Voyeur
Sentado na minha poltrona, com um copo de whisky na mão, me permito relaxar dos acontecimentos do dia.
Olhando pela parede de vidro, vejo Nova York em sua obscura e frenética velocidade alucinante de luzes, sons e cheiros. Minha cabeça gira com a irritação e com o stress dos negócios: a empresa em estado de alerta com o mercado inconstante e a baixa de sócios, além da minha família disfuncional e caótica. Estou muito agitado e somente o torpor do álcool pode aliviar essa sensação de descontrole e frustração. Trancado em casa, sozinho, fui entrando numa estranha desconexão e algo acelerava os meus batimentos, uma necessidade de fugir daquilo tudo.
A realidade era que me sentia vazio, sozinho. Ansiava por ter uma conexão real com alguém. Tiro meu terno e com uma inquietação latente sento na minha cama. Exausto, turbulento. Quando fecho as cortinas, algo intrigante me chama a atenção.
Abro a minha caixa secreta de desejos. Pego o meu telescópio tão rápido que meu coração acelera de excitação. Várias sensações invadindo o meu corpo. Meus músculos contraem de curiosidade e a vontade de ver aquela mulher... mais de perto, muito mais perto. Esqueço todos os últimos pensamentos e preocupações. A imagem daquela moça era interessante demais para se perder de vista. Chego com o telescópio a tempo de ver o que está para se desenrolar.
Minhas mãos estão trêmulas com a antecipação. O apartamento dela era vazado, um loft que do ângulo da minha janela me dava a vista de praticamente todo o seu espaço. Sem nenhuma cortina, estava exposta em seu “aquário”, distraída em sua bolha para perceber o perigo que aquela exposição poderia causar. Ou talvez gostasse de ser vista, a ideia me faz sentir um tesão imediato.
Envolvida em sua performance, ela usava calcinha fio dental e uma camiseta branca rasgada nas mangas, mostrando a lateral de seus seios grandes e macios. A calcinha vermelha, excessivamente detalhada, parecia ser de renda e cara, destoando da camiseta que claramente era muito velha. Vi algumas tatuagens espalhadas por seu corpo: um escorpião no pé direito, uma grande pena na parte interna do pulso esquerdo e uma pequena borboleta Monarca na nuca.
Seus cabelos eram um grande emaranhado de cachos avermelhados presos num coque frouxo, alguns longos fios soltos caindo em cascata pelas costas. Ela usava óculos bastante grandes para o seu rosto. Sorri pela tentativa dela tentar se “enfeiar” com os óculos horrendos, armação quadrada, grande e preta
Ela era exótica e espetacular, o tipo de beleza etérea que nos faz ter certeza da perfeição, e nos faz sentir embasbacados e sem reação. O poder da beleza em seu esplendor. Me arrebatando. Me fazendo crer, naquele segundo, que jamais havia visto uma criatura tão linda, e diferente de tudo e de todas. Um arrepio percorre o meu corpo. Ela tinha uma lata de tinta na mão balançando, oscilando de um lado para o outro aquele objeto. Encantado e intrigado, vi a mulher jogar a tinta vermelha na parede branca com violência.
Observou por algum tempo, como se realizasse um experimento. Acendendo um cigarro em seguida, sentou-se no chão apoiada ao lado da parede, juntou os joelhos e os abraçou com força, e chorou. Entre lágrimas, abriu uma caixa e mexeu dentro com candura, tinha olhos melancólicos. Tirou uma máquina fotográfica de lá, tirou algumas fotos da parede vermelha e guardou tudo na caixa. Mais uma vez, senti o meu coração pular em sinal de reconhecimento. Minha deusa tinha uma caixa de segredos também.
As lágrimas desciam suaves por aquele rosto perfeito, oval, e com as maçãs do rosto mais altas e desenhadas que eu já havia visto. O choro era contido. Ela não se sacudia ou se debatia. Com o semblante sereno, mas com grossas lágrimas varrendo seus olhos. A fragilidade e a dor que vi nos olhos amendoados de cor verde viva, ainda mais claros pelo pranto, me tocou profundamente. No entanto, seu semblante contido se transformou em um pequeno sorriso.
E com invejável leveza, como se ligasse um interruptor invisível, se levantou, limpou as lágrimas e sumiu em direção à porta de seu quarto. Coincidentemente, era o meu ponto cego. Languidamente, ela voltou e se espreguiçou estirando os músculos. Caminhou até a geladeira e voltou com uma garrafa de vinho, bebeu ávida. Olhos fechados, boca no gargalo. Ainda observando a parede em vermelho vivo... andava de um lado para o outro, sem parar. Agitada.Eu me perguntava a causa de sua inquietação. A garrafa nas suas mãos ia esvaziando rápido com os goles vorazes. Ela se movimentava com uma leveza desconcertante, parecia dançar algo privado, balbuciou e chorou novamente. Lágrimas que ela limpou com a calma de quem tem o hábito resignado. Aquela fragilidade, perto de tanta brutalidade crua e visceral, me acende algo perverso e incessante. Alertando todos os meus sentidos.
A minha necessidade doentia de querer absorver tudo daquela garota, começo a me agitar e um sentimento raro emerge em mim, uma violenta fome. Do bom e do ruim. Não consigo parar de assisti-la. Ela parece dançar nas pontas dos pés e se balança, rodopiando. Será que dança alguma música? Coloco “You can leave your hat on”, de Joe Cocker, e acendo um cigarro. Ela rebola e se insinua. Está toda suada, e eu também. Fico imaginando que minha poltrona está na sala dela, e que ela dança pra mim.
Aquele vidro não existe mais naquele momento. Estou imerso. Sou transportado, aproveitando meu delírio. Ela segura as coxas subindo a ponta dos dedos pela lateral do corpo, solta o cabelo, e o joga de um lado para o outro. Seus movimentos se tornam mais lentos e percebo o seu olhar mudar. Agora estão mais fixos, a boca entreaberta e constantemente mordida com ansiedade, deixando os lábios muito vermelhos e vivos. Meu corpo responde com excitação. Ela tem algo de visceral que automaticamente me enlouquece. Ela tem fogo, tem desejo e observo-a se deitar no sofá, imediatamente como num eco, ela leva as mãos aos seios, o que me dá ainda mais tesão. Me sinto conectado.Ela se deita preguiçosamente no sofá e aos poucos abre as pernas, desce a calcinha até os tornozelos e sobe a camiseta. Com os olhos vidrados, coloca dois dedos na boca e os chupa enquanto a outra mão ela leva aos seios e acaricia, os belisca e de novo morde forte os lábios – era erótico, lascivo e magnético. Observo a cena fascinado. Estou tão duro que mal posso respirar. Desço da cadeira e me aproximo da janela como se pudesse vê-la e me sentir mais próximo. Como seria o seu gosto?
Ver sua boceta aberta e rosa pulsando enquanto ela introduz dois dedos num formato de gancho dentro dela, e a outra mão descendo dos seios e os dedos dela em círculos com velocidade no clítoris que fazem sua bunda grande e gostosa arquear. Ela movimenta seu quadril para a frente e para trás, cada vez mais rápido. Seu corpo treme em pequenos solavancos. Os pés se arqueiam e se esticam em espasmos. Os dedos dos pés pintados de vermelho, se retorcendo, quase me levam ao clímax.
Com a cabeça pendendo para trás e para frente, bem devagar ela agora lambe os lábios, com olhos semicerrados. Com impaciência, joga a calcinha no chão empurrando-a com os pés, os dedos que estavam no clítoris apertam agora seu pescoço.
Uma cena erótica e íntima que fez o meu corpo tremer, com a excitação e o desejo de tocá-la. Sentir o seu cheiro e tocar seu gozo me faz balançar o corpo todo. Fico de pé, colado no vidro, minha respiração embaçando a janela. Me sinto sonolento e bêbado de algo. Como que enfeitiçado por uma bruxa. Ela mordia os lábios com mais violência e os abria com respirações que pareciam cada vez mais curtas. Me toquei me sintonizando com ela. Agora ela se sacudia muito forte com o quadril rebolando, muito rápido. Os seus seios se moviam tremulantes pelos solavancos da respiração, mamilos de um rosa claro, lindo. Estavam eretos. Como queria poder tocá-la. Sua boca se escancarou no que podia ter certeza ser um gemido violento, uma expressão animalesca, com espasmos. Ela ainda rebolava com os dedos enterrados em si, quando aumentou a frequência, acelerando. Voltou o estímulo no clitóris, e jogou a cabeça pra trás, de olhos fechados, e gozei com ela.
Até que ela adormeceu no chão, a garrafa vazia de um lado e a parede vermelha de outra. Adormeço na minha cadeira, dividindo o sono por alguns quilômetros, mas que decidi que se tornariam metros, muito em breve.
Acordo dolorido e irritado pelo meu desejo ter me feito chegar tão longe. Minha curiosidade mórbida de observar, assistir e me conectar com aquela mulher.
Naquele momento, enxerguei que ela me quis quando fez aquilo, quando se mostrou toda pra mim assim, inteira. Ela queria ser vista e desejada, aceita..afinal, todos buscamos por isso. Percebi aquilo como um convite para entrar em sua vida. Fui atraído pela escuridão aparente e solidão nos olhos dela. Porém, antes, eu tinha que conhecer tudo, assistir todos os seus momentos íntimos e privados, queria os desejos e segredos inconfessáveis. Queria todo o lado devasso e sujo, toda a sua perversão e loucura. Só assim poderíamos nos refletir. E, a partir daquele momento, ela se tornou a minha fixação.
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O Envelope Vermelho /degustação
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