Capítulo 1

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     Luke Castellan sentia a culpa o seguir diariamente em sua... Morte.
     Ela estava lá quando se deparava com um semideus que morrerá na guerra contra Cronos, estava lá quando era atingido por uma lembrança qualquer de sua vida, estava lá quando se perguntava como estaria seus antigos amigos, estava lá quando tentava imaginar como teria sido se nunca tivesse atendido o sedutor chamado do titã do tempo... Estava lá, principalmente, quando recordava de olhos verde-mar.
     Sabia que não tinha sido apenas o filho de Poseidon que foi afetado por suas escolhas, talvez ele nem fosse o mais afetado, na verdade até que teve um dos melhores finais. Mas era o nome dele que mais estava rodopiando por sua mente, fazendo consequentemente se lembrar das outras vidas que arruinou. Talvez fosse porque ele foi a linha de frente contra o exército que combateu os titãs ou talvez porque foi seus olhos a última coisa que viu, antes de ter sua alma ceifada e ser levado ao reino de Hades... Não importava. O que importava é que errou, mesmo tendo se redimido no final, ainda errou. Querendo ou não, não merecia os Elísios, mas sim os Campos de Punição ou os Campos de Asfódelos (esse último apenas se tivesse sorte). Mas era egoísta demais para confessar isso, para protestar contra a decisão dos juízes, então seguiu silenciosamente para o lugar de almas boas e puras. Algo que ele não era desde a "morte"de Thalia.
     Queria uma chance de compensar seus atos, de alcançar o perdão, fazer mais do que fez no fim de sua vida. Mas, deitado na grama e olhando o sol artificial dos Elísios, sabia que era tarde demais. Suspirando, algo desnecessário, cruzou as mãos atrás da cabeça e tentou esvaziar sua mente. Pensar só o deixaria deprimido.
     Repentinamente, ele se sentou, engasgando. Uma dor o assolou, atingido todos os seus membros e órgãos mortos, fazendo um grito escapar de seus lábios. Caído bruscamente deitado no chão, arqueou as costas, os punhos se cerrando e os olhos se fechando com força. Parecia que todo o seu corpo se despedaçava em fragmentos e depois se reconstruia forçadamente, várias e várias vezes, era muito pior que quando se jogou no Rio Estige. Então, na mesma velocidade abrupta que começou, se encerrou. Luke permaneceu paralisado na mesma posição, ofegante e atordoado. Gemendo, se levantou, seus membros levemente dormentes. Uma sensação estranha, esquecida, o percorreu e ele gelou quando a reconheceu.
     Sua mão voou para o peito, pressionando o local, confirmando o inacreditável: seu coração batia, pulsando suavemente, denunciando sua vida. Levando o indicador aos dentes, o mordeu até sentir o rompimento da pele e observou o sangue se acumular no corte, algo que não acontecia desde a sua morte. Quando suas veias secaram e o sangue parou de correr por elas. Mas aqui estava ele, escarlate e quente, começando a deslizar por seu dedo. Sua perplexidade atingiu novos níveis.
     -- Entendo sua surpresa, mas não é educado deixar uma dama esperando. -- Uma voz, sedosa e autoritária, ecoou.
     O loiro pulou no lugar, finalmente olhando em volta e se dando conta que não estava mais nos Elísios. O cômodo era amplo, mal iluminado, com paredes de pedra escura e desprovido de qualquer móvel. A única saída era uma escada, do mesmo material que as paredes, levando para uma porta de madeira.
      -- Onde estou? -- A pergunta saiu instintiva de seus lábios.
     -- No Mansão da Noite.
     A resposta chamou sua atenção para a mulher parada a sua esquerda, causando a queda de seu queixo. Ela tinha cabelos lisos caído até suas panturrilhas, olhos negros e pele pálida que parecia luzir, trajava um vestido branco de tecido leve que revelava descaradamente suas curvas simples e ao mesmo tempo atraentes. Aquela era uma divindade, sabia disso, já tinha se deparado com mais imortais do que desejava ao longo de sua vida e sabia identificar um. Mas ela não tinha a áurea intensa dos deuses ou a emanação violenta dos titãs, muito pelo contrário. Sua áurea era pesada e esmagadora, mas suave e cintilante. Como um ardente, porém inofensivo, fogo (capaz de queimar, mas não de matar).
     -- Quem a você?
     Seus lábios se curvaram num sorriso doce obviamente falso, seus pés descalços se moveram lentamente, começando a rodear o semideus. Lembrava um predador avaliando a validade de sua presa.
     -- Não importa, momentaneamente, quem eu sou. O que importa é para quê eu te trouxe de volta.
     Seus olhos se estreitaram, sua língua hesitando antes de questionar:
      -- E para quê me trouxe?
      -- Preciso de você numa missão, explicarei detalhadamente quando estiver com os outros. Só posso dizer que será perigoso e que, se recusar agora, o mandarei de volta para os Campos Elísios como se nunca tivesse saído de lá. -- Esclareceu, parando em frente a ele, a cabeça caído para o lado adoravelmente.
     Seus pensamentos explodiram. Aquela seria a possibilidade de tentar novamente, uma segunda chance que poderia ser a única e que deveria ser cuidadosamente avaliada para não ser desperdiçada. Porém, ele não podia aceitar imediatamente, nem sequer sabia quem era a mulher a sua frente. Mas, se ela tinha o poder de o ressuscitar, obviamente era alguém muito maior que os deuses e titãs. Talvez uma primordial?
     -- Avaliarei sua proposta e darei a resposta. -- Respondeu vagamente.
     A mulher sorriu e acenou para ele a seguir. Além da porta, havia corredores longos de paredes do mesmo material do cômodo anterior e escadas de carvalho, qualquer porta no caminho parecia automaticamente se abrir para a mulher. Por fim, pareceram subir para uma torre, onde havia uma porta de aldrava de prata. Quando passaram por ela, Luke só teve tempo de processar que havia mais duas pessoas no local, antes de gelar ao vê-lo. Percy Jackson olhava fixamente para a parede, os braços cruzados, uma expressão ilegível e aparência cansada.
     A mulher, que tinha tomado a frente da mesa para cerca de dez pessoas, levantou uma sobrancelha e gesticulou para um assento vazio. Luke sentou vagarosamente, forçando seus olhos a desviarem para os outros presentes. A garota, obviamente de apenas 12 anos, tinha olhos púrpura e cabelos longos. Estava descabelada e suja, a beleza de seus olhos exóticos estragada pelas olheiras profundas abaixo dos olhos. O garoto tinha luzes platinadas, a raíz negra que revelava seu cabelo original subindo alguns centímetros do couro cabeludo, tinha uma postura rígida e parecia atento a qualquer movimento suspeito. Seu estado era semelhante ao da garota, mas menos miserável e ele parecia ser cerca de dois anos mais velho.
     -- Muito bem. Primeiramente, sou Nyx, primordial da noite. -- Ela fez uma pausa, dando a eles tempo de processar essa informação.
     -- Oh, você. -- Percy exclamou, intrigado e apenas levemente surpreso. 
     -- Sim, eu, sua desova do mar manipuladora.

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