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Orlaith e eu estávamos na parte de trás do castelo, observando a floresta e os seres nela.
Apenas naquela pequena parte em nosso campo de visão, haviam mais de três espécies, interagindo como iguais.
As fadinhas brincavam com os filhotes de unicórnios na clareira. Os elfos menores se banhavam no lago pouco distante e junto deles, haviam algumas crianças meio-mortais.
- Como poderíamos impedir isso? - Indagou Orlaith, com o olhar para as crianças. Ela suspirou pesadamente - preciso espairecer.
Olhei para ela e entendi o que ela queria dizer.
- Vá em frente - motivei.
Ela sorriu antes de correr. Ao ganhar velocidade, ela já corria com quatro patas, as escamas surgiram depois. Por último, as assas.
A transformação era rápida, em menos de um minuto, Orlaith já era um dragão e voava para o céu. Como se pudesse chegar ao pós-céu.
Todos do reino sabiam que Davina era fada e Orlaith era dragônica, eu era a única que fingia ser uma naturalis do ar e animalis com assas de pássaro, por segurança a mim e a eles.
Quando o corpo de Orlaith era apenas um pontinho preto no céu, voltei o olhar as crianças, elas admiravam a rainha que a segundos parecia uma meio-mortal.
Seus olhares voltaram-se a mim, como se esperando que eu fizesse algo incrível também.
Apenas caminhei até eles, parando na beira do lago.
As crianças que brincavam na clareira correram para perto do lado, a fim de ver um pouco mais o dragão que sumia nas nuvens.
- Como ela fez aquilo? - Uma garotinha indagou.
- Quero virar um dragão também! - Outra disse.
- Aí, Criançada - chamei-as - acho que posso ajuda-las a descobrirem do que são capazes.

- Dragônicos; feiticeiros; fadas; espectros; sugadores de sangue; elfos; naturalis; animalis e meio-mortais - repeti - não é tão difícil de decorar.
- Pode explicar mais uma vez? - Indagou um garotinho - não entendi o que são animalis e naturalis.
- Tudo começou após um evento denominado de Grande Divisão...
"Quando o pós-céu se fechou, foi como se toda a magia contida se libertasse. Os, até poucos séculos atrás denominados, humanos sofreram mutações com animais. Alguns ganharam orelhas mais pontudas ou até mesmo no topo da cabeça, outros, ganharam rabos, outros ganharam garras, realmente uma mistura. Estas criaturas ganharam mais vitalidade, sendo assim, nomeados meio-mortais.
Dragonicos tem origem em dragões que na Grande Divisão, ganharam a característica de virarem humanos, apenas um pequeno grupo de dragões foi atingido por este dom, a espécie se reproduziu e hoje, os Dragônicos não são tantos como os dragões, mas os tratam como irmãos.
Naturalis são meio-mortais que ao invés de traços animais, ganharam domínio sobre um dos elementos naturais, como água, terra, fogo e ar e alguns outros. Os animalis são meio-mortais que ao invés de ganhar características, ganharam a oportunidade de se transformar em algum tipo de animal por completo".
Expliquei as crianças sobre as criaturas mais complexas criadas com a Grande Divisão.
- A queda dos anjos impactou o mundo inteiro, estas espécies são a maior prova - finalizei.
- E os anjos? Onde estão? - Indagou uma menininha.
Meu olhar perdeu-se no chão.
- Sumiram. Sem esperança de retorno.
Eles ficaram tristes.
- Ora, não fiquem assim. Se quiserem vê-los, basta olhar para as estrelas, é onde cada alma retorna, para a luz de onde foi criada - eles sorriram e acrescentei - Deveriam estar animados! A mudança de estação é daqui a três dias!
De fato, eles se animaram e correram para a cidade comemorando. Fazendo-me voltar ao castelo aos risos.
A mudança de estação era um dos eventos mais esperados por todos, não poupávamos nada na comemoração.
Mal adentrei as portas laterais e encontrei Davina.
- Estava indo lhe procurar! - Ela disse levemente ofegante.
- O que aconteceu?
- Seu primo, está no salão do segundo andar, quer ver você.

Adentrei a sala e ele estava na janela, observando o movimento da cidade mais ao fundo da pequena aldeia em frente ao castelo, usada apenas para organizar e realizar eventos.
- Callan - chamei-o e ele virou-se para mim com um sorriso.
- E aí, Alilinn?
Um sorriso tedioso surgiu em meus lábios com o apelido.
- Como vai a vida de rainha? Ainda não enjoou de viver presa aqui?
- Primeiramente, não fico presa. Na verdade, não consigo me ver em outro lugar além de Calavar Smorb. Estou levemente entediada por conta da ausência de minha corte, mas amanhã eles já estarão aqui e farão com que eu deseje joga-los pela janela.
Callan riu.
- Como ele está? - Indaguei.
O sorriso de Callan vacilou.
- Sinceramente? Me admira que ainda esteja vivo.
- Ei!
- O que? Estou falando sério! A noiva dele fugiu para Tanithiwa com outro homem faz sete meses e até hoje ele não se recuperou. O reino do Sul perdeu um terço da população. Eles têm um governante, mas que não vêm, nem sabem se ainda está vivo, desistiu de lutar por eles.
Suspirei com as mãos perdidas nos cabelos.
- Tem que falar com ele - Callan disse.
- Não precisa dizer o que já pretendo fazer.
Callan ergueu as palmas das mãos para cima.
- Pode pelo menos me dizer o que pretende? Ou mais uma vez, guardará tudo para si?
- Vou traze-lo para Calavar Smorb. Seu irmão pode ocupar o cargo de regente do Sul por um tempo?
- Vou mandar um telegrafo - ele disse caminhando na direção do escritório. Ao passar por mim, sua mão aqueceu meu ombro por alguns segundos antes dele sumir no corredor
Meu irmão desistira de viver, estava morrendo...
Sem conseguir esperar, saltei pela janela com as assas já erguidas. Disparando para céu, ficando em uma altura considerável para as pessoas abaixo confundirem minhas assas de anjo com assas de um pássaro apenas.
Voei para Stanfayr, o reino do sul.

Quando Caí Do Céu • [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora