"Então você é uma espécie de deusa de outro mundo, que serviu de fonte para o segredo da 'imortalidade' da espécie que te adotou, digamos assim, foi torturada, teve suas memórias apagadas, e o seu ex te expôs isso depois de aniquilar o planeta inteiro? É, temos muito que trabalhar aqui."
A sugestão de Yaz foi que, além de procurar pistas sobre o passado da Doutora por aqui e ali, ela fizesse algumas sessões de terapia. Terapia! A Doutora nunca havia passado por uma consulta psicológica e estava muito bem, muito obrigada. Tirando os surtos e aquele complexo de deus da sua décima encarnação, e a inabilidade da sua atual de expressar seus sentimentos, não havia problema algum. Inclusive, terapia não era nem algo que existia em Gallifrey. O que não era bem um ponto positivo, já que lá todo mundo usava aquela espécie de colar cervical dourado no pescoço, acreditava em meritocracia e gostava de matar presidente porque instabilidade política é o tipo de novela que eles curtem assistir.
"É, não é bem um ex...", a Doutora respondeu. Ela estava sentada com as pernas cruzadas no sofá, para o desgosto da psicóloga, uma humanoide de uma antiga colônia de Gallifrey. "A gente nunca chegou a tirar o divórcio. Eu tentei algumas vezes na minha sexta encarnação. Pensando bem, hoje, acho que ele foi o meu eu mais sensato."
"E não conseguiu? Por que?"
"É complicado."
A psicóloga a examinou por cima dos óculos, e escreveu alguma coisa no papel em sua prancheta. Isso a irritava, esse senso de julgamento dos psicólogos, como se ela pudesse se colocar no lugar da Doutora e tomar as decisões que ela havia tomado.
Ela observava a Doutora, depois voltava a escrever, e olhava de novo, e voltava a escrever...
"Tá fazendo um desenho meu aí?", perguntou a Doutora.
A terapeuta pousou a caneta por um momento, e voltou a se concentrar no rosto da Senhora do Tempo.
"Me parece que esse Mestre, seu marido, interpreta um papel na sua vida muito mais importante do que você mesma quer admitir. Junto com sua terapia comigo, eu recomendo que vocês procurem terapia de casal."
"O QUE??", a Doutora se levantou subitamente do sofá, quase caindo no chão. "Desculpa, mas nem fodendo. Eu nem sei onde ele tá, e também não ligo, espero que seja na casa do caralho. Eu devia ter dado continuidade no divórcio, senão nem estaria tendo essa conversa com você."
"Ordens médicas, Doutora. Não importa se você é uma deusa de outro mundo, a vida que você conhece é marcada pela presença dele. Mais do que eu posso compreender. Por isso preciso trabalhar em conjunto com uma terapeuta de casais para resolver o problema entre vocês e, especialmente, com você. Se quiser continuar casada com ele ou não, é outra história. Mas esse tipo de relação é extremamente tóxica, e se vocês, principalmente você, não começar a usar a ferramenta do diálogo, as coisas só vão afundar ainda mais."
A Doutora ficou paralisada por um momento, tentando absorver o impacto do soco.
"Pra uma psicóloga você é linha-dura, hein?"
Voltando a anotar em sua prancheta, ela olhou por cima do óculos novamente: "Eu tenho experiência com Senhores do Tempo que vêm até aqui procurar terapia, tudo um bando de pau no cu. Toma", ela lhe entregou um papel, "o contato da terapeuta, indicação minha. Marque o mais rápido o possível. E se você não fizer isso, ou tentar fugir, saiba que eu tenho o contato da sua amiga Yasmin Khan, e ela disse que iria usar qualquer método pra te trazer aqui. Boa sorte, a sessão de hoje acabou. Agora pode pegar a porra do seu pirulito na recepção."
*****
Já na saída da consulta à caminho da TARDIS, e com o pirulito na boca, a Doutora pensava em meios que poderia usar para contatar o Mestre. Ela poderia traçar sua biodata com a TARDIS, mas havia tentado isso recentemente e não teve resultados. Então, a melhor solução no momento era a mais improvável. Ela retirou o celular do bolso e abriu o aplicativo do WhatsApp:
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Pelo Resto de Nossas Vidas
RomanceO casamento do Doutor e do Mestre, os aniversários, divórcios falhos e reconciliações. Em homenagem aos 50 anos do Mestre, e 50 anos de Thoschei.