2 de Março de 2156
Todos olhavamos espectantes para o homem, que já teria os seus cinquentas. Dava para notar que ele estava bastante nervoso, e a presença de vários olhos o deixa num estado pior. Ele aclareou a sua grossa e masculina voz antes de falar.
"O informador foi capturado pela inquisição. Temo que o irão torturar para que ele confesse todos os nossos nomes. Corremos grande perigo e aconselho-vos a sairem deste lugar o mais depressa possível." O senhor tentou explicar, deixando-nos boquiabertos.
O homem desceu abaixo, saindo por onde tivera entrado. Todos nos entreolhamos, sem qualquer tipo de reação. Os meus olhos encontram os de Maisie, que ainda estavam incrédulos.
"Saímos da mesma forma que entramos, Eva." Esta tenta, ainda que descoordenadamente, explicar.
Cada uma de nós virou para lados opostos. Antes de sair por completo da sala, olho para todos os cantos, lembrando-me que o moço esquisito tivera vindo comigo anteriormente e, talvez, me voltasse a acompanhar. Mas uma pontada de desilusão preencheu-me assim que notei que ele já não se encontrava cá, nem que tivera esperado por mim.
Percorri o mesmo caminho retilíneo, que me guiava até à pequena cabana de madeira. O meu primeiro instinto foi espreitar pelas janelas, não para observar se alguém da inquisição rondava a zona, mas sim para ver se ainda iria conseguir observar a silhueta do rapaz que me ajudara a tirar o pé do meio das rochas.
Suspirei, mentalizando-me que não o iria voltar a ver na minha vida. Porém, um pequeno papel estava em cima de uma mesa velha e suja, fazendo-me atrair até ele. Assim que o peguei, sacudi as partículas de poeira e abri.
Uma caligrafia legível, mas não tão bela, estava lá desenhada. Aproximei a nota da minha cara, para que pudesse visualizar melhor a mesma.
"Espero que o líquido vermelho tenha cessado junto com a tua dor. Amanhã, as pedras amaldiçoadas esperam-te."
As minhas sobracelhas uniam-se em confusão. Não conseguia entender o conteúdo do pequeno bilhete, mas o meu cérebro não parava de pensar que a probabilidade de ter sido ele a escrever-mo era enormíssima. Um esboço de um pequeno sorriso formou-se no meu rosto, quando tentei descodificar a mensagem.
Ele estava a pedir-me um encontro aqui.
Soltei um pequeno suspiro de contentação, antes de abandonar o local. Guardei a nota dentro do bolso do meu casaco e, cuidadosamente, caminhei em sentido à minha casa. O risco de acordar os meus pais era enorme, pois não sabia se eles estariam acordados, a tratar do meu irmão.
Assim que a minha habitação apareceu no meu campo óptico, um suspiro de alívio percorreu todas as minhas células, que já se sentiam em segurança. A chave foi introduzida lentamente na fechadura, não chegando sequer a produzir qualquer tipo de ruído.
Assim que entrei para dentro da humilde casa e, tranquei novamente a porta, fui em direção ao meu quarto. Para meu alívio, todos dormiam profudamente, cada um no seu quarto. Entrei dentro do meu, tirando as minhas roupas. Olhei para o meu pé, que já estava a formar um inchaço e a dor parecia agravar-se.
Decidi que não iria desinfetar isto, pois era demasiado tarde para realizar tal tarefa, por isso, obdeci ao meu cérebro, que me mandava para a cama. Meti-me debaixo dos lençóis frios, adormecendo a pensar no ser humano, de olhos verdes, que me tivera acompanhado durante uns largos minutos.
Na manhã seguinda, fui acordada com os gemidos do meu irmão do outro lado do quarto. A minha cabeça latejava da falta de descanso, mas rapidamente me levantei para ver do que ele necessitava. Entrei relutante dentro do seu quarto, onde se encontravam a Martha e a Willa, a saltar em cima do colchão dele.
"Ei!" Reclamo com um alto berro. "Não veem que o vosso irmão está doente? Com muitas feridas? E que precisa de descanso? Saiam daqui!" Apontei para a porta.
As pequenas rapidamente pararam com os atos perigosos e olharam para mim com os olhos arregalados. Assim que viram que a minha fúria era verdadeira, desataram a correr para fora do quarto.
"Nunca tiveras sido assim dura para elas..." Aaron afirma chocado.
"Bem, elas podiam-te magoar, e eu não quero isso." Rapidamente respondo, explicando a minha preocupação.
"O que se passa?" Ele tenta levantar um bocado o seu corpo para me olhar. "Estás nervosa e agitada."
"Nada, tive só um mau sonho." Minto.
"Igual àquele...?" Ele tenta.
"Sim, sim." Esfrego a minha testa com a mão e, lentamente, aproximo-me dele. "Estás melhor?"
"A mãe disse que os cortes estão a cicatrizar, por isso sim, sinto-me melhor." Ele justifica-se, fazendo-me olhar para as suas costas.
"Tu ainda não me disseste o que lá aconteceu." Suspiro pesadamente. "Tu contas-me tudo a mim e eu a ti."
"Se disseres o que te está a pôr assim com essa cara, eu digo-te o que se passou." Aaron chantageia.
"Já te disse, mau sonho." Olho para ele.
"Tu sabes que eu sei quando metes, tu piscas muito os olhos sempre que o fazes." O meu irmão insiste.
"Eu... Eu não posso." Murmuro. "Vou ver o que as pequenas estão a fazer." Levanto-me e saio do quarto disparada.
*
*Esperamos que tenham gostado deste capítulo e pedimos desculpa de demorar muito a atualizar, mas é que estamos com bastante testes e intermédios, e para complicar, somos de turmas diferentes e os nossos horários não são compatíveis. :/
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LY ♡
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Inquisition || h.s
FanfictionO século XXII é dominado pelo terror entre duas cidades, denominadas Kahli e Ketler. A inquisição parece não ter perdoado os nossos antepassados, e regressou para atormentar-nos com as suas novas e bárbaras leis. Diversas vidas são postas em jogo nu...