2. Convite

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28 de Fevereiro de 2156

   Eu observava atentamente a minha mãe costurar um novo vestido para uma das filhas dos vizinhos da frente. A máquina de costura era robusta, uma relíquia antígua que vem passado de geração em geração. A minha mãe queria que eu a observasse para, futuramente, continuar com a tradição da minha família. Costurar não era a coisa que eu mais apreciava fazer, mas nunca quis desiludir ninguém.

   "Vês? É assim que fazes o remate da baínha." A minha mãe explicava cada passo detalhadamente.

   "Mas isso é só a parte de trás do vestido, como fazes para continuar?" Tentava esclarecer as minhas dúvidas.

   "Não continuas, começas uma nova parte. Depois de teres as partes todas costuradas, é só coser." Assenti perante a sua afirmação sem nunca tirar os olhos do que ela fazia.

   Enquanto a minha mãe prosseguia, os meus pensamentos viajaram até ao meu irmão, que não aparecia em casa desde ontem à tarde. Desde que ele foi lá. Um aperto no coração surgiu, juntamente com um sentimento de arrependimento. Todas as minhas células rezavam para que ele voltasse são e salvo para casa, mas sabia que essa não era a verdade.

   Suspiro exausta de estar à duas horas sentada a observar sempre a mesma coisa. A minha mãe parece notar no meu cansaço.

   "Se quiseres ir um bocado lá fora antes que anoiteça estás à vontade." Ela sugere, fazendo-me iluminar um pouco.

   "Obrigada." Dou um pequeno sorriso e levanto-me do banco em que estava sentada. Sinto que a minha relação com a minha mãe tem melhorado desde que ela me contou aquilo, apesar de ela continuar a ser uma pessoa muito neutra.

   Pego num casaco de malha e visto-o. Os dias de inverno de aqui não eram muito acolhedores. Saio de casa, dando uma pequena corrida até à casa da minha única amiga. Sei que ela a esta hora está na sua casa. Quando lá chego, dou três batidas na porta de madeira, esperando que alguém a viesse abrir. Alguns segundos depois, Maisie abre a porta, sendo recebida com um ternorento abraço.

   "O que fazes aqui?" A sua voz fina questiona, com um sorriso no seu rosto.

   "Não sei. Acho que preciso de desabafar. " Retribuo o sorriso, mas mais tímido e triste.

   Maisie convida-me para entrar dentro de sua casa, empurrando-me até ao seu quarto. A bagunça habitual estava presente como sempre. Esta minha amiga sempre tivera sido demasiado preguiçosa para arrumar o seu quarto, fazendo-me dar uma pequena risada interior.

   "Ainda bem que vieste agora!" Ela exclama, excitada com o que lhe ocorre pela sua mente.

   "Para quê essa felicidade?" Rio-me do seu estado.

   "Eu ia até tua casa, mas poupaste-me esse trabalho. Adoro-te, a sério."

   "Oh. E ias lá a que propósito?" Interrogo curiosa.

   "Eu tenho um convite a fazer." Sei que não vem coisa boa dali. "Amanhã, depois do recolher obrigatório, vai haver uma festa." Ela vai explicando à medida que eu tento assimilar alguma coisa.

   "Pensei que eles tivessem proibido esse tipo de coisas." Franzo as minhas sobrancelhas em confusão.

   "E proibiram, mas nós todos precisamos de nos reunir de alguma forma. Eles estão ameaçar colocar mais uma lei." A minha boca abre-se em choque. Que raio é que eles poderiam mais inventar?

   "Que lei?" Balbucio.

   "Não sei, por isso é que vou à festa. Mas ouvi rumores que esta lei vai ser também aplicada em Ketler. Por isso, provavelmente vão haver lá pessoas da outra cidade." Ela afirma entusiasmada. Sei que ela adoraria conhecer as outras pessoas, ao contrário de mim.

Inquisition || h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora