Capítulo 36

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O dia passou como um borrão, eu não posso dizer com certeza o que aconteceu. Aparentemente eu desmaiei no colo de Natan, depois quando acordei Francia me deu um calmante e eu acordei no meio da tarde.

Eu estava preocupada porque sabia que tinha que cuidar do corpo, do velório, mas Natan já cuidou de tudo. Então eu só fiquei no quarto com Kylie e Molly chorando.

Molly chorou um pouco. Kylie mais. De alguma forma ele foi a referência paterna que ela teve depois que Jim morreu, e da mesma forma que a morte do pai dela foi um choque para mim agora o oposto acontece.

"Ninguém espera que eu faça um discurso. Não é?" Pergunto.

Todas já estamos com roupas pretas, de luto. Coloquei um vestido quase até o joelho e Molly está terminando de prender meu cabelo em um coque.

"Não se preocupe com isso." Kylie diz. "Você não tem que fazer nada."

"Hope pode ser que tenha fotógrafos e jornalistas, seu pai era não só importante na cidade, no país todo. A notícia vai pegar as pessoas de surpresa. Natan está tentando ser discreto, mas inevitavelmente alguém saberá." Molly me explica. "Talvez eles esperem na porta da igreja ou do cemitério. Não precisa dizer nada, depois a assessoria da Evans emite uma nota, mas só esteja preparada."

Balanço a cabeça assentindo. Pego um pequeno brinco de pérolas na caixinha de joias que meu pai me deu.

"O senhor Cooper chegou." Lily anuncia.

"Obrigada." Digo. "Francia ligou para a minha mãe?"

"Essa manhã." Ela diz.

"Kylie pode me passar meu celular?" Peço.

Ela e Molly fazem sinal que estão me esperando lá embaixo e então me entrega o celular. Vejo as ligações perdidas de minha mãe e de Tobey. Aperto discar para minha mãe.

"Hope graças a Deus." Ela parece aliviada ao atender. "Francia me ligou. Por que não me contou?"

"Ele não queria mãe. Eu sinto muito." Digo.

"Neil está procurando passagem disponível o mais rápido possível, mas vamos demorar para chegar. Eu sinto não estar ai com você querida." Diz. "Mas amanhã vamos estar juntas, como você está?"

"Sem chão." Digo. "Quero que amanhã chegue logo, quero estar com você logo."

Quero poder abraçá-la e sentir que a tenho, que nem tudo está perdido. Vejo o reflexo de Natan pelo espelho. Ele se trocou, está triste e cansado.

"Mãe eu preciso ir para a igreja." Falo. "Me avise sobre o voo."

"Claro. Fica bem." Fala. "Eu te amo."

"Eu também amo você."

Encerro a ligação e me viro de frente para ele. Tenho vontade de chorar de novo, quando me lembro dessa manhã, de como ele me segurou.

"Estou pronta." Digo.

"Como se sente?" Pergunta e revira os olhos. "Não emocionalmente, fisicamente, o enfermeiro achou melhor te dar os calmantes, para você relaxar ou então você não iria suportar."

"Eu preferia não ter dormido o dia todo." Falo. "Mas na verdade estou me sentindo menos esgotada. Obrigada. Por tudo."

Chego até ele na porta e ele me dá a mão assim como fez essa manhã.

"Se em algum momento sentir que for demais para você me diga." Pede.

Tudo é demais para mim. Eu não conheço nem metade das pessoas que estão no velório, há muitos amigos antigos, funcionários da empresa, parceiros de negócios. Tento processar todos os pêsames que recebo.

HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora