome no momento, aproveitei para passar no meu café favorito daquela região. E foi ai que o destino me presenteou naquele final de manhã de quinta-feira.
Assim que entrei no pequeno café, logo me deparei com um rosto familiar sentada sozinha numa mesa no canto, digitando rapidamente num computador.
-Adua! - Disse empolgada, e assim que seus olhos se desvencilharam da tela do computador, abri um sorriso enorme por estar vendo aquele azul-esverdeado brilhante pela primeira vez à luz do dia.
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POV ADUA
Sentei-me e logo comecei a digitar, pausando apenas para beber um pouco do meu café. Fazia tempo que não me sentia tão criativa e empolgada assim. Algo deve ter ajudado na minha inspiração.
-Adua! - Ouvi uma voz rouca familiar, e logo sabia quem era.
-Dayane! - Respondi na hora que a vi, torcendo para ter acertado a pronúncia de seu nome. - O que está fazendo aqui? - Perguntei rapidamente, antes que ela percebesse minha empolgação repentina.
-O meu ensaio, lembra? O estúdio se encontra a 2 quarteirões daqui. - Ela se apoiou na cadeira vazia a minha frente, e torci para que a puxasse para se sentar, mas continuou apenas apoiada.
-Que coincidência, eu também moro 2 quarteirões daqui, mas para o outro lado, sempre venho aqui.
-Sério?! Eu sempre venho nesse café também quando estou por perto, será que já nos esbarramos e nem percebemos? - A resposta era sim. Eu me lembro de ter encontrado com Dayane por duas vezes recentemente. A primeira, estava com Giuliano, e ela acompanhada de uma amiga. Na segunda, estava sentada nessa mesma mesa, mexendo no meu celular, e Dayane se sentou na mesa em frente por alguns minutos.
-Provavelmente... - Eu disse meio tímida, olhando para baixo. Se ela soubesse que lembrava exatamente desses encontros... - Quer se sentar? - Apontei para cadeira onde estava apoiada.
-Certeza? Não quero te atrapalhar. - Ela apontou para meu computador.
-Magina, não vai atrapalhar nada, estava precisando de uma pausa mesmo. - Eu respondi, fechando a tela.
-Ok, deixa só eu fazer meu pedido e já volto. - Ela sorriu e virou em direção ao balcão. Eu a acompanhei com o olhar, e antes que ela se virasse novamente, desviei o olhar para guardar meu computador na bolsa.
-Que bom te encontrar aqui, sério! - Ela disse na volta, deixando um café e um prato de salgado sobre a mesa, e puxando a cadeira para se sentar.
-Digo o mesmo. - Sorri em sua direção.
-O que estava escrevendo? Estava digitando tão rápido. - Ela imitou meus dedos se mexendo.
-Ah, não era nada. - Respondi envergonhada.
-Adua...me fala vai! Sou bem curiosa, já vou avisando. - Ela me disse enquanto tomava um gole do seu café.
-É só um roteiro. Eu tenho um projeto que tento realizar fazem anos, de escrever meu próprio filme, mas sempre acabo o colocando de lado. - Era incrível como eu tinha facilidade de contar as coisas para Dayane, bastava uma pergunta, e eu tinha vontade de começar a conta-la minha história inteira.
-Uau! Que talentosa! Deve estar incrível. - Ela abriu um belo sorriso.
-É só um rascunho, sempre acabo mudando tudo.
-Por que?
-Ah, sou meio perfeccionista. - A verdade era que eu era insegura mesmo, nunca tive coragem de compartilhar esse projeto com ninguém, nem com Giuliano, mas em um dia na minha vida, Dayane já era a primeira a saber dele.
-Bom, então quando esse filme ficar pronto, não espero nada menos do que um Oscar de melhor roteiro. - Ela piscou em minha direção, eu dei uma risada sem graça de volta.
-Como está sendo seu ensaio? - Era a minha vez de saber um pouco sobre seu dia.
-Pra ser bem sincera, está estressante. Eu não sou muito fã dessa equipe que está liderando o ensaio de hoje, e por muitas vezes, tenho que me segurar para não falar besteira. - Ela apoiou o rosto em uma das mãos, enquanto a outra mexia no copo de café a sua frente.
-Algum motivo específico para isso? - Eu percebi que ela queria desabafar sobre o assunto.
-Eu não gosto de alguns comentários que eles fazem, não são diretamente violentos ou preconceituosos, mas não são nada agradáveis. Mas eu estou num momento da minha vida que não posso ficar recusando trabalho por causa de algumas pessoas que vão estar presentes. Já fui recusada em alguns trabalhos por causa da minha personalidade forte, então ultimamente ando me controlando mais. - Eu a olhei, meio que pedindo para ela continuar a falar. - Eu tenho uma filha pequena para cuidar, sabe, qualquer dinheiro é bem-vindo, e essa vida de modelo não é nada estável, por isso preciso me esforçar para ignorar várias coisas nessa indústria, mas se Deus quiser, logo logo abrirei meu próprio negócio, e poderei ficar mais tranquila.
-Você quer abrir um estúdio fotográfico?
-Não. Eu penso em abrir um salão de beleza. Meu irmão é dono de um, e eu sempre me interessei por essa área. - Ela voltou a sorrir. - E eu quero abrir algo em que eu possa oferecer emprego para imigrantes. - Quando ela falou aquilo, um arrepio correu em meu corpo, pois na hora eu lembrei que Dayane também era imigrante, e que talvez tenha sofrido bastante por causa disso, e ainda sofrera.
-Que belo projeto. Você é do Brasil né? - Perguntei, mesmo já sabendo a resposta.
-Sim, brasileira com muito orgulho. - Ela soltou um sorriso enorme.
-Conhece muitos imigrantes que precisam de ajuda?
-Não muitos, mas tenho o plano de me envolver mais com isso, antes de abrir o salão, quero ter bastante contato com pessoas que estão precisando de ajuda. - Ela falava sobre o assunto com muito orgulho e segurança.
-Bom, quem sabe quando eu começar a gravar meu filme, eu não possa ajudar alguns também. - Essa era a primeira vez que eu falava concretamente em tirar o roteiro do papel para torná-lo realidade, algo em Dayane me fazia querer sonhar.
-Isso seria incrível, aposto que existem muitos por aí que sonham em atuar em um blockbuster! - Ela sorriu imediatamente. - E quem sabe dividirão o papel principal com você. - Fiquei feliz ao ouvir aquela frase, pois significava que Dayane havia olhado meu perfil no Instagram e viu que era atriz, e não apenas respondido minhas mensagens.
Nós ficamos ali conversando mais sobre o assunto. Eu a contei um pouco mais sobre minhas paixões em atuar, escrever e cantar, e ela me contou como chegou na carreira de modelo, e como teve que se adaptar depois de ter Sofia, sua filha. Para mim, a sensação era de que havia apenas nós no local, e de que o tempo havia parado. Conhecia Dayane apenas de vista, nos poucos encontros acidentais que tive com ela, mas a mulher linda que chamou minha atenção na primeira vez em um evento alguns anos atrás, era ainda mais maravilhosa por dentro. Dayane Mello esbanjava elegância por fora, e por dentro, ela era uma das mulheres mais fortes e batalhadoras que havia conhecido.
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Everything Has Changed
FanfictionAlgumas pessoas estão destinadas a se encontrarem, para que suas vidas mudem de um dia para o outro. Mas nem sempre esses encontros acontecem no momento certo... Oi! Obrigada por clicar na minha fic, espero que goste! Não tenha medo de deixar suas o...