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   ― Ok, pode falar. Estou ouvindo ― eu disse, séria, cruzando os braços e olhando para ela, subitamente quieta depois do que eu disse.

   ― Certo. Uhm... Isso é uma carta do meu irmão, não é? ― ela perguntou, hesitante. Eu só assenti. ― Bom... Não sei o que diz aí, mas... Acredito que já saiba que eu não sou quem você achava que eu era.

   ― Você é uma princesa ― respondi, a frase que saía da minha própria boca ainda soava como loucura para mim. ― Uma princesa de verdade. De um país em guerra, pelo visto.

   ― Meu irmão fala sobre isso na carta? ― questionou Rosalía, a expressão de preocupação se tornando diferente. Imaginei que a preocupação consigo mesma - com o seu segredo revelado - começava a dar lugar a uma preocupação quanto ao conteúdo da carta, que, até onde ela sabia, podia trazer notícias ruins sobre a situação na sua terra natal. Vê-la naquele estado e pensar no que seu povo estava enfrentando naquele momento me deixou com um aperto no peito. Ninguém merecia passar por uma coisa dessas. Ninguém.

   ― Ele falou sim. Disse que isso tudo é culpa do seu tio, e avisou que ele está começando a interceptar as comunicações. Mas a carta é sua, você pode ler tudo com calma depois ― e lhe entreguei a folha e o envelope, vendo o olhar da minha colega recair sobre eles numa visível tentação de lê-los naquele momento mesmo, ignorando a descoberta do seu segredo mesmo que só por mais algum tempinho. Mas ela não fez isso, é claro. Só deu um suspiro e ergueu a cabeça de novo, encarando a situação que aquele acidente causou, como um verdadeiro membro da realeza faria. Transbordando elegância.

   ― Pois bem. Bom, é.... Basicamente isso. Meu país enfrenta uma guerra civil por causa da ganância transfóbica do meu tio, então meu irmão me enviou para longe para tentar me manter segura. Era muito importante que eu mantivesse a minha verdadeira identidade em segredo, afinal, ele não pode me encontrar. Então.... Eu estou disposta a te dar o que quiser em troca da sua promessa que não vai contar a ninguém sobre mim. ― Rosalía engoliu seco, parecendo nervosa. Eu só pisquei algumas vezes, confusa com o que havia me dito. Ela estava me oferecendo dinheiro para guardar o seu segredo?

   ― Espera, o quê?

   ― O que você quer? Dinheiro? Eu não tenho muito agora, mas eu posso pagá-la quando tudo se resolver.

   ― Hã? Não! Rosalía, eu entendo sua situação. Quer dizer, meu deus, você está fugindo de uma guerra contra uma pessoa que quer pegar você e seu irmão e jogar na prisão! Ou pior! Eu jamais te entregaria. Jamais. ― eu disse, sem desviar o olhar do dela, querendo deixar claro o quanto falava sério naquele momento.

   ― ...Por que se importa agora? ― ela questionou, erguendo as sobrancelhas.

   ― Uh... Porque tenho um mínimo de empatia quanto a pessoas enfrentando uma guerra civil? ― respondi, sem entender o motivo da pergunta. ― Achei que fosse óbvio ― mas a garota apenas deu de ombros.

   ― Depois que nosso próprio tio se virou contra nós, percebi que as pessoas são capazes de tudo ― ela soou chateada. E pude sentir no tom de voz dela a sua decepção. Ser traída desse jeito por quem devia ser sua família... Realmente era um golpe duro. Mais que qualquer outro.

   ― Rosalía ― chamei, no tom mais gentil possível. ― Você está a salvo comigo, ok? Não vou te entregar. Eu prometo ― e ela ficou em silêncio por um momento, só olhando pra mim, pensando se devia ceder, imaginei. Mas então finalmente vi seus ombros relaxarem e seu olhar abandonar o meu, parecendo tímido.

   ― ...Tudo bem. Vou confiar em você. Eu... Eu acho que não tenho escolha de qualquer forma.

   ― Ei. Somos colegas de apartamento. E sei lá, eu pelo menos espero que estejamos a caminho de ser amigas. Não quero que nada ruim aconteça ― eu disse, sendo sincera. Quando conversei com ela pelas mensagens e chamadas de vídeo, Rosalía pareceu uma garota legal. Estava falando sério quando dizia que queria ser amiga dela.

A Princesa e euOnde histórias criam vida. Descubra agora