Hope

Capítulo 8

Caminho de volta para a mesa depois de ter limpado a sujeira que fiz. Natan me olha impaciente.

“O que estava fazendo? Demorou um século?” Pergunta.

“Não é da sua conta.” Digo tentando mais uma vez deixá-lo perturbado. “Mas tenho certeza que sua mente suja já pensou em varias hipóteses.”

Quando é que eu fiquei tão sem filtro?

“Sim.” Ele concorda. “Para evitar demora a próxima vez que você fizer uma bagunça com sundae eu mesmo vou limpar, seja lá onde ele cair e a minha própria maneira.”

Tenho certeza que meus olhos se arregalaram um pouco. A própria maneira. Seja lá o que ele quis dizer soou quente e convidativo.

“Você só pode fazer isso se eu permitir.” Rebato tentando soar segura.

Em hipótese nenhuma vou deixá-lo saber que me afetou.

Natan levanta-se e se aproxima de mim. Coloca meu cabelo atrás da orelha.

“Você vai. Ninguém pode segurar seus desejos por tantos anos e não saciá-los Hope.” Sussurra baixinho.

Convencido. Presunçoso. Hipócrita. Falso.

Por que é mesmo que eu ontem disse que queria ser amiga dele? Ah certo, porque ele é atencioso com meu pai e comigo, e porque ele não era a pior pessoa que conheci na vida.

Lembro-me de refletir sobre isso no fim do dia para ter certeza que eu ainda terei a mesma opinião.

Empurro Natan o mais forte que posso para conseguir passar em direção a porta e ir até o estacionamento. Espero quase cinco minutos encostada a Ferrari até que ele sai.

Natan não volta a falar sobre nenhum assunto pessoal ou constrangedor, nem no carro e nem mesmo nas três horas que passamos juntos discutindo o plano de negócios da Evans. Aprendo algo sobre ele no fim do dia: ele leva seu trabalho a sério. Isso me alivia já que ele está nos planos que tenho e que provavelmente terei que colocar em pratica quando meu pai partir.

Volto para casa tendo feito planos para essa noite.

“Será que podemos jantar?” Pergunto entrando no quarto do meu pai com um grande prato de macarrão com queijo.

Há dois garfos encostados na bandeja.

“Jantar no quarto?” Ele pergunta.

“Na cama.” Especifico. “Se lembra quando eu era criança e a mamãe fazia aqueles jantares cheios de comida fina? Nós dois odiávamos, então a noite quando ela dormia você ia para o meu quarto e levava macarrão com queijo em um prato que dividíamos.”

Consigo colocar um grande sorriso no rosto magro dele.

“É minha vez de trazer a comida.” Digo.

Subo na cama e entrego o garfo para ele. Eu odiei admitir isso por anos, mas eu me pareço com ele, fisicamente e em alguns gostos também e agora que ele não estará mais aqui em um futuro próximo essa é a herança que quero levar de verdade.

O dia seguinte é mais tranqüilo, eu termino a leitura do plano e começo a aprender sobre a área de compras da Evans. Natan não apareceu no escritório da presidência e nem telefonou.

“Shopping?”

Ergo a cabeça na direção da porta.

Kylie está parada usando um elegante conjunto de saia e blusa. Não a vi chegar e ela não foi anunciada.

“O que?” Pergunto confusa.

“Preciso fazer compras.” Diz. “Achei que pudesse me acompanhar.”