A Colecionadora de Feitiços - 1

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Parte 1

  Além da Floresta de Hanegumi, que apesar de conter vários monstros pode ser um local de passagem seguro seguindo a trilha de peregrinos do Império, existia uma extensa planície onde poderia se encontrar inúmeras variedades de ervas medicinais. Entretanto, se alguém continuasse a seguir por esta direção chegaria nas terras da fronteira com Lucieratte. O Império era um forte inimigo do Reino, e seu exército poderia muito bem invadir vindo daquele lugar, devido a este temor tal região se tornou perigosa e apenas aventureiros recebem certa permissão para a coleta de plantas e frutos.

  Depois de algumas horas de viagem, a recém formada dupla já estava no fim da trilha. Diz-se que este território era originalmente de Lucieratte, mas foi dominado por guerras expansionistas a muito tempo por Eleanores, e por isso este caminho pela floresta teria sido criado por uma seita religiosa do Império que peregrinava por ali todos os anos. Esta história nunca foi bem explicada, mas era de conhecimento comum dos moradores de Eleanor.

"Eu realmente preciso melhorar minha orientação com esses mapas..." resmungou Neru, com um mapa da região nas mãos.

Se todos os mapas forem assim, certamente ainda vou me perder... Mas não tem como eu reclamar de algo feito pela Amélia. Ainda mais com esses desenhos fofos nele...

"Veja! O fim da floresta!"

  Amélia, sempre sendo a guia oficial da dupla, apontou para a linda luz que surgia de um lugar por trás das árvores a frente. E com passos apressados, eles enfim alcançaram as planícies. Era um lugar aberto, assim como nas colinas da Igreja, mas com uma visão imponente ao norte. Várias torres negras com bandeiras arqueadas, cujo símbolo era um lobo com uma espada na boca, e algumas tendas podiam ser vistas bem ao longe. Aquele era um dos assentamentos imperiais, os quais eram utilizados para reabastecer e trocar informações com tropas durante as guerras com o Reino.

Fico feliz de não estarmos em guerra...

  Em tempos difíceis, até mesmo alguns aventureiros eram requisitados por guildas próximas, incidentes como esses eram ótimos para algumas guildas ganharem mais respeito com seus respectivos governos, já que não eram bem vistas.

  Sem perder tempo, Amélia entregou um dos cestos que carregava ao garoto e ambos começaram a selecionar o que levar. Eles tinham como base apenas algumas referências dadas pela guilda, então teriam de entrar em acordo para não ser um grande tiro no escuro.

"Hmm eu sei que já perguntei mas, essas ervas que estamos pegando são apenas para poções de cura. Então existem outros tipos de poções, né?" indagou o garoto, ajoelhado ainda colhendo ervas.

"Sim, pelo que ouvi existem vários tipos. Eu só conheço as de Mana e cura, mas lembro de já ter ouvido a Madre Superiora mencionar uma para fortalecer o corpo"

  Então existem várias hein... Mas pera, vocês chamam de Mana? Isso é mais prático pra mim, mas é engraçado como eles chamam certas coisas pelos nomes que já conheço. Ou seria esse apenas um efeito da minha tradução?

  Neru olhou bem para aquelas folhas verdes com leves salpicos de roxo, e começou a tentar entender melhor sobre a economia deste lugar.

"Espera! Se aventureiros são livres para vir aqui e colher isso, por que não fazemos poções para nós mesmo e as vendemos?"

  Sua pergunta obviamente baseava-se em buscar por lucro, afinal ele ainda era um verdadeiro "Zé Ninguém". Não tinha casa, comida ou qualquer dinheiro. Sobrevivia apenas por causa da caridade de Amélia, além da Igreja de Aurora, e esta ainda era sua primeira missão. Pensando de forma mais realista, se ele não tivesse conhecido esta freira, estaria morrendo de fome e perdido em algum lugar.

"Hmm isso é porque não podemos fabricar poções"

"Ah"

  Era uma resposta óbvia, apesar de Amélia dizer isso de forma casual ela parece nem ter entendido a pequena ganância que surgia nos olhos de Neru, em relação a este empreendimento. Afinal, se fosse possível ele obteria cura e dinheiro teoricamente fácil.

"Somente Herboristas conseguem fabricar poções, pois usam um método de infundir magia na substância. Ainda assim, poções são apenas úteis em ferimentos não fatais, até porque apenas estimulam a regeneração natural do corpo" A freira estufou o peito feliz, e com um certo orgulho apontou para si mesma "Por isso é sempre importante haver Healers em missões perigosas, pois podemos garantir a vida dos combatentes"

  Depois de ter sua ideia idiota despedaçada, Neru deixou de prestar atenção no que a clériga dizia e voltou a focar no seu chato trabalho de colher mato. Ele sabia a importância disto, mas ainda assim não conseguia ficar alegre. Sua vestimenta só parecia aumentar o calor que o jovem sentia, mas lembrando-se de sua determinação em ser alguém útil neste mundo ele retirou as manoplas e arregaçou as mangas.

Não posso desaminar por causa disso!

"Kukuku"

  Toda a atenção, em segundos, foi roubada por aquela risada. Nem mesmo o cantarolar de Amélia ou os devaneios idiotas sobre foco de Neru puderam lhes salvar. A figura da escuridão então soltou suas palavras:

"Finalmente eu te encontrei, Herói!"

Random Hero - A Lenda do HeróiOnde histórias criam vida. Descubra agora