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   O processo de fazer tranças era bem mais complicado do que eu poderia imaginar. Aparentemente o processo levava 4 horas ou até mais dependendo do tamanho e tal. Mas observar a trancista trabalhar era quase hipnotizante. Ela movia os dedos entre os fios e as fibras com habilidade, e poder assistir o processo sendo feito me deixava feliz. E enquanto ela trabalhava, puxava assunto com Rosalía.

   ― Então, Lia ― dizia ela, sem tirar os olhos e o foco do que fazia. ― É sua primeira vez fazendo tranças?

   ― Ah, é sim. Eu nunca tive coragem de fazer antes ― contou, com timidez.

   ― Eu entendo. Acontece com muitas de nós. Você alisava o cabelo?

   ― Sim, quando era criança. Minha mãe sentia a pressão das... Pessoas ao redor. O padrão é ter cabelo liso, então era isso que ela tentava fazer em mim e nela própria, mesmo não querendo ― confidenciou Rosalía com um sorriso pesaroso.

   ― E o que mudou? Aliás, me avise se eu perguntar algo muito pessoal ou se só não quiser falar ― disse a trancista, erguendo o olhar para encontrar o dela no espelho em frente. Mas Rosalía apenas abriu um sorriso doce, compreensivo.

   ― Não, tudo bem. Não falo muito sobre isso, mas gostaria. É bom ter alguém com experiências como as minhas para dividir isso ― admitiu Rosalía, o que me fez abrir um pequeno sorriso. Era bom vê-la fazendo amizade, conversando, se misturando. Sendo uma garota comum. Com certeza estava sendo uma experiência nova para ela. E eu torcia que estivesse sendo boa. ― O que mudou foi que minha mãe faleceu. E naquele momento eu sentia tanta falta dela que só... Queria me conectar com ela de novo, de alguma forma. Então me lembrei de como ela falava que usaria o cabelo ao natural se pudesse. Ou que faria tranças, deixando bem clara a origem dela, a história dela. Então eu fiz a transição capilar. Assumi meus cachos e agora eu tive vontade de mudar o visual e pensei "Por que não?" ― e ela riu, acompanhada da trancista. ― Vi o seu trabalho online e achei tudo incrível, era exatamente o que eu queria para mim.

   ― Com certeza a sua mãe teria adorado ― eu disse antes mesmo de perceber que sequer abri a boca. Temi que aquela fala levada pelo momento fosse chateá-la, mas ao invés disso ela sorriu pra mim, aparentemente feliz por ouvir aquilo.

   ― Obrigada. Eu sei que ela está me vendo agora, de onde quer que esteja. E com certeza está feliz com o que estou fazendo ― ela respondeu.

   ― Não se preocupe, Lia. O resultado vai ficar incrível, com certeza. Eu sinto muito pela perda da sua mãe ― disse a trancista, empática, fazendo um carinho leve no ombro dela por um momento. ― Você ainda tem seu pai? Ou outros familiares?

   ― Tinha meu pai até recentemente. Mas ele também faleceu ― e Rosalía deu um sorriso triste. Era uma perda recente, então ainda devia doer muito. ― Mas felizmente ainda tenho meu irmão mais velho. Ele tem sido meu porto seguro desde que perdemos o nosso pai.

   ― Puxa, que pena. Pelo seu pai e tal. Mas seu irmão parece incrível. Ele também está na cidade?

   ― Não, não. Ele está na nossa terra natal. Eu sou estrangeira ― contou com um sorriso. E eu contive uma risada. A trancista apenas deixou a dela sair.

   ― Dá pra notar, querida ― ela disse o que nós duas pensamos. ― Pelo jeito que você fala. De onde você é? ― e notei que Rosalía desviou o olhar por um momento, pensando no que responder para não se comprometer, eu imaginei.

   ― Ah, da Europa ― então ela optou por uma resposta vaga. Mas a trancista não pareceu notar ou se incomodar, visto que só sorriu, interessada.

A Princesa e euOnde histórias criam vida. Descubra agora