Capítulo 14

2.5K 173 25
                                    

Natan está com cara de poucos amigos quando o encontro no aeroporto e principalmente cara de quem não dormiu nada.

“O que aconteceu com descansar para estar bem hoje?” Pergunto tentando fazer piada pela manhã.

A expressão dele ao me olhar é tão pouco amigável que dou um passo para trás. Seja lá o que for ele não está para conversa. Sento-me em silêncio ao lado dele.

Um bocejo escapa da minha boca.

Ainda em silêncio Natan puxa meu corpo perto dele para eu encostar na lateral do seu corpo. A princípio acho que ele está fazendo isso para me aconchegar, mas quando ele fecha os olhos e me prende com força sei que está fazendo isso por si mesmo. Mas não imagino porquê.

Enrolo-me nele de um jeito desengonçado e nós não trocamos uma palavra sequer até estarmos no voo.

“Quer ir na janela?” Pergunto.

Ele ergue a sobrancelha.

“Achei que tivesse dito que ela era sua.” Ele lembra.

“É justo cada um ter sua vez, você vai agora e eu vou quando fizermos a conexão em Washington.” Digo.

“Obrigado.”

É tudo que ele diz enquanto se acomoda no assento da janela.

“Nate, está tudo bem?” Pergunto.

“Problemas pessoais.” Fala e coloca o fone de ouvido.

Ele não vai me contar, os problemas pessoais de Nate não são da minha conta, ele sabe disso, eu sei disso, estamos resolvidos. Nenhum de nós cochila no voo, mas não há nenhuma troca de palavras ou olhar mais até Washington.

“Vou pegar alguma coisa para beber e comer.” Aviso quando descemos para fazer a conexão. “Quer algo?”

“Café e não sei, qualquer coisa para comer.” Diz.

Natan ainda não voltou ao normal e minha curiosidade sobre o que o está deixando irritado só aumenta. Ainda mais quando volto com nossos cafés e lanches e o encontro ao celular.

“Eu não quero saber, eu estou pagando para isso.” Diz irritado. “Eu tenho pressa. Me cansei de ser compreensivo, se eu tiver que ferrar alguém para conseguir ganhar, eu vou.”

Ele está passando a mão pelo cabelo, aliás, está quase os arrancando.

“Eu não dou a mínima, não mais, se alguém vai sair prejudicado não serei eu. Eu me preocupo com ele acima de tudo e por isso vou até o fim.”

Nunca o vi falar de forma tão ríspida com ninguém.

O olhar dele ergue e para em mim. Não havia me notado antes.

“Tenho que desligar. Me mantenha informado.” Diz ao telefone e desliga.

Passo o café para ele e um bolinho.

“Você está quieta.” Ele comenta.

Essa tem que ser a ironia do dia, ele está todo estranho e irritado, se isolando e acha que eu estou quieta.

“Tentando não te deixar mais irritado.” Digo. “Nós não precisamos brigar antes da reunião.”

“Noite ruim. Dia ruim.” Nate diz. “Mas em nenhuma hipótese vou descontar em você ou deixar que nos atrapalhe no trabalho. A propósito vamos dar uma última conferida nisso.”

Ainda estou comendo um bolo com cobertura deliciosamente bom, mas como sei que ele não vai me esperar coloco a mão na bolsa e tiro a cópia que guardei comigo. Ela fica um pouco lambuzada.

HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora