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   A última coisa que uma garota espera ao procurar uma colega de apartamento é acabar morando junto com uma princesa. Às vezes eu paro e me pergunto: Como eu cheguei aqui, afinal? Bom, imagino que agora você deve estar se perguntando o mesmo. Vamos tentar de novo, do começo dessa vez.

   Eu me chamo Isabella. Sou uma jovem universitária comum e preocupada com coisas normais, como minhas notas e meu sustento. Eu estudo Análise de Sistemas, ou seja, estudo pra ser a garota do TI um dia, ou algo assim.

   Nada disso foi fácil. Apesar de ter crescido em São Paulo, quando terminei o ensino médio meus pais resolveram se mudar para o interior para curtir a merecida aposentadoria no campo, num lugar tranquilo. Mas eu, que ainda tinha uma vida toda de estudos e trabalho pela frente, não estava interessada na calmaria de uma cidade pequena. E, com muito custo - no caso dias e dias comigo implorando -, meus pais aceitaram me deixar aqui por conta própria para seguir os meus sonhos.

   Consegui uma bolsa boa o suficiente para custear o aluguel de um pequeno apartamento num prédio simples da zona leste, além de arcar com as contas básicas. Tudo parecia encaminhado para uma vida universitária tranquila e promissora, como eu sempre quis.

   Mas claro que não ficaria assim por muito tempo.

   Meu mundo caiu quando recebi um aviso do meu orientador, dizendo que minha bolsa sofreu algumas... Alterações. "Nada muito drástico" ele disse. Mas esse "nada muito drástico" se tratava de um corte considerável no valor dela. E a pior parte de tudo isso é que no fundo eu ainda pensava que deveria me sentir grata por não a terem cortado por completo, como tinha acontecido com muitos estudantes. Apesar de ter perdido parte da minha bolsa, vi tanta gente perdendo ela toda que uma parte de mim se sentia aliviada por não ter perdido tudo também.

   Minha primeira reação foi, é claro, ficar completamente irada. Quer dizer, tudo estava dando certo pela primeira vez na minha vida, e alguém tinha que dar um jeito de estragar. Mas depois de algum tempo eu acabei chegando na fase da aceitação e percebi que teria que lidar com isso mais cedo ou mais tarde.

   E foi assim que eu acabei fazendo anúncios online procurando por uma colega de quarto. O custo de vida em uma cidade grande não é fácil de encarar, e agora com a minha renda disponível sendo menor do que eu esperava, mal podia pagar pelo pequeno apartamento de dois quartos.

   "Mas pra quê dois quartos?" Eu também não sei. Teria ido atrás de um lugar com um só - que seria bem mais barato - se meus pais não tivessem enchido o saco dizendo para alugar logo um com pelo menos dois para que eles pudessem ficar aqui se resolvessem visitar. Mas é claro que, pelo menos até agora, eles não vieram me ver nenhuma vez e o quarto acabou sendo habitado só pelo meu gato.

   Enfim.

   Coloquei o anúncio tentando não entrar em pânico total ao pensar no momento em que minha poupança acabasse e eu fosse obrigada a pedir ajuda aos meus pais para pagar as contas - e talvez até ser forçada a trancar o curso e voltar a morar com eles, dessa vez no meio do nada. Como as coisas andavam difíceis - na verdade, ainda andam -, demorou um pouco mais que o ideal para aparecer uma interessada. Mas quando ela chegou, parecia uma enviada dos céus.

   A princípio eu tive medo que ela fosse perigosa, é claro. Fizemos algumas chamadas de vídeo algumas vezes, onde eu perguntei tudo que fosse possível perguntar na tentativa de garantir que eu não corria riscos ao aceitá-la dentro de casa. E quando finalmente me vi convencida, combinamos uma visita por mensagens. Naquele dia eu estava em casa tranquilamente esperando que ela chegasse. Estava no computador distraída quando o interfone tocou. Levantei da cadeira e atendi, apenas para ouvir o porteiro confirmando que era ela quem havia acabado de chegar. Quando desliguei, olhei para mim mesma, checando se estava apresentável. Eu usava um dos meus pijamas, um conjunto masculino de camiseta e short estilo samba canção. Não mostrava demais do meu corpo nem estava sujo, mas ainda assim era um pijama. Então no mínimo eu devia colocar uma roupa legal, para que eu não parecesse uma desmiolada do lado dela.

A Princesa e euOnde histórias criam vida. Descubra agora