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   ― Isabella! Consegui um emprego!

   Ela disse, sentando no sofá ao meu lado, enquanto eu olhava para Rosalía com surpresa ao ouvir aquele anúncio.

   Depois da transformação no visual, a princesa se sentia mais segura para andar por aí com a confiança de que não veriam nela alguém além de quem ela dizia ser: Lia, uma jovem estrangeira apenas conhecendo um lugar diferente. Já familiarizada com os arredores do nosso prédio e alguns lugares da cidade depois de alguns passeios comigo e sozinha, a cada dia que passava ela se parecia mais com uma autêntica paulistana. Já era hora de encontrar um emprego para garantir a sua segurança financeira, por mais simples que fosse. E foi nesse tipo de vaga que focamos na nossa busca.

   Não importava qualquer conhecimento que ela tivesse, afinal não podíamos falar sua verdadeira identidade nem sobre sua vida antes de chegar aqui. Então procuramos empregos que fossem mais simples, como caixa de supermercado e garçonete. Concordamos que o ideal seria encontrar algo que não fosse muito longe de casa, principalmente depois que ela conheceu a provação infernal mais conhecida como metrô de São Paulo em horário de pico. Então passeamos pelas ruas em busca de uma vaga para ela.

   Nossa busca não deu resultados imediatos, como eu esperava. O mercado de trabalho anda uma droga já faz um tempo, então arrumar uma contratação não seria nada fácil. Por isso definitivamente não esperava que ela aparecesse subitamente empregada.

   ― O quê? Mas que emprego que você arrumou?

   ― Garçonete, num restaurante. Não é tão perto daqui quanto eu gostaria, mas não parece ruim. Fiz o que você falou e fiquei atenta ao que estavam me oferecendo. Parece justo ― e eu ergui as sobrancelhas, duvidando um pouco. Eu avisei que muitas vagas não ofereciam um pagamento justo para o que pediam, pedindo que tomasse cuidado com os trabalhos que encontrasse pois alguns valiam menos a pena que ficar em casa sem trabalhar. Então claro que me perguntei o que ela havia aceitado fazer afinal.

   ― Você tem certeza que está tudo certo?

   ― Eu acho que sim. Mas ainda não é definitivo. Eu vou ficar em teste por um mês, só se eu for bem vão me contratar de verdade.

   ― Ah, ok. Normal. Acha que vai conseguir? ― eu perguntei, preocupada, admito. Ela era uma princesa e com certeza não estava acostumada a servir ninguém. Não duvidaria que ela nunca tivesse feito nada parecido.

   ― Acho que sim. Quer dizer, eu vou receber treinamento lá, o que pode dar errado? ― e eu olhei para ela de sobrancelhas erguidas.

   ― Querida. A partir do momento que você fala isso, tudo pode dar errado ― ela riu da minha fala.

   ― Ah, não vou ser negativa. Vou dar o meu melhor e vai dar tudo certo ― disse, com um sorriso confiante.

   ― Queria eu ter essa paz no coração. Mas me fala sobre esse lugar. Como é lá?

   ― Bom. Limpinho, parece ― e eu ri, me divertindo com as prioridades dela.

   ― Isso é importante, claro.

   ― Eu não trabalharia num lugar sujo, nunca! Ainda mais um restaurante! ― exclamou, me fazendo rir mais ainda, dessa vez ela rindo comigo.

   ― É um ótimo critério pra escolher um emprego. Agora é ficar na torcida pro pessoal de lá ser tranquilo.

   ― Por que não seria? Eu não pretendo ser rude com ninguém ― perguntou, inocente. Dei um suspiro.

   ― Olha, uma coisa que você precisa entender é que às vezes quando a gente trabalha acabamos conhecendo pessoas que não são tão boas. Pessoas que só pensam em si mesmas ou até que tentam prejudicar as outras sem motivo aparente. É ótimo que não vá ser rude com ninguém, pode até fazer alguns amigos, mas não pense que tem algo errado com você se alguém só não for com a sua cara.

A Princesa e euOnde histórias criam vida. Descubra agora