CAPÍTULO 2

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Antes de casar-se com Elijah, Ava atendia pelo honorífico de ladie. Seu pai havia ascendido rapidamente no mundo dos negócios, acumulando uma fortuna absurda nas Índias Ocidentais, França, nova Ásia e Escócia. Theodore Trentworth tornara-se um dos homens mais conceituados do norte da Inglaterra. Dono de uma índole ímpar, e vontade férrea, sua confiança de fato lhe era motivo de vaidade. Com a riqueza que passara a possuir, privilégios sucederam-se naturalmente.

Ava era ainda muito nova para compreender a mudança drástica que ocorrera na vida simples que levavam após a compra do título. E embora a nobreza não os considerasse dignos de seu meio incólume, Theodore ficava mais rico a cada contrato assinado. Ele nunca estimara a opinião insignificante de nobres com fundos vazios, e não começaria a fazê-lo.

A falecida esposa o deixara ciente das lacunas vazias que provieram com sua morte precoce, e que ele fervorosamente tentava preencher. Theodore não esperava ter de desposar outra mulher tão cedo, temia que de alguma forma, perdesse mais uma companheira, mas Ava estava crescendo.

A menina levantava questionamentos aos quais ele não tinha respostas que satisfizessem sua curiosidade, ela precisava de uma figura materna para orientá-la.

Então, na primavera de 1823, Esme Dufor aceitara por fim o pedido que ele havia lhe feito no hall de seu Château na França. Ela era somente quatro anos mais jovem que Theodore. A dama acreditava piamente nos princípios básicos, e os repassara para Ava quando a menina já apresentava ter o entendimento necessário para compreender seu lugar, e a posição que ocuparia um dia.

Sua infância fora como a de qualquer outra criança. Ela teve incontáveis preceptoras, de idades e métodos diferentes, mas nenhuma fora capaz de dobrá-la aos caprichos da sociedade que esperava mais dela do que qualquer outra dama bem-nascida.

As lembranças da mãe biológica eram um borrão em sua mente. Ela não se recordava do rosto, ou dos cachos escuros de Harriet. Tampouco, sentia saudades de sua progenitora.

Esme Trentworth fora a única mãe que ela conhecera, e agradecia pela boa criação que recebera dela. Alguns anos na França foram responsáveis por atenuar o caráter duro da moça. Com o seu regresso, apenas uma temporada provou-se ser necessária para que propostas das mais variadas batessem à porta de Trentworth House.

A falsa cortesia, o sorriso doce, e a mente afiada de Lady Ava renderam corujas distintas da alta classe, as mesmas corujas que constituíam os salões de bailes londrinos há décadas, e a subestimavam. Ela os encantara com gentileza. Não havia nada de simplório na beleza da jovem, muito menos em seu dote exorbitante.

Lady Ava despontou para somar, não subtrair.

A filha do conde de Kingston ficara deslumbrada com a visita do jovem senhor Santley numa dessas manhãs costumeiras de onde nada se espera. Na ocasião, o jardim  guardava brotos de tulipas vermelhas e o sol brilhava forte por entre as nuvens brancas.

Uma raridade em Londres.

Diferente de Theodore, Elijah Santley não usufruía de um título, ou de propriedades ancestrais, entretanto, detinha de bons punhados de terra e um dos sobrenomes mais respeitados da sociedade. Quando ele pisou no pátio elipsoidal de Trentworth House decidido a pedir permissão para cortejá-la, Ava o quis.

A boa impressão que causara nela havia selado o destino de ambos seis meses atrás. Ela não quis que ele prolongasse a corte, sabia que o queria, e Theodore não encontrara outra alternativa a não ser casá-los de uma vez.

A perdição de Ava Onde histórias criam vida. Descubra agora