Enfim, chegamos à dita casa. "Casa” parecia um apelido fofo. Aquilo era um castelo do mundo contemporâneo! Havia um jardim realmente grande, sem nenhum exagero, com alguns canteiros organizandos e bem cuidados, além de um play ground do lado esquerdo. A casa em si deveria ter cerca de três ou quatro andares, era toda branca com um estilo meio grego, meio atual, com quatro colunas segurando o telhado de uma varanda grande e muito bela, aparentando ser bastante confortável. Havia um cachorro de três cabeças cochilando no jardim, e aparentemente ele tinha o tamanho de uma picape. E, bem a nossa frente, um grande e pesado portão, com um símbolo unido de Hades e Apolo feito em metal preso em frente. Me questionei como era para abrir aquela coisa, mas nosso anfitrião simplesmente deu um chute no portão e o abriu com um estrondo. Fiquei encucado com o fato de que o símbolo de Hades e Apolo no portão. O que era toda essa coisa?
- sejam bem vindos à nossa casa - recebeu o cara de preto - meu marido deve estar louco me esperando - riu ele.
- hã, o cachorro não vai nos fazer mal, vai? - perguntou Will temeroso
- não, ele já os conhece muito bem - veio a resposta.
Nosso anfitrião foi a passos rápidos até a porta que levava ao interior da mansão, e fizemos um esforço para seguí-lo. O portão se fechou sozinho as nossas costas. Quando finalmente entramos, o cara de preto havia tirado a máscara, mas estava com a face afundada no pescoço de um outro homem, desta vez loiro, que supus ser seu esposo. Eles murmuravam coisas desconexas sobre preocupação em italiano, e o clima entre eles era de puro amor. Mas eu e Will ficamos levemente constrangidos, encarando a cena. O pior foi que, imediatamente, me imaginei no lugar deles, com Will em meus braços murmurando sobre estarmos preocupados um com o outro. Afastei o pensamento, agora definitivamente não era hora para pensar no quanto eu amava e desejava Will. Pigarreei, chamando a atenção do casal. Eu era bom em quebrar o clima bom. Eles lembraram que estávamos ali e se desgrudaram. Ou quase isso. Agora o rosto de ambos era claro. Um deles reconheci como o Will de 35 anos, o que já foi o suficiente para me deixar sem fala. Mas o choque mesmo, foi saber quem nos trouxe. Era impossível não reconhecer, apesar de ele estar notavelmente mais belo e saudável.
Era o cara do espelho. Era meu eu de 34 anos.Não me lembro de ter desmaiado, mas acordei em uma cama que não era a minha. Era uma cama de casal, e apagado ao meu lado, estava o Will do meu tempo. Acho que nós dois entramos em um choque um tanto forte, mas não era todo dia que se encontrava você mesmo no futuro casado com seu crush. Mas aquilo não fazia sentido. Naquela mesma manhã, Will estava flertando com Paulo Montes! Por que casaria comigo?
Deixei as dúvidas na cama e levantei, olhando o quarto. Era branco com piso de madeira polida, e continha apenas a cama, um guarda roupa, uma janela, dois criados-mudos dos lados da cama com abajures em cima e uma tomada para cada criado-mudo. Todos os móveis eram de madeira e eram simples, mas de boa qualidade. Haviam também duas portas. Uma levava à um corredor da casa, a outra era um banheiro. Lavei um pouco o rosto e depois averiguei o guarda roupa. Nossos pertences estavam guardados lá, incluindo minha espada e um arco (que certamente era de Will).
Saí do quarto, encontrei a escada que levava ao andar em que estávamos e desci silencioso. Vi um portal que levava à cozinha, e eu e o Will do futuro estavam sentados à mesa, com xícaras em mãos, conversando baixinho. Bati de leve no arco do portal, chamando a atenção deles.
- hey - disse o Will - como você está?
- confuso - respondi um pouco aéreo, ainda um pouco incrédulo por saber que casaria com o cara que amava. Eles deram risadas leves, e meu eu do futuro puxou uma terceira cadeira me fazendo um convite silencioso. O Will do futuro serviu uma terceira xícara de chá, que notei ser chá de sidreira (um chá calmante naturalmente doce), e me ofereceu. Sentei-me com eles, ainda um pouco perplexo.
- então... Eu vou me casar com...? - indiquei o andar de cima com a cabeça, onde Will do meu tempo provavelmente ainda estava subconsciente.
- por incrível que pareça, sim. - meu eu do futuro riu - quase não acreditei quando um certo alguém me prensou na parede do 13...
- e olha que foi puro impulso - respondeu Willy (para economizar palavras e paciência, o Will do futuro eu vou chamar de Willy e o do meu tempo vou chamar só de Will) - pior foi quando... - meu eu interrompeu: - por favor, não cite isso! Eu sei o que você iria dizer!
- ok, foi mal.
- am, vocês podem me dizer o que foi tudo aquilo? O ataque, eu e ele termos que ser resgatados...? - perguntei
- bom, se você prometer repassar as informações ao seu futuro marido - o Willy disse, com um sorrisinho.
Me encabulei com a fala e confirmei com a cabeça. Meu eu fez um sinal para esperar e foi até a sala. Voltou com um embrulho de manta lilás nos braços. Afastou um pouco a manta para que eu pudesse enxergar.
- este pequeno tesouro é a causadora de tudo isso.
O "tesouro” nos braços dele era uma menina de poucos meses de vida, com olhos azuis escuros, sardas e pele oliva - como a minha um dia fora.
- essa garota representa dois lados de uma mesma balança. Ela representa equilíbrio, e isso por si só já frustra os planos de muitos seres do mal - explicou meu eu - ela tem a proteção divina para crescer, como garantia de paz no nosso mundo. E, como estratégia para acabar com esse equilíbrio, os deuses do mal estão em um complô para destruir eu e Will antes que possamos ter filhos. Por isso, teremos que manter vocês aqui até que possamos destruir esse complô.
- mas nós não podemos ajudar? - a adrenalina já estava querendo tomar conta de minhas veias.
- em campo de batalha, ainda não. Mas podem ajudar de outras formas. - comentou Willy.
- que formas?
Eles se entreolharam, depois olharam para o bebê, e então, me encararam.
- possivelmente, sairemos em algumas missões nesse período - disse meu eu - então vocês ficaram com a tarefa mais importante de toda essa história: cuidar da nossa Maria aqui.
Ele pôs a menina no meu colo e eu imediatamente entrei em pânico. Nunca sequer havia segurado um bebê antes, que dirá cuidar! Ajeitei ela o melhor que pude.
- se acalme - disse Willy - você vai saber o que fazer e quando tiver que fazer, garanto.
- fique um pouco com ela para se acostumar. Qualquer coisa, estamos aqui - falou meu eu.
Meu eu se levantou e disse que iria cuidar da horta nos fundos da casa. Willy disse que teria que ir trabalhar. Assim eles saíram e me deixaram com Maria. Fiquei encarando ela por alguns minutos. Ela me encarou de volta. Começou a esticar as mãozinhas para fora da manta, como se estivesse procurando algo. Sem saber o que fazer, segurei uma de seus mãos. Imediatamente, quis recuar. Minhas mãos eram ásperas e calejadas, devido às lutas e aos serviços no acampamento, além de frias em comparação as mãozinhas fofas de Maria. Mas ela agarrou minha mão e não quis mais soltar. Se abraçou nela e fechou os olhinhos. Não sou nenhum filho de Hipnos, mas senti quando ela dormiu. Nesse momento, ouvi som de passos hesitantes na escada. Will surgiu no portal da cozinha, me olhando de forma questionadora. Indiquei uma cadeira para ele, e Will logo se sentou.
- onde eles estão?- foi a primeira coisa que me perguntou. Respondi todas as suas perguntas as quais sabia a resposta.
- quer dizer... Nós vamos... Casar?! E ter uma filha?!
- é, nós vamos.
Will ficou calado e pálido após tudo o que lhe disse, isso durou alguns bons minutos, até que ele disse:
- não consigo acreditar.
- essas notícias são tão ruins assim?
- não! - ele ficou meio desesperado para me corrigir - não é isso, é que... Eu... Meio que queria muito que isso acontecesse.
Olhei para ele com certa incredulidade, mas Will estava com a cabeça baixa e meio vermelho.
- é sério? Você queria mesmo?
- é.
- você nunca demonstrou.
- é que... É... Eu... Tinha muita vergonha e... Meio que não sou suficiente.
- suficiente?
- você luta, você aguenta bem a dor, você sabe esconder quando se sente mal, você é corajoso, você é comunicativo mesmo que não perceba, você é determinado, você é lindo, você é inteligente, você é esperto, você é sábio, você é incrível! E eu sou o curandeiro.
Nunca imaginei que Will se sentisse tão inferior. Se bem que... Eu nunca me senti nada do que ele disse que sou e que sei. No fim das contas, tínhamos isso em comum.
- você é forte, você é resistente, você é gentil, você sabe lidar com coisas vivas, você também é corajoso, e lindo, você é bem humorado, você é engraçado, você é fofo, você é persistente até demais, você... Não tem medo de mim. Foi graças a você que o acampamento parou de me ver como um demônio, e começou a me ver como um semideus. Você me fez e faz um bem que nem imagina. Você é um dos primeiros a conseguir minha confiança, a não me julgar pelo meu passado, pela minha orientação, pela minha aparência, pelo meu parentesco. Você conquistou o meu amor sem se esforçar, isso por si só já bastava mas aí você chega e se prova ainda melhor! Como você foi se achar insuficiente?!
- eu não sei. Não consigo me ver através dos seus olhos.
- nem eu consigo me ver através dos seus. Então estamos quites?
- sim, mas talvez mais que quites.
Interpretei sua fala com seu olhar. Will havia falado com um tom sugestivo, e seu olhar dizia o mesmo que o tom. Aceitei internamente a proposta e me aproximei um pouco. Will deu o último passo selando nossas bocas. É difícil dizer o que houve naquele momento, e até hoje é difícil dizer. Foi como uma explosão de tesão, ternura, carinho, paixão e amor com o gosto dos lábios e da língua dele.
Nos separamos ofegantes, os maiores sorrisos do mundo estampando nossas bocas, agora inchadas devido ao ósculo. Porém, ouvimos um gritinho agudo e uma risadinha fofa e gostosa. Maria havia acordado, e aparentemente, havia presenciado o beijo. Rimos da reação fofinha dela, e Will quis segurá-la um pouquinho. Tomamos um pouco de liberdade e nos sentamos no sofá, abraçados e com Maria passando de um para o outro volta e meia, recebendo carinho e dengo de nós dois.
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Descobertas inusitadas - solangelo
Fanfic"aquilo era mesmo possível? a magia nos levou ao futuro? e quem nos trouxe? por que justamente nós? como sempre, inúmeras perguntas sem qualquer resposta rondavam minha cabeça enquanto o cara de sobretudo, máscara e óculos escuros nos guiava pelas r...