No seu primeiro dia de trabalho, Rosalía estava nervosa. O restaurante abria no horário do almoço e fechava à noite, então ela tinha que estar lá às 10:30h em ponto. O restaurante abriria às 11h, então ela teria meia hora para vestir o uniforme antes de começar.
Naquele dia, Rosalía acordou cedo. Mais cedo até do que precisava, sinceramente. Sentada no sofá tomando um chocolate quente, eu observava a princesa dando pra lá e pra cá pela casa, se ocupando com qualquer coisa que visse pela frente. Ela já tinha tomado café da manhã, lavado a louça, arrumado a cozinha e agora andava em círculos pensando no que fazer a seguir.
― Será que eu já devia sair? ― ela me perguntou, hesitante.
― Quê? Rosalía ainda são 9 horas ― eu respondi, erguendo as sobrancelhas. Ela suspirou, sofrida.
― E o que eu faço então? Eu nunca trabalhei, estou nervosa ― dei um sorriso, compadecida.
― É normal estar nervosa. Mas confia em mim, logo vai estar acostumada com o lugar e com todo mundo lá. Vai dar tudo certo, tenho certeza ― disse, tentando encorajá-la.
― Ouvindo você falar, é fácil ficar calma. Mas lá eu vou estar sozinha ― e deu um sorriso triste, preocupada. Então seu rosto iluminou-se subitamente, animado. ― ...A menos que eu não esteja.
― Como assim?
― O restaurante não é caro. Bem que você poderia ir almoçar lá ― sugeriu Rosalía, sorrindo pra mim. Eu ri, surpresa.
― O quê? Você quer que eu vá lá te dar um apoio moral? É isso?
― É, mais ou menos isso!
― Ah, não sei não... ― falei, desviando o olhar. Será que eu devia sair e gastar dinheiro comendo fora? Desde o corte da minha bolsa, eu andava meio preocupada com meus gastos, mais do que antes, por isso minha primeira reação foi esse receio.
― Ah, vamos! Por favor? ― pediu Rosalía, fazendo uma carinha triste e pidona. Eu ri.
― Você tá parecendo o gato quando quer comida ― eu disse, dando uma olhada no bichinho, atualmente deitado no tapete dormindo, pleno, como sempre.
― E você sempre faz a vontade dele. Pode fazer a minha? Só dessa vez? ― insistiu, a expressão parecendo um pouco mais desesperada nesse segundo apelo. Olhei para ela por um momento, em silêncio, revirando os olhos e sorrindo após algum tempo.
― Tá, tá, eu vou. Mas eu não vou comer muito! Eu não tenho grana pra jogar pro alto assim não ― mas aparentemente ela parou no "tá", visto que começou a dar pulinhos e comemorar, animada.
― Ah meu deus, obrigada, obrigada, obrigada! Vou ficar mais aliviada sabendo que vou ter uma amiga por perto pra me resgatar caso tudo dê errado.
― Olha, já deixo avisado que eu não vou te dar cobertura se você fugir no meio do expediente não, viu? Vai estar sozinha se fugir ― em resposta ela riu, já parecendo mais tranquila.
― Não vou fugir. Obrigada por me apoiar. Significa muito para mim ― disse com um sorriso grato.
― Tudo bem. Aposto que vai dar tudo certo.
― Assim espero...
*
Rosalía saiu de casa com quase uma hora de antecedência, para ir tranquila, segundo ela. Eu sinceramente não achei ruim. Talvez caminhar um pouco e tomar um ar a ajudasse a ficar menos nervosa. Sozinha pelas próximas horas, me ocupei fazendo algumas coisas que eu tinha pendentes para terminar. Quando o horário do almoço foi chegando e a fome foi batendo, me lembrei do apelo de Rosalía. E assim, lutando contra a preguiça, levantei, coloquei uma roupa bonitinha e saí.
Chegando no restaurante, a fachada parecia convidativa. Simples e limpo, cheio de janelas, o lugar parecia ser iluminado principalmente por luz natural. Entrei, sendo recebida por uma das garçonetes, infelizmente não Rosalía. Todas elas e os garçons usavam a mesma roupa, uma camisa branca e colete e calças pretas. Me sentei numa mesa de dois lugares sozinha e olhei ao redor antes de dar uma olhada no cardápio. Então finalmente meus olhos pousaram nas conhecidas tranças da minha colega de apartamento.
Ela estava atendendo uma mesa, acompanhada de outra garçonete que só observava, provavelmente avaliando-a. Felizmente, ela não parecia nervosa, mesmo com a companhia. Sorria para os clientes com uma naturalidade encantadora e parecia estar fazendo tudo certo, considerando o sorrisinho no canto dos lábios da outra garçonete.
Ao terminar de anotar o pedido, Rosalía se afastou da mesa, encostando na parede assim como outras garçonetes para esperar para atender outros clientes. Foi quando ela finalmente me viu. Um enorme sorriso cresceu no seu rosto, mas ela ainda tentou ser discreta, acenando para mim com a mão baixa, tentando não ser notada. Em resposta, eu ergui a mão, chamando-a.
― No que posso ajudar, senhorita? ― perguntou ao chegar até mim com a colega, parecendo plenamente profissional, como se não me conhecesse. Eu sorri e fiz meu pedido, algo simples, nada muito caro, o que ela prontamente anotou. Quando terminou, Rosalía se afastou de volta para a parede, com um sorriso discreto em seu rosto. Não pude conter uma risada.
Quando meu prato chegou, comi sem pressa, propositalmente enrolando para ter mais tempo ali para dar apoio à Rosalía, mesmo de longe. E ela parecia estar indo muito bem, não parecia precisar de mim ali. Eu estava prestes a chamá-la para pedir a conta e me despedir quando notei que ela estava ocupada levando alguns copos sujos de volta para a cozinha. Mas no meio do caminho Rosalía passava por uma das outras funcionárias quando algo estranho aconteceu. Notei um movimento nos pés da moça e de repente Rosalía dava um gritinho ao se desequilibrar e cair no chão, derrubando todos os copos que se espatifaram em vários caquinhos de vidro. Me levantei da cadeira num pulo, indo até ela e me abaixando assim que a alcancei.
― Você está bem? Se machucou? ― eu perguntei, estendendo as mãos para ajudá-la a se levantar.
― N-Não... Está tudo bem ― disse, tentando soar tranquila. Mas eu percebi que ela estava abalada. A queda e aquele monte de vidro quebrando tão perto dela devia ter lhe dado um baita susto.
― Nenhum vidro caiu em você? ― questionei, olhando seu rosto e seus braços em busca de algum ferimento.
― Não, não... Eu só... Parece que eu tropecei em alguma coisa, mas não tem nada aqui ― ela disse, confusa, olhando para o chão. Me voltei para a outra funcionária, a que eu tinha visto antes. Ela se afastou alguns passos com a queda de Rosalía, e eu percebia que ela tentava conter um sorrisinho.
― Você. Você colocou o pé na frente dela pra ela cair? De propósito? ― questionei, irritada. Por que alguém faria isso?
― Não, deve ter sido impressão sua ― Rosalía apressou-se em dizer, visivelmente nervosa. ― Me desculpe por isso, Hellen. Eu vou limpar essa bagunça agora mesmo.
― Acho bom ― respondeu ela simplesmente.
E enquanto Rosalía se afastava, meu olhar desceu para o uniforme dela, encontrando um broche prateado. Dizia Gerente. A dita cuja se ofereceu para me dar a conta, o que poderia parecer gentil mas para mim parecia só uma tentativa de se livrar de mim e das minhas suspeitas. Eu não disse mais nada, afinal, aquela era a superior da Rosalía, a pessoa de quem ela dependia para ter aquele emprego e poder pagar as contas. Eu não podia dar à mulher motivos para prejudicá-la. Mas aquilo não acabava ali. Não mesmo.
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A Princesa e eu
RomanceIsabella conseguiu a bolsa de estudos que sempre quis e finalmente mora sozinha. Mas quando sua bolsa tem o valor cortado, ela percebe que precisa urgentemente de uma colega de apartamento se não quiser ser forçada a voltar a morar com os pais. Por...