4: Barreiras sentimentais

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  Ele era alto, esguio e usava seu uniforme de uma maneira que fazia parecer com uma roupa da família real. Era um suéter regata bege clara com bordas cor vinho, uma blusa manga longa social branca por baixo onde suas golas ficavam por cima do suéter. Uma calça e um sapato preto e o nome na pequenina placa dourada que bruxuleava no lado esquerdo do peito, junto do símbolo azul escuro e vinho do uniforme que ficava do lado direto.
  Ele passava a maior parte de seu tempo na biblioteca da escola na ala de direito, ele cheirava a livros de biblioteca. Seu quarto amontoado de livros que não haviam onde guardar, a luz amarela acesa de noite e a cortina quase sempre fechada.
Park Sunghoon era uma figura interessante. Um dia, essa figura estava na porta da casa de Jake, de pé e segurando a alça da mochila azul marinho.
  Já estava entardecendo, o Sol estava laranja. O cabelo preto de Park voava leve com a brisa que fazia dançar os botões de cerejeiras da primavera. Ele tinha um rosto sério, um rosto o qual se você olhasse com profundidade e compaixão, poderia perceber que eram as feições de alguém que não queria estar fazendo aquelas coisas.

  Ele estava lá porque numa semana passada a mãe de Shim foi convocada para conversar com seu professor. Ele tinha notas ruins em coreano.
Jake estava sentado ao seu lado, ouvindo a conversa sem profundidade e vontade.
— Podemos chamar um aluno para orientá-lo, certo? — sugeriu o professor.
  Sua mãe mexia a cabeça com conformidade.
— Mas… por favor, não mande nenhum garoto.
  O professor inclinou a cabeça em consternação. Shim não se moveu, seu corpo estava empertigado na mesma posição por todos aqueles minutos.
  Na volta para casa chovia forte, então o trânsito estava lento. As luzes dos carros refletiam nas gotas que apostavam corrida na janela.
— Pode enviar um garoto se precisar. — Jake disse num suspiro sem expectativas.
— Tenho medo de se machucar.
— Não é porque gosto de meninos que vou me apaixonar por todos. Você gostava de todo homem que via por aí?
  Sua mãe abriu uma balinha de iogurte e colocou na boca, segurando o volante e olhando para o horizonte da avenida.
— Uma paixão hétero pode machucar, então as homossexuais também. Você me disse que era amor e que não importava se era homem ou mulher na sua vida, então tenho que considerar que se é igual, pode machucar também. Doeria se você gostasse de um garoto hétero, não é?
  Ele concordou, derrotado pelas palavras de sua mãe.
  O problema era que, naquele dia, Park Sunghoon apareceu em sua porta, — e ele era lindo.

                        O Estranho

  A mãe de Shim ficou parada ao ver o garoto esguio em sua frente, como ela era recatada, pediu a ele para entrar.
  Jake estava em seu quarto e viu Park pela janela. Enquanto ele estava na espera de alguém atendê-lo no portão, não pôde deixar de encará-lo.
  De repente, estava na porta de seu quarto. Se cumprimentaram desviando seus olhares, Sunghoon não se sentava em lugar algum; ficou apenas de pé. Ele estava encostado na parede com suas mãos entrelaçadas e sua mochila azul agora em suas costas.
  Jake saiu de seu quarto para espiar sua mãe e sua reação. Como esperado, ela já estava ao telefone.
— Eu pedi para não enviar um garoto, professor.
— Ele está em primeiro lugar em coreano de toda sua série. É um menino quieto, não vai dar trabalho. Seus pais também gostam da ideia de ajudar.
— Eu vou deixar ele ensinar ao Jaeyoon coreano, portanto, não vou esquecer desse despautério. Eu tinha meus motivos.
  Aquilo deixava Jake cabisbaixo: a super-proteção de sua mãe. Ele pensava que ter dito sobre sua atração para ela foi um erro, pois desde aquele momento, parecia que ela só deixava um garoto se aproximar caso fossem se casar.
  Ele estava exausto mentalmente. Cambaleou até seu quarto, se assustando ao ver Sunghoon na mesma posição que estava quando saiu.
— Pode se sentar. — apontou para uma cadeira em frente a uma mesa.
— Prefiro ficar de pé. Obrigado.
Assim como sua mãe, Park parecia ser recatado.
— Então, qual sua dificuldade em coreano? — indagou candidamente.

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