Continuação Primeiro Capítulo

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Mas de uma maneira muito mais rápida do que eu pudesse ter previsto Cayo morreu. Isso mesmo, dizem que foi uma briga na prisão, ele estava recebendo privilégios de mais do pai que era o prefeito de Copacabana e não quis dividir com os grandalhões da cadeia; Ele foi atacado por uma barra de ferro bem na cabeça, tiraram ele com vida da prisão, mas após uma cirurgia no Hospital Do Rio de Janeiro, ele não resistiu.

E no meio de tudo isso, meu pai (que havia sido exonerado do trabalho), por passar a maior parte do seu tempo comigo no hospital, indo a reuniões, audiências e sendo exposto pela mídia todos os dias; recebeu uma excelente proposta de emprego para ser o engenheiro chefe de uma empresa de mineração chamada Zelar, no interior do estado de Minas Gerais – a terra do queijo com goiabada. No fim do mundo. Um lugar bem longe do Rio, numa cidade chamada Brumadinho.

No início, minha mãe não gostou muito da ideia, tínhamos uma agenda de médicos no litoral, tinha minha avó Nina e, qual é, tinha Copacabana, Ipanema, nossos amigos... Porém, também tinham as lembranças. O sangue no asfalto. Tinha os olhares de pena. E também a imprensa sempre em cima da gente.

"A Garota do Bosque"... Eram assim que abriam as reportagens. E então começavam com uma cena da minha vida perfeita com meus pais, eu e minhas amigas em festas chiques no Leblon, depois mostravam a faculdade de medicina mais conceituada do estado e contavam como eu e Cayo havíamos nos conhecido... De como o jovem Cayo Arvellos havia me seduzido...

Cinco por cento do que mostravam na tv era verdade. Os outros 95 eram apenas o que o público queria e ou precisava ouvir. A verdade, é que a gente se amava e ponto. Duas pessoas normais que tinham o mesmo círculos de amigos, dois brancos, héteros, ricos, o que poderia dar errado? Tudo. Porque me olhando daqui... éramos dois vermes narcisistas nos arrastando sobre a sociedade causando fungos nas pessoas, nos alimentando das suas dores cotidianas e sociais, impulsionados pela ideologia que a casta da alta classe sempre fermentou em nossas mentes – nos sentíamos acima de tudo e de todos. Éramos donos do mundo. E eu, tinha orgulho de ser uma menina má.

As terapias sempre tentam me mostrar que eu - a vítima, não tenho culpa pelo que aconteceu. Eu sei disso. Nós não somos culpadas. Mas no meu caso, eu merecia toda essa dor... na verdade eu mereço sofrer. Mereço o desamor. Afinal de contas, eu sou um imã para caras assim: que amam e depois odeiam. Presenteiam e depois batem. Protegem e depois... Enfim, por mais que eu tente sair dessa rede sou tragada com mais força, ou, os homens são assim... psicopatas com flores nas mãos? É exatamente por isso que não pretendo, nunca mais, me apaixonar novamente.

Eu e minha mãe, esperamos alguns meses aqui no Rio de Janeiro enquanto meu pai preparava o "terreno" para nós no interior. Eu havia trancado a faculdade de Medicina quando toda essa merda aconteceu, mas agora, achei que estava pronta para terminar o curso e me formar.

Terapias ajudam, sabia? Elas maquiam os seus medos, enfiando eles para dentro e te fazendo guardá-los numa caixinha – no quarto dos pesadelos – e sua missão é tentar deixar cada pânico, depressão, medo e ansiedade trancados ali.

— Já estamos chegando? - perguntei pele milésima vez durante a viagem depois que desembarcamos no aeroporto enquanto o carro seguia avenidas infinitas até o nosso destino.

Lauren, revirou os olhos azuis.

— Aproveite a viagem querida... admire os pastos ás margens da estrada... – ela falou olhando pela janela do carro. – Nunca vi tanto verde na minha vida, isso é revigorante!

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