London,
Hyde Park Square, 1811Lady St. Catterfield fora arrancada do sono pelas lambidas insistentes de Pandora em seu rosto. A cadela pulou na cama espaçosa, afundando no colchão juntamente com Hades e Barth. A pelagem dos três Rottweilers entraram no campo de visão de Dominique, fazendo-a pôr os travesseiros ao lado da cabeça.
Barth latiu, babando a barra de sua camisola branca, deliciando-se com o tecido do traje de dormir que uma das modistas mais caras de Londres havia feito para ela. Dominique desapareceu dentro das cobertas grossas, recusando-se a ser impelida por três cachorros enlouquecidos. Nesse ínterim, fora a vez de Hades latir empolgado aos seus ouvidos, obrigando-a a abandonar o leito convidativo para mais uma manhã insossa, naquela cidade igualmente insossa - desprovida de qualquer atrativo que valesse sua energia.
__ Está bem, está bem! Já estou de pé! Felizes?__ Eles latiram em uníssono, abanando o rabo em afirmativa.__ Que ótimo!
Contrariando sua exasperação, ela sorriu.
Seu quarto estava uma completa bagunça graças a eles. Pobre Srta. Thompson. A jovem governanta por certo enfartaria quando visse a algazarra que os três cachorros haviam feito no aposento da patroa. Dominique não a culparia caso ela resolvesse pedir suas contas, e a abandonasse a própria sorte no casarão antigo. A Srta. Thompson a alertara sobre adotar aquelas feras - fora desse modo que ela se referira as bolas de pelo inofensivas -, quando lorde Beckham as trouxera a Santley Hill há pouco menos de um mês.
Atendendo ao último pedido de sua mãe, Dominique se estabelecera na propriedade da família em Hyde Park Square como ela desejava. Indo contra sua própria vontade, deixara o campo onde Kate a esperava todas as tardes para dividir, e ouvir banalidades que não lhe serviriam para nada, apenas por querer mais tempo na companhia dela. A filha do reverendo enfim havia aceitado seu pedido, mas já era tarde.
Emma falecera na noite em que havia apresentado certa melhora, deixando-a sozinha no mundo. Dominique ansiou por firmar raízes no campo, e posteriormente, trazer Kate para viver com ela como sua igual, todavia o choro lamurioso da mãe ressoava nos recônditos de sua mente sempre que fechava os olhos.
Meses antes
A iluminação fúlgida refletia a debilidade da viscondessa. Suas feições outrora suaves, se converteram em rigidez. A textura sedosa da pele branca havia sido substituída por um aspecto rugoso. Dominique tomou um lugar no colchão, tocando a testa quente da mãe com desvelo. O tom de mel das madeixas de Emma havia perdido o brilho e a maciez, estavam quebradiços, espessos. Sua respiração fraca denotava cansaço.
Ela examinou o semblante abatido da mãe cuidadosamente, desejando que as coisas voltassem a ser do modo que eram antes daquela doença maldita. Emma definhava nos lençóis encharcados de suor, e ela se via sem alternativas para dar fim ao seu sofrimento. Recorrera aos melhores médicos de Londres, e todos haviam emitido a mesma opinião sobre o estado da viscondessa de Catterfield. Só por um milagre as úlceras parariam de avançar.
__ Mamãe?__ Dominique chamou, controlando a voz embargada, esboçando um sorriso doce para disfarçar o quão miserável e exausta estava se sentindo. Ela passou o polegar nos pelos da sobrancelha assanhada da mãe com carinho, sem nunca de fato deixar de olhar para o rosto dela.
__ Sim, querida?__ Emma abriu os olhos verdes, tentando focar no rosto jovem da filha.
__ Como se sente esta noite?__ Dominique sondou, oferecendo um sorriso de canto à ela com o óbvio intuito de afugentar a morbidez em que o aposento pessoal havia mergulhado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A perdição de Ava
RomantikDominque Santley fora criada longe das convenções sociais, vivera toda a sua vida reclusa no campo, fora do alcance dos olhares conservadores da alta sociedade. Entretanto, as coisas nunca permanecem as mesmas por muito tempo. Ela deveria saber. Ant...