Dia 6 de Outubro
O Ben não vem à escola à três dias. Aparecer de não querer, estou preocupada…Fechei o caderno e guardei-o na minha mochila. Tirei o telemóvel desta e liguei a Ben – estava desligado.
“Estranho.”, pensei na minha cabeça. Ben nunca desligava o telemóvel, nem quando o tinha de o pôr a carregar.
Pus a mochila às costas e comecei a caminhar – não para minha casa, mas para o lado contrário desta, para o lado da casa de Ben. Tinha de saber o que se passava com ele.
Demorei à volta de vinte minutos a chegar e assim que cheguei, toquei à campainha. Quem me abriu a porta foi Ben. Estava tão pálido e magro – mas nem por isso deixava de estar musculado. O seu cabelo não tinha brilho e tinha olheiras debaixo dos olhos.
– Ben… - Disse, olhando para ele de cima a baixo com a boca entreaberta. Ele estava só com umas calças de pijama azuis com um padrão axadrezado e umas meias cinzentas nos pés.
– O que é que estás aqui a fazer? – Perguntou Ben, suponho que zangado, mas parecia não ter força para mostrar emoções fortes.
– Estava e, agora, estou preocupada contigo. – Declarei, e entrei dentro de casa dele.
Se não estivesse tão fraco, provavelmente impedir-me-ia, mas não conseguiu. Em vez disso, tirei-lhe a mão do puxador, facilmente e encostei-me à porta castanha, fechando-a.
– Não devias estar aqui. – Avisou-me Ben. Olhei para o chão e encolhi os ombros.
– És o meu melhor amigo. – Disse, continuando a olhar para o chão. – Não só devia como quero estar aqui.
– Porque é que não olhas para mim? – Perguntou-me Ben.
– Prefiro falar contigo e pensar na imagem do antigo Ben, do que olhar para este novo Ben. – Respondi, fechando os olhos com força.
– Sarah, eu por dentro não mudei. – Disse Ben, colocando-me o dedo debaixo do queixo e levantando-me a cara. – Continuo a ser a mesma pessoa que antes.
– Então, porque me dás provas do contrário? – Perguntei, olhando para os seus olhos entreabertos, devido ao cansaço.
– Porque tu não me deixas provar-to. – Afirmou, com um olhar triste. Senti o seu rosto aproximar-se mais do meu e desviei a cara.
– O antigo Ben, nunca me tentaria beijar. – Afirmei, desviando a mão dele com a minha. Ele estava tão frio.
– O antigo Ben nunca achou que pudesses gostar dele. – Disse Ben, em resposta à minha afirmação.
– Não sei o que te leva a crer que não gostava de ti antes, mas gosto de ti agora. – Respondi, semicerrando os olhos.
– Sarah, estou demasiado cansado para discutir isto contigo agora. – Afirmou, enquanto levava uma mão à testa.
Sem pensar, desviei a mão dele da sua testa e coloquei a minha. Estava à espera que ele estivesse com febre e que a sua testa estivesse quente, mas estava mais fria que gelo.
– Estás gelado, Ben. – Afirmei espantada. – Anda para o sofá. – Disse, agarrando nos seus braços gelados e encaminhando-o até à sala. – Deita-te. – Pedi, assim que chegámos ao sofá. Ben deitou-se e eu coloquei-lhe uma manta por cima.
– Tive tantas saudades tuas, macaca. – Disse Ben, sorrindo para mim enquanto fechava os olhos.
– Cala-te, Hulk. – Declarei, sentando-me perto da sua cintura, que era o único espaço disponível. Ele riu-se e eu ri-me logo a seguir. – Queres ver um filme? – Perguntei, agarrando no comando da televisão.
– Só se for um do Sci-fi. – Afirmou Ben, com um olhar brincalhão.
Eu e Ben achamos os filmes do Sci-fi ridículos e desde que descobrimos o canal à uns dois anos, que vemos os filmes e gozamos.
– Feito. – Disse, ligando a televisão e recostando-me no corpo dele.
“Se calhar o Ben não mudou mesmo.”, pensei, olhando para Ben e sorrindo, enquanto ele dizia disparates sobre o filme. “Só por fora, pelo menos.”
– Sarah, tu gostavas de mim, antes? – Perguntou Ben, fazendo-me desviar a atenção da televisão para ele.
Fiquei confusa, mas depois lembrei-me.
– Claro que gostavas, eras e sempre serás como um irmão para…
– Não é nesse sentido, Sarah. – Disse Ben, interrompendo-me a frase e olhando para a televisão. Suspirei e olhei para as minhas mãos, que brincavam uma com a outra freneticamente.
– Gostava. – Disse. Ben suspirou.
– Porque é que nunca me disseste? – Perguntou Ben. – E olha para mim. – Pediu. Levantei a cara e cruzei o meu olhar com os seus olhos castanho-esverdeados.
– Eras o Ben. – Respondi, encolhendo os ombros. – Não querias saber de rapariga nenhuma.
– Enganas-te. – Disse Ben, baixando o olhar. – Eu queria saber de uma rapariga. – Começou por dizer. – Eu queria saber de ti e obviamente, não te falava de mais nenhuma rapariga, porque eras tu, Sarah. – Continuou. – Sempre foste tu. – Terminou, olhando, novamente para os meus olhos.
– Ben… - Disse, com uma certa pena.
– Se me tivesses dito mais cedo, poderíamos ter evitado tanta coisa. – Lamentou Ben, abanando a cabeça e sorrindo ligeiramente.
– Que queres dizer com isso? – Perguntei, erguendo uma das minhas sobrancelhas.
– Eu só mudei por ti, Sarah. – Respondeu. – Também por mim, mas principalmente, por ti. Achei que não ias querer um falhado de dentes tortos.
– Não voltes a dizer isso outra vez, Ben! – Reclamei, aproximando-me dele. – Tu eras perfeito como eras e ainda és! – Disse, quase gritando para mim própria. – E sabes porquê?! Porque tu és e sempre serás o meu Ben, caralho! – Gritei de olhos fechados, com força.
Do nada, senti alguma coisa fria e mole nos meus lábios, impedindo-me de dizer mais uma palavra que fosse. Abri os olhos e era Ben. Ben estava a beijar-me. Deixei que os meus olhos fechassem suavemente e coloquei as minhas mãos à volta do seu pescoço.
Não conseguia enganar ninguém, nem a mim própria. Gostava tanto do novo Ben, como do antigo. Afinal, era Ben e eu era apaixonada por ele desde quase sempre.
– Vens comigo ao baile de Primavera? – Perguntou-me Ben, assim que se separou de mim.
– Vou. – Disse, sorrindo-lhe.
– Não te importas de ser fuzilada? – Perguntou-me, erguendo uma sobrancelha.
– Não sabia que repararas nisso. – Afirmei, espantada, ainda com as minhas mãos à volta do seu pescoço.
– Eu reparo em tudo, macaca. – Lembrou-me Ben, esfregando o seu nariz ao meu. – Adoro-te.
– Eu também te adoro.
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The Stranger In Strangers Land
Science FictionEm 2020, uma empresa bilionária começa a desenvolver novas experiências em seres humanos, para melhorar o físico, a aparência e a inteligência da espécie. Sarah Lawson nunca esperou que na flor dos seus 17 anos tivesse de lutar pela vida do seu melh...